segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Regras básicas para Grupos de Relacionamentos

Desligar os celulares.
Todos sem exceção, a não ser que o membro do GR tenha alguma profissão que não possa ficar off em nenhum momento.
Confidencialidade.
O que é dito no grupo permanece no grupo. Ninguém quer descobrir que ele ou ela foi alvo de fofocas ou de "discussões de oração" bem-intencionadas. Essa é provavelmente a regra básica mais importante de todas.
Começar na hora - e terminar na hora. 
Caberá a você, como líder, guiar o grupo a cumprir esse compromisso. É especialmente útil para aqueles que têm filhos em casa e aqueles com horários de trabalho afetados por madrugadas ou reuniões que ocorrem.
Envolver a todos.
Para fazer isso funcionar, todos precisam participar como ouvinte e como orador. Deve-se entender que, quando uma pessoa monopoliza a discussão, o líder pode dizer: "Vamos ouvir de outra pessoa agora". Então, quando outra pessoa escuta há muito tempo, o líder pode perguntar: "Maria, você tem alguma coisa que você gostaria de compartilhar? "
Lembrar-se das boas maneiras. 
Evite descartar os pensamentos dos outros, não ria dos outros quando eles compartilharem (a menos que tenham acabado de contar uma piada), e sem nenhum tipo de adulação. Essas são as ações que fazem com que outras pessoas "desliguem" e se sintam desconfortáveis com o compartilhamento. A abertura pode ser bastante difícil para algumas pessoas como ela é. Seu Grupo de Relacionamentos deve ser um lugar acolhedor para todos.
Concordar em discordar.
É apenas um fato da vida que todos têm opiniões diferentes. Se o grupo tiver opiniões diferentes sobre um assunto, não há exigência de que todos concordem. Após um tempo razoável de discussão, o líder ou outro membro do grupo pode declarar que é hora de deixar esse ponto sem solução e passar para outra atividade ou questão de discussão. Ninguém deve ferir seus sentimentos se os outros não compartilharem as mesmas opiniões.

Os Frutos do Sofrimento

O apóstolo Paulo assinala a perseverança, como um caráter testado e a virtude da esperança como chave para os frutos que são desenvolvidos quando um cristão filho de Deus é capaz de se alegrar nas dificuldades.

‘Não só isso, mas nos gloriamos até das tribulações. Pois sabemos que a tribulação produz a paciência, a paciência prova a fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança. E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado’. (Rm 5, 3–5) Com as estruturas em muitas sociedades desmoronando, há uma grande necessidade que se mostre em suas vidas as virtudes dos filhos de Deus.

Se olharmos para aqueles que perseveraram em Deus, veremos que eles passaram por sofrimentos por amor ao evangelho e às vezes temos vergonha em sermos tachados como cristãos, quando aqueles antes de nós perderam a vida por amor à esse Evangelho.

Minha oração nesta manhã é que Ele me ensine a me alegrar no sofrimento e que eu não sofra por coisas banais, mas pelo reino.

Não importam as minhas dores, tudo é por Ele e para Ele. Ele é o centro. Estamos sofrendo na grande maioria das vezes com dores por causa do nosso ego, nossa dificuldade de relacionar. Ah se aprendêssemos a ama-lo acima de todas as coisas, conseguiríamos ser felizes até no sofrimento.

‘Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada. Por isso, a criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus‘. AA


O sofrimento que gera frutos

Por: Thalita Fernanda

“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” Romanos 5:1-5

Jesus sofreu primeiro e, sendo Ele o caminho, se desejamos percorrer pelas mesmas ruas do viver que Ele percorreu, sofreremos também. Talvez mais do que precisamos, se nossas escolhas forem erradas, mas não existe jeito de fugir da tribulação. O cristão passa pelo sofrimento também e diferente do que o presente século ensina, sofrer faz parte da cruz do discípulo. O sofrimento gera resistência, força, e vida. Vamos dar uma olhada mais profunda no que Paulo disse em Romanos 5:

1. A tribulação produz paciência.
“Tribulação”, segundo o dicionário Priberam, significa:
1. Aflição, adversidade.
2. Perseguição.
3. Desassossego.
4. Trabalho.
5. Angústia.

Se estamos em aflição ou angústia, é porque não podemos fazer muito em relação àquilo que tem nos tirado o sono, pois se pudéssemos, já teríamos resolvido. Logo, nos tornamos totalmente dependentes de Deus – Se Ele não nos der uma direção, não saberemos pra onde ir. Se Ele não fizer nada, nossa situação não mudará. Se Ele não intervir, estaremos perdidos… logo, o que podemos fazer é entregar o que nos aflige nas mãos dEle e deixá-Lo agir. Essa espera é fácil? Não é. Pode ser uma tortura e tanto pra nossa carne, pra ser sincera, mas depois de um tempo ela gera paciência nos nossos corações: obrigados a esperar, se subjugarmos nossa carne suficientemente, aprenderemos a ser pacientes.

2. A paciência produz experiência

Quando esperamos em Deus, Ele vem ao nosso encontro.

“Na verdade, não serão confundidos os que esperam em Ti.” Salmos 25:3

“Mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão.” Isaías 40:31

Essa é uma promessa que Ele nos fez, e a cumpre. A questão é que muitas vezes não conseguimos esperar o tempo de Deus pra mudar a nossa situação, e entramos em desespero, colocamos os pés entre as mãos, tentamos fazer as coisas acontecerem do nosso jeito. Mas quando esperamos, Ele vem. Ah, se vem. Vem e nos renova, vem e transforma (seja nosso interior ou o que tá acontecendo do lado de fora), vem e faz tudo novo. Depois de algum tempo vivendo isso, experimentando a fidelidade dEle, quando as lutas chegam finalmente conseguimos nos manter mais calmos, pois temos experiência pra saber que Ele é bom e nos socorre, que Ele é fiel e que o sofrimento não dura para sempre. Afinal, o choro dura uma noite, mas a alegria vem pela manhã (Salmos 30:5) – e a manhã é quando Ele chega e muda tudo, com a Sua luz inabalável.

3. A experiência produz esperança
Acho que agora as coisas ficaram mais claras, né? Depois de um tempo vivendo com Deus e experimentando Seu Amor e socorro, como já dito, temos esperança no nosso coração, pois sabemos que Ele não nos abandona. Sabemos que Ele nos ajuda, que Ele trabalha em nosso favor. Temos esperança no nosso Pai, no nosso Papai querido e amado.

4.  E a esperança não traz confusão, porquanto o Amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.

Aqui vejo Paulo dizendo claramente: “Deus nos ama. Ele não colocaria esperança no nosso coração para nos enganar e decepcionar. Ele é fiel”. A esperança (aquela colocada em nosso corações por Deus, não pelos nossos desejos e expectativas carnais) não traz confusão. Ele é bom, e trará à realidade renovo, descanso e novidade pras nossas vidas.

Então hoje eu quero te encorajar a continuar prosseguindo. Continue andando com Deus, continue sendo submerso na presença dEle. Ele é um Pai fiel.
Isso não é masoquismo: nós simplesmente precisamos passar por sofrimentos. Nós precisamos passar por aflições. Jesus ganhou um trono ao lado direito do Pai e um Nome que é sobre todo nome depois da cruz. Ele foi glorificado após o Seu sofrimento. Logo, se desejamos ver a glória de Deus em nossas vidas, passaremos sim por tristezas. E vou além: se realmente queremos morar na Eternidade, podemos esquecer a ilusão de que a vida Cristã é toda composta de flores e sorrisos. Precisamos crescer como crentes, amadurecer, nos fortalecer e nos tornar parecidos com Jesus para ficarmos com Ele pra sempre, e isso não acontece na zona de conforto, onde tudo é alegre e bonito.

“Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: por amor de Ti somos entregues à morte todo o dia; somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por Aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do Amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” Romanos 8:35-39

Por amor dEle somos entregues à morte todos os dias – nós precisamos morrer pra nós mesmos, todos os dias, pra que Ele viva em nós e brilhe através de nós. Não existe atalho na vida Cristã, porém uma promessa real, na qual podemos confiar:

“Venham, voltemos para o Senhor. Ele nos despedaçou, mas nos trará cura; Ele nos feriu, mas sarará nossas feridas. Depois de dois dias Ele nos dará vida novamente; ao terceiro dia nos restaurará, para que vivamos em Sua presença. Conheçamos o Senhor; esforcemo-nos por conhecê-Lo. Tão certo como nasce o sol, Ele aparecerá; virá para nós como as chuvas de inverno, como as chuvas de primavera que regam a terra.” Oséias 6:1-3

Ele nos ama, por isso nos aceita como somos. Mas nos ama demais para nos deixar da mesma forma. Por isso abrace o processo, pois o sofrimento que você está sentindo não pode se comparar à alegria que está chegando (Romanos 8:18).

– Extraído do site de Thalita Cumi

domingo, 29 de setembro de 2019

A Justiça vem de Deus

Por Ariovaldo Ramos

Justiça não é mais uma relação de poder entre fortes e fracos, entre vencedores e vencidos, mas uma demanda de Deus. 
 
Ele exige justiça, que os enfraquecidos sejam tratados com decência, que não haja pobreza, que haja libertação econômica, social e política. 
 
A justiça nasce no coração de Deus e é introduzida na história humana pelos profetas hebreus, como um dado “transcendente” e não como uma conclusão imanente, ou seja, não foram os seres humanos -- pensando sobre si, sobre a história, sobre a sociedade -- que chegaram, pura e simplesmente, à noção de igualdade, de justiça, de que não pode haver pobres, etc.
 
A visão trazida pelos profetas é que há uma demanda da parte de Deus por igualdade entre os seres humanos, por dignidade para todos os seres humanos, pelo fim da pobreza, pelo respeito ao diferente, pelo abrigo ao estrangeiro, pela noção de direito humano. 
 
Isso vem diretamente de Deus e está espalhado por todo o Antigo Testamento, desde a Lei de Moisés, reforçada pelo profetismo hebraico, que, na verdade, é um trabalho de recuperação do espírito da Lei de Moisés, que clama por justiça.  
 

sábado, 28 de setembro de 2019

Paulo e a Liberdade de Deus...

Meus irmãos, eu, Paulo, declaro que no que diz respeito aos meus compatriotas, os judeus, que o bom desejo do meu coração e a minha súplica a Deus em favor deles é para sua salvação.

Porque eu mesmo tenho que dar o testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém sem nenhum entendimento.

Ora, isto se tornou assim por uma simples razão, a saber: eles, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua justiça própria, não se sujeitaram à justiça de Deus: Cristo!

Portanto, enquanto não tomarem essa decisão em fé—digo: de desistirem de ter justiça própria—, não compreenderão que o fim da lei é Cristo, para a justifica de todo aquele que crê.

Ora, é a Lei que anula apropria Lei como caminho de salvação!

Isto porque Moisés escreveu que o homem que pratica a justiça que vem da Lei viverá por ela. Nesse caso, a salvação se daria pela possibilidade de alguém conseguir obedecer toda a Lei, a subjetiva e a objetiva. Até onde me consta esse homem ainda não existiu.

Mas é o próprio Moisés, em uma outra passagem, quem afirma que a justiça que vem da fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, como para trazer do alto a Cristo, e fazê-lo Encarnar-se entre nós); ou ainda: Quem descerá ao abismo? (isto é, para fazer subir a Cristo dentre os mortos, dando alguma contribuição para a ressurreição).

De fato, a pergunta então é: que diz então?

Ora, diz-se o seguinte:

A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos.

Não há álibis e nem desculpa.

A Palavra está mais próxima do que nunca. Porque, se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo; pois é com o coração que se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.

E quando é assim, a própria Escritura confirma, quando diz: Ninguém que nele crê será confundido.

Aqui acaba-se também toda arrogância espiritual. Porquanto não há distinção entre judeu e grego; porque o mesmo Senhor é de todos, e rico para com todos os que o invocam.

E isto é assim porque a Palavra de Deus assim testifica: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.

Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue? e como pregarão, se não forem enviados?

Assim como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam coisas boas!

Ora, será que agora Deus ficou na mão do homem e de sua disposição de levar a Boa Nova aos homens?

Não! afinal, nem todos deram ouvidos ao evangelho; pois, Isaías diz: Senhor, quem deu crédito à nossa mensagem?

Assim a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo. Mas Deus não está preso nem mesmo dentro da Escritura. Ele é livre para para falar de Si mesmo. Ele fala coerentemente com aquilo que Ele revelou de Si mesmo, conforme a Escritura, porém, Ele permite interpretar a Si mesmo para quem quer que seja.

Mas eu pergunto: Porventura, tendo ficado limitado pelos humores dos que deveriam pregar a Boa Nova e não a pregam como tal, significa dizer que Deus ficou sem testemunho?

Não ouviram?
Não lhes chegou aos ouvidos do coração a palavra do testemunho?

Sim, por certo que Ele não ficou sem testemunho!

Porque está escrito:

Por toda a terra se fez ouvir a Voz dele, e as Suas palavras até os confins do mundo.

Assim, o próprio salmo 19 testifica que nos silêncios das noites e sob o testemunho de céus estrelado, Deus fala com os homens em todos os lugares.

Deus fala mesmo quando os homens não abrem a boca ou não estão ouvindo com os ouvidos sensoriais alguma voz.

Mas pergunto ainda: Porventura Israel não o soube disso?

É claro que soube.

Isto porque primeiro vem Moisés e diz:
Eu vos porei em ciúmes com um povo que não é povo, com um povo insensato vos provocarei à ira.

E Isaías ousou dizer, concluindo acerca de Israel, que "o povo de Deus" soube que Deus era livre, mas que tentou a “proteger” a revelação; e não entendeu até o dia de hoje que Deus também dizia:

Fui achado pelos que não me buscavam, manifestei-me aos que por mim não perguntavam.

Quanto a Israel, porém, diz:

Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.

Infelizmente é assim:

Os que detém a revelação ficam donos de Letras, mas nunca herdam a verdadeira vida acerca do que já está escrito.

Desse modo, conclui-se que Pregar a Boa Nova é um privilégio. Ma o grande jubilo é associarmos a nossa voz a toda a Criação. Desse modo, a Palavra de Deus não está “togada”, e sua informação não está disponível como "direito legal".

Nesse caso, em anunciando-se as Boas Novas, participa-se apenas da Total Liberdade de Deus de se revelar a quem quer, e como Aquele que simplesmente fala, e trás pra si mesmo os filhos que vivem em “terras distantes” da geografia da religião.


Caio, em livre parceria com o irmão Paulo

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Fôlego - Arrais


Queria os acompanhar até o fim
Mas Deus é quem vai adiante de ti
Queria ver o rio se abrindo como o mar
E nossos filhos chamando essa terra de lar
Mas eu cantarei de sua justiça
Com o fôlego que ainda me resta

O Senhor tem sido nossa morada em cada geração
Mesmo antes de nascerem os montes feitos por suas mãos
Ele é a rocha, justiça
Ele é a rocha, ferida

Que essas palavras enxáguem o chão
E o pó do deserto em seu coração
O pó que agora será meu leito e cobertor
Até o dia da retribuição do senhor
E até La eu canto da justiça
Com o fôlego que ainda me resta

O Senhor tem sido nossa morada em cada geração
Mesmo antes de nascerem os montes feitos por suas mãos
Ele é a rocha, justiça
Ele é a rocha, ferida

O Senhor tem sido nossa morada em cada geração
Mesmo antes de nascerem os montes feitos por suas mãos
Ele é a rocha, justiça
Ele é a rocha, ferida


Justiça de Deus

Justiça de Deus
Daniel Souza

Em ti fomos feitos justiça
Justiça de Deus em ti senhor Jesus
Em ti fomos feitos justiça
Justiça de Deus em ti senhor Jesus
Aquele que não conheceu pecado
Ele o fez pecado por nós
Para que nele fôssemos feitos justiça de Deus
Como sacrifício em cheiro suave
Te oferecestes por nós ao pai
Para que em ti fôssemos feitos justiça de Deus
O castigo que nos traz a paz
Cristo levou sobre si
Para que nele fôssemos feitos justiça de Deus

Sol da Justiça - Diante do Trono



Tu me dás valor quando estou vazio
O Teu amor, Tua graça transborda
O meu coração se cura ao ouvir
Tua Voz
Meu Consolador és minha alegria
Se fraco estou,
Tua força é minha vida
Meu tudo é Teu, só vivo por
Ti, meu Redentor
E eu serei oferta suave a Ti
E eu serei o louvor que
Tu desejas
Eu canto: "Santo"
Eu canto: "Digno"
E não há outro igual a Ti
Meu Resgatador em meio aos fracassos
Libertador, me fazes ser livre
Só vivo pra ser um testemunho do
Teu amor
E eu serei oferta suave a Ti
E eu serei o louvor que
Tu desejas

Poder e sucesso, justiça e santidade

Por Jung Mo Sung

A nossa esperança e o nosso testemunho não podem ser fundados na fé em Deus-poder ou na divinização de alguma pessoa, grupo social ou instituição. A fé cristã nos apresenta um caminho inverso: ao invés da divinização de um ser humano muito poderoso ou de alguma instituição social (como o mercado) ou religiosa – proposta sedutora de muitas religiões e ideologias sociais –, o Evangelho de Jesus nos propõe um Deus que se esvazia do seu poder divino para entrar na história como escravo, e como escravo se assemelhar ao humano (Filipenses 2.6,7).

Deus se revela no esvaziamento do poder para mostrar que o poder e o sucesso não são sinônimos da justiça e da santidade. Pessoas ou igrejas que se consideram justas e santas porque são ricas e/ou poderosas ou porque têm muito ibope não conhecem a verdade sobre Deus e sobre o ser humano. Não é a riqueza que lhes dá dignidade e justifica a sua existência; a nossa existência está justificada e nós somos dignos antes da riqueza, poder ou sucesso, pois nós somos justificados pela graça de Deus que se esvaziou do poder porque ama gratuitamente a toda a humanidade e a toda a criação.

Essa fé e esperança podem ser experienciadas quando perseveramos na nossa opção pelos pobres e por uma Igreja mais servidora do Povo de Deus, mesmo quando a contabilidade de nossa luta e a frustração pessoal nos diz que não há mais por que esperar. No momento em perseveramos somente porque amamos é que podemos testemunhar esta esperança que é a esperança cristã, que nasce da morte na cruz de um Deus encarnado.

______________
Jung Mo Sung é professor no Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo e concentra suas pesquisas na relação entre teologia/religião – economia – educação.

Justiça de Deus

Deus é Justo e importa que seus atributos sejam preservados. Obviamente não há nada que possamos fazer para cooperar para a sua preservação, tendo em vista que Ele se basta em Si mesmo por quem Ele É, o Deus perfeito, bem como tudo o que temos em nossas mãos veio Dele e tudo volta para Ele, portanto Ele é a fonte inesgotável e totalmente perfeita em sua eterna existência.
Porém, mesmo sendo um Deus que se basta em Si mesmo, Ele não é um Deus indiferente as questões que permeiam o coração humano, bem como se importa com a dor do homem, por isso se faz conhecida à Sua justiça na revelação de quem Ele É, Deus Emanuel, Deus Conosco (Mateus 1.23), Deus que se misturou, se revelou e atraiu para si mesmo os corações até então afastados do seu amor.
A justiça de Deus está revelada pela vida do Filho Amado Jesus e é conhecida no evangelho: “Visto que a justiça de Deus se revela no Evangelho…” – Romanos 1.17.
A justiça de Deus é contemplada completamente em Ele mesmo ter enviado o Seu Filho e o Filho ter se entregue como sacrifício pelo pecado de toda a história.

A Justiça de Deus …

A justiça de Deus é conhecida assim, exemplificada nas versões bíblicas de estudo: O único homem, Jesus, completamente justo, tomou sobre si nosso pecado e suportou o castigo que merecíamos. Dessa forma nos outorgou sua justiça e, por intermédio dela, a plena reconciliação com Deus:
“Portanto, vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se tornou para nós sabedoria da parte de Deus, justiça, santificação e redenção” – 1ª Coríntios 1.30.
O justo é aquele que não deve nada para a lei e por estar nessa condição tem o direito e poder para pagar o preço que for necessário para a libertação.
Não havia um justo sequer que com a autoridade devida que pudesse consumar o preço da salvação reconciliatória, por isso foi necessário à obra da expiação de Jesus. Ele era alguém com as condições, com sangue puro e fielmente justo para reverter à condição de morte imposta pelo pecado.
Deus Justo sabia que havia uma consequência grave pelo pecado e por ser justo Ele não poderia simplesmente esquecê-la, mas alguém teria de ser sentenciado para remissão e o Amor se encarnou para fazê-lo porque apesar da sua justiça, Ele é Amor e isso não é uma virtude, isso É uma condição Dele mesmo e nada pode mudar essa verdade, por isso…
“Deus fez daquele que não tinha pecado algum a oferta por todos os nossos pecados, a fim de que nele nos tornássemos justiça de Deus” – 2ª Coríntios 5.21.
Onde está a Justiça de Deus

Onde está a justiça de Deus? Em ter enviado o Seu Filho Amado para justificar a muitos e pegar o preço consequente do crime cometido.
A justiça é revelada nessa obra: Sua virtude imutável, seu amor leal em entender ser a única alternativa aceita como oferta e se oferecer para tal. Nós o louvaremos conforme a Sua justiça? Portanto, louvemos eternamente. (Extraído do site Projeto Gospel)

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

A justiça de Deus se revela no evangelho

Aretha Carla - Professora do Rhema Brasil
O verdadeiro evangelho proclama a realidade da justificação. O apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos diz: “visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: o justo viverá por fé”. (Romanos 1.17)
O evangelho proclama que somos justos. Não fizemos nada para alcançar esta justiça. Ela é dom de Deus e a recebemos pela fé. Não há obra que nos torne mais dignos, mais justos, mais merecedores…
TUDO o que somos agora foi por causa do que JESUS fez. A obra perfeita já foi realizada por Ele.
O evangelho proclama que todo aquele que recebeu a abundância da graça e o dom da justiça reina em vida através de Cristo Jesus. Essa é a nossa realidade!
Veja o que diz Romanos 5.17: Se pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo.”
Precisamos ter a consciência de que “um presente não se compra”. Justiça é um presente, é um dom e também não se vende, nem se compra. Quando fazemos algo para Deus, qualquer “obra”, não fazemos para “comprar” justiça. Fazemos porque JÁ somos justos!
Muitas pessoas pensam que podem crescer em justiça. Mas, a única coisa que podemos fazer é crescer no entendimento do que ser justiça de Deus significa. O sangue de Cristo JÁ nos libertou. Acredite: o sangue PERFEITO já funcionou! Ele nos justificou.
Foi para isso que nós nascemos de novo: para ter uma nova natureza. Se nascemos de novo, nascemos com outra natureza e não com a antiga! Por isso, é um NOVO nascimento! Agora temos a natureza de Deus, estamos reconciliados com Ele e temos paz. (Romanos 5.1)
Vamos considerar o que significa não ter mais culpa. Fomos declarados: – INOCENTES! Jesus pagou a nossa dívida e isto é maravilhoso demais! O verdadeiro amor lançou fora todo o medo. Agora podemos nos achegar com confiança diante do trono da graça porque não somos mais pecadores. O pecado não é mais a nossa natureza. Vamos celebrar a nova vida, somos justos, herdeiros com Cristo, filhos de Deus, Sua família!
 Aquele que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós; para que n’Ele, fôssemos feitos justiça de Deus” (II Coríntios 5.21)

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Justiça se faz com amor!

“Quando eu falo da pobreza todos me chamam de cristão, mas quando eu falo das causas da pobreza me chamam de comunista. Quando eu falo que os ricos devem ajudar os pobres me chamam de santo. Mas quando eu falo que os pobres têm que lutar pelos seus direitos, me chamam de subversivo”.
Estas palavras de Dom Hélder Câmara retratam ainda hoje a opinião de muita gente. Mas atribuir a luta pelos direitos dos pobres e o engajamento pela justiça social aos ideários ideológicos da esquerda implica desonestidade intelectual, ignorância ou má fé.
Sendo verdadeiro que praticar a justiça é dar a alguém o que lhe é de direito, precisamos nos perguntar de onde vem o direito humano de ter direitos. A resposta da tradição judaico-cristã se encontra já na primeira página da Bíblia Sagrada: “criou Deus o homem à sua imagem e semelhança” [Gênesis 1.26,27].
A tradição rabínica ensina que, ao criar um só homem, Deus criou todos os homens. Em cada ser humano está toda a raça humana. A noção da igualdade intrínseca entre todos os seres humanos é a base de sustentação de todos os direitos humanos. Todo mundo tem direito a ter direito. O direito de um ser humano é direito de todos os seres humanos.
Portadora da imago Dei, a vida humana tem valor divino, e, justamente por isso, Deus é seu maior guardião: “Quem derramar sangue do homem, pelo homem seu sangue será derramado; porque à imagem de Deus foi o homem criado” [Gênesis 9.5,6].
A justiça, nos termos de equidade entre todos os seres humanos, é usada para afirmar a identidade de Deus e apresentá-lo a Israel. Timothy Keller enxergou que “o Deus da Bíblia se diferenciou dos deuses de todas as outras nações como um Deus que defende os fracos e faz justiça aos pobres”: “Pois o Senhor, o seu Deus, é o Deus dos deuses e o Soberano dos soberanos, o grande Deus, poderoso e temível [...] que defende a causa do órfão e da viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe alimento e roupa” [Deuteronômio 10.17-19], e também: “Ele defende a causa dos oprimidos e dá alimento aos famintos. O Senhor liberta os presos, o Senhor dá vista aos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos” [Salmo 146.7,8].
A justiça social é expressão cúltica e devocional requerida por Deus: “O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo?” [Isaías 58.6,7].
A justiça social é marca distintiva dos justos de Deus: "Suponhamos que haja um certo justo que faz o que é certo e direito [...] Ele não oprime a ninguém, mas devolve o que tomou como garantia num empréstimo. Não comete roubos, mas dá a comida aos famintos e fornece roupas para os despidos. Ele não empresta visando lucro nem cobra juros. Ele retém a sua mão para não cometer erro e julga com justiça entre dois homens [...] Aquele homem é justo” [Ezequiel 18.5-9]. Jó foi apresentado na Bíblia não apenas como um homem bom, mas como justo (tzadik), que praticava a justiça (tzedaká).
A justiça social é critério para o julgamento das sociedades e das nações: “Ora, este foi o pecado de sua irmã Sodoma: Ela e suas filhas eram arrogantes, tinham fartura de comida e viviam despreocupadas; não ajudavam os pobres e os necessitados” [Ezequiel 16.49]. Também Jesus sublinhou a justiça social como régua para juízo: “Eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e nada me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês não me acolheram; necessitei de roupas, e vocês não me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês não me visitaram” [Mateus 25.31-46].
O cuidado dos órfãos, das viúvas, dos pobres e dos estrangeiros, isto é, pessoas em situação de vulnerabilidade, não é opcional diante de Deus: “Assim diz o Senhor: Administrem a justiça e o direito: livrem o explorado das mãos do opressor. Não oprimam nem maltratem o estrangeiro, o órfão ou a viúva; nem derramem sangue inocente neste lugar” [Jeremias 22.3].
Jesus era herdeiro da tradição de Israel, e seus ensinos e práticas foram coerentes com a noção de justiça da Lei e dos Profetas. A referência profética que escolheu como porta de entrada para seu ministério público deixou absolutamente clara sua agenda de solidariedade divina com o pobre, oprimido e sofredor: “O Espírito do Senhor está sobre mim porque o Senhor ungiu-me para levar boas notícias aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros, para proclamar o ano da bondade do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que andam tristes, e dar a todos os que choram em Sião uma bela coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido. Eles serão chamados carvalhos de justiça, plantio do Senhor, para manifestação da sua glória” [Isaías 61.1-3]. Digno de nota é o fato de que, ao ler a profecia de Isaías na Sinagoga de Nazaré, Jesus omite a expressão “o dia da vingança”. Seguir a Jesus implica dizer sim para a justiça que se faz com amor. (Ed Rene)

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Pode ferir seu senso de JUSTIÇA, mas ajuda a entender o que é Generosidade!

O Reino de Deus é como o administrador de uma propriedade rural que saiu bem cedo de manhã a fim de contratar pessoas para trabalhar em sua vinha. Eles concordaram em receber uma moeda de prata por dia, e foram trabalhar.
Mais tarde, por volta das nove da manhã, o administrador viu alguns desempregados andando pela praça da cidade. Ele lhes propôs que fossem trabalhar em sua vinha a um preço justo. E assim foram.
O administrador fez o mesmo por volta do meio-dia e de novo às três da tarde. Às cinco horas, ele saiu e ainda encontrou homens desocupados. E perguntou a eles: “Por que estão aí o dia inteiro, sem fazer nada?”.
Eles responderam: “Porque ninguém nos contratou”.
Então, ele os contratou também para trabalhar na vinha.
Quando o expediente terminou, o proprietário da vinha instruiu seu capataz: “Chame os trabalhadores e pague o salário deles. Comece com os que foram contratados por último e prossiga até os primeiros”.

Os que foram contratados às cinco horas da tarde vieram e cada um deles recebeu o mesmo valor acertado com os primeiros. Quando os que foram contratados primeiro viram isso, imaginaram que iriam ganhar mais. Contudo, receberam o mesmo valor. Revoltados, reclamaram com o administrador: “O último grupo trabalhou apenas uma hora, e você pagou a eles o mesmo que nós, que trabalhamos como escravos o dia inteiro debaixo de um sol escaldante”.
Ele respondeu ao que falava em nome de todos: “Amigo, não fui injusto. Nós concordamos com esse valor, não concordamos? Então, pegue seu dinheiro e vá embora. Decidi dar ao último grupo o mesmo que daria a você. Será que não posso fazer o que quero com meu dinheiro? Você vai se mostrar mesquinho por eu ter sido generoso?”.
Aí está, mais uma vez, a grande inversão: os primeiros terminando por último, e os últimos terminando primeiro.
[Parábola de Jesus, Evangelho Segundo São Mateus, 20.1-16]

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

A Revelação da Justiça de Deus


por
John Stott

Comentário Sobre Romanos 3:21-26


Todos os seres humanos, de todas as raças e classes sociais, de todos os credos e culturas, tanto judeus como gentios, imorais e moralistas, religiosos e ateus - todos, sem exceção, são pecadores, culpados, indesculpáveis e sem defesa diante de Deus! Eis o quadro terrível e desolador com que Paulo descreve a situação da raça humana em Romanos 1.18 - 3.20. Sem um raiozinho de luz, nenhuma fagulha de esperança, sem a mínima perspectiva de socorro.
"Mas agora" - Paulo interrompe de súbito - o próprio Deus interveio. "Agora" parece ser uma referência marcada por três dimensões: uma lógica (a elaboração do argumento), uma cronológica (o momento presente) e outra escatológica (chegou um novo tempo). [1] Depois da longa e escura noite, raiou o sol, amanhece um novo dia e o mundo é inundado de luz. "Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, independente da lei..." (21a). É uma revelação totalmente nova, centralizada em Cristo e Sua cruz, se bem que dela "testemunham a Lei e os Profetas" (21b) em previsões e prefigurações parciais. E assim Paulo contrasta a injustiça de uns e a auto-justificação de outros com a justiça de Deus. Em contraposição à ira de Deus sobre quem pratica o mal (1.18; 2.5; 3.5) ele anuncia a graça de Deus, que envolve os pecadores que crêem. Diante do julgamento, apresenta-nos a justificação.
Paulo começa retratando a revelação da justiça de Deus na cruz de Cristo e lançando os alicerces para o evangelho da justificação (3.21-26). Em seguida defende o seu evangelho contra as críticas dos judeus (3.27-31). E finalmente, ilustra-o através da vida de Abraão, que foi, ele mesmo, justificado pela fé, tornando-se assim o pai espiritual de todos os que crêem (4.1-25).

a. A justiça de Deus se revela na cruz de Cristo (3.21-26)

Os versículos 21-26 constituem um bloco firmemente compactado, que o professor Cranfield acertadamente chama de "o centro e o cerne" do todo que constitui a parte principal da carta; [2] já o Dr. Leon Morris diz que eles seriam "possivelmente o parágrafo mais importante que jamais se escreveu". [3] A sua expressão-chave é "a justiça de Deus", expressão já considerada por nós quando ela ocorreu a primeira vez, em 1.17. Aqui, em 3.21, a tradução da NVI refere-se a uma justiça que provém de Deus, frisando dessa maneira a iniciativa salvadora que ele tomou a fim de conceder aos pecadores a condição de justos aos seus olhos. Os dois versículos (1.17 e 3.21) dizem que essa justiça foi "revelada" ou "manifestada". Os dois a apresentam como algo inovador, ao dizerem que ela se dá a conhecer ou "no evangelho" (1.17) ou independente da lei (3.21). Ambos, no entanto, a representam como um cumprimento das escrituras do Antigo Testamento, o que demonstra que não se trata de uma elaboração posterior da parte de Deus. E dos dois afirma que podemos ter acesso a ela pela fé. A única diferença significativa entre estes dois textos está no tempo em que são usados os verbos principais. De acordo com 3.21, uma justiça de Deus se manifestou, no pretérito perfeito, uma provável referência à morte histórica de Cristo e suas conseqüências, válidas até hoje, enquanto que em 1.17 a justiça de Deus é revelada (tempo presente) no evangelho, o que deve significar toda vez que ele é pregado.
No versículo 22 Paulo volta a anunciar o evangelho, repetindo a expressão justiça de Deus, e agora acrescenta mais duas verdades a seu respeito. A primeira é que ela vem mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que crêem. Além disso, ela é oferecida para todos porque todos têm necessidade dela. Não há distinção entre judeus e gentios nesse aspecto (conforme Paulo vem argumentando nos versículos 1.18 - 3.20) ou entre qualquer outro grupo humano, pois todos pecaram (hemarton - o passado cumulativo de todo mundo é resumido aqui pelo uso do tempo aoristo) e estão destituídos (um presente contínuo) da glória de Deus (230. Essa "glória" (doxa) de Deus poderia significar Sua aprovação ou louvor, que todos perderam; [4] o mais provável, porém, é que seja uma referência à imagem ou glória de Deus, segundo a qual todos nós fomos criados [5] as deixamos de viver de conformidade com ela. É claro que o pecado pode manifestar-se em diferentes níveis e dimensões; mas ainda assim ninguém chega sequer a aproximar-se dos padrões de Deus. Handley Moule expressa isso de maneira dramática: "A prostituta, o mentiroso e o assassino estão destituídos dela [da glória de Deus]; mas você também está. Pode ser que eles estejam no fundo de uma mina e você no cume da montanha; no entanto, tem tanta capacidade quanto eles de encostar nas estrelas". [6]
A segunda inovação contida nestes versículos é que agora, pela primeira vez, "uma justiça que provém de Deus" é identificada com a justificação: sendo justificados gratuitamente por sua graça...(24a). A justiça de (ou que provém de) Deus é uma combinação de três elementos: o caráter justo de Deus, a Sua iniciativa salvadora e a Sua dádiva, que consiste em conferir ao pecador a condição de justo perante Ele. Trata-se de Sua justificação justa do injusto, a maneira justa como Ele "justifica o injusto".
Justificação é um termo legal ou jurídico, extraído da linguagem forense. O contrário de justificação é condenação. Os dois são pronunciamentos de um juiz. Dentro do contexto cristão eles são os veredictos escatológicos alternativos que Deus, como juiz, poderá anunciar no dia do juízo. Portanto, quando Deus justifica os pecadores hoje, está antecipando o Seu próprio julgamento final, trazendo até o presente o que de fato faz parte dos "últimos dias".
Alguns estudiosos sustentam que "justificação" e "perdão" são sinônimos. Por exemplo, Sandlay e Headlam escreveram que justificação é "simplesmente Perdão, Perdão Gratuito"; [7] já o professor Jeremias, mais recentemente, insiste em dizer que "justificação é perdão, nada mais que perdão". [8] Mas isso com certeza não pode ser verdade. Perdão é algo negativo, é a absolvição de uma penalidade ou uma dívida; justificação tem conotação positiva - é declarar que alguém é justo, é dar ao pecador o direito de desfrutar novamente o favor e a comunhão de Deus. Marcus Loane escreveu: "A voz que anuncia perdão dirá: 'Pode ir. Você está livre da pena que o seu pecado merece.' Mas o veredicto que significa aceitação [sc. justificação] dirá: 'Pode vir. Você é bem-vindo para desfrutar todo o meu amor e a minha presença'". [9] C.H. Hodge esclarece com mais profundidade essa diferença ao elaborar a antítese entre condenação e justificação: "Condenar não é meramente punir, mas sim declara o acusado culpado ou digno de castigo; e justificação não é meramente liberar desse castigo, mas declarar que o castigo não pode ser aplicado com justiça...Perdão e justificação são, portanto, essencialmente distintos. O primeiro é a absolvição do castigo, o outro é uma declaração de que não existe nenhuma base para a aplicação do castigo".[10]
Se justificar não é o mesmo que perdoar ou desculpar, tampouco é o mesmo que santificar. Justificar é considerar ou declarar justa uma pessoa, e não torná-la justa. Este foi um ponto essencial no debate que se deu no século XVI com respeito à justificação. A posição católico-romana, conforme expressa no Concílio de Trento (1545-64), era que a justificação se dá no batismo e que a pessoa batizada, além de ser purificada dos seus pecados, recebe também, simultaneamente, uma justiça nova e sobrenatural. [11] Dá bem para entender o motivo que levou a tal insistência. Foi o medo de que, com uma mera declaração de justiça, a tal pessoa permanecesse em estado de injustiça e não-renovação, podendo até sentir-se encorajada a persistir no pecado (antinomismo). Foi exatamente a crítica que levantaram contra Paulo (6.1, 15) e que o levou a enfatizar com todas as forças que os cristãos batizados tinham morrido para o pecado (de tal forma que não podiam, em hipótese alguma, continuar vivendo nele) e que haviam ressuscitado para uma nova vida em Cristo. Ou, em outras palavras: a justificação (um novo status) e a regeneração (um novo coração), embora não sejam idênticas, são simultâneas. Todo crente justificado foi também regenerado pelo Espírito Santo e, dessa forma, destinado à santificação constante. Ou, se quisermos citar Calvino, "ninguém pode ostentar a justiça de Cristo sem a regeneração". [12] Ou então, "o apóstolo sustenta que quem pensa que Cristo nos confere justificação gratuita sem nos dar novidade de vida está, vergonhosamente, dividindo Cristo em pedaços". [13]
Uma reviravolta importante nesse debate entre católicos romanos e protestantes deve-se à publicação, em 1957, do diálogo do professor Hans Küng com Karl Barth. Nesse trabalho, intitulado Justificação, ele concorda que a justificação é uma declaração divina e que nós somos justificamos somente pela fé. Mas insiste também que as palavras de Deus são sempre eficazes, de maneira que tudo o que Ele pronuncia passa imediatamente a existir. Portanto, quando Deus diz a alguém: "Você é justo", diz ele, "o pecador é justo, de fato e de verdade, exterior e interiormente, integral e plenamente...Em resumo, a declaração de justiça de Deus é...ao mesmo tempo e no mesmo ato...tornar justo". [14] Desta maneira, a justificação é "o ato único que, simultaneamente, declara justo e torna justo". [15] Há aqui, no entanto, uma perigosa ambigüidade. O que Hans Küng quer dizer por "justo"? Se ele quer dizer legalmente justo, de contas acertadas com Deus, então de fato passamos imediatamente a ser aquilo que Deus declarou que sejamos. Mas se ele quer dizer moralmente justo, renovado, santo, então a declaração de Deus não assegura isso imediatamente, mas apenas inicia o processo contínuo e que dura a vida inteira.[16] Esse é o ponto que C. K. Barrett levanta quando alega que justificar não significa tornar justo, mas que " 'justo' significa, não 'virtuoso', mas 'correto', 'limpo', 'inocentado' na corte de Deus". [17]
Voltando agora ao texto de Romanos, e em particular nos versículos 24-26, Paulo ensina três verdades básicas sobre a justificação: primeiro, a sua fonte, de onde ela se origina; depois, a sua base, em que ela se sustenta; e, em terceiro lugar, o meio pelo qual ela é recebida.

a. A fonte de nossa justificação: Deus e a Sua graça.

Nós somos justificados gratuitamente por sua graça (24). Uma verdade fundamental no evangelho da salvação consiste em que a iniciativa da salvação deve-se, do início ao fim, a Deus o Pai. Qualquer formulação do evangelho que tire a iniciativa de Deus e a atribua a nós, ou mesmo a Cristo, já não é mais bíblica. Nós, com toda certeza, não tomamos a iniciativa, pois éramos pecadores, culpados e condenados, sem saída nem esperança. Tampouco foi Jesus Cristo quem tomou a iniciativa, no sentido de fazer algo que o Pai relutava ou não estava disposto a fazer. Não há dúvida de que Cristo veio por Sua própria vontade e se entregou gratuitamente. Mesmo assim, Ele o fez em submissão à iniciativa do Pai. "Aqui estou, no livro está escrito ao meu respeito; vim para fazer a tua vontade, ó Deus". [18] Quem deu o primeiro passo, portanto, foi Deus o Pai, e a nossa justificação nos veio gratuitamente (dorean, "como um presente") [19] por Sua graça, por Seu favor absolutamente gratuito e completamente imerecido. Graça é isso aí: Deus amando, Deus se humilhando em favor de nós, Deus vindo nos resgatar, Deus se entregando generosamente em Jesus Cristo e por intermédio dEle.

b. A base de nossa justificação: Cristo e sua cruz.

Se Deus justifica gratuitamente os pecadores por sua graça, por que ele faz isso? Baseado em quê? Como é que esse Deus justo pode declara justo o injusto, sem comprometer a Sua própria justiça nem condescender com a injustiça deste? Esta é a nossa pergunta. A resposta de Deus é a cruz.
Não existe em Romanos expressão mais surpreendente do que a afirmação de que "Deus...justifica o ímpio" (4.5). Embora ela só apareça no capítulo seguinte, no entanto será de grande ajuda aqui para ajudar-nos a acompanhar a argumentação de Paulo. Como é que Deus pode justificar o ímpio? No Antigo Testamento, repetidas vezes Deus diz aos juízes israelitas que eles devem justificar os íntegros e condenar os ímpios. [20] Mas é óbvio! Quem é inocente deve ser declarado inocente e quem é culpado deve ser considerado culpado! É um princípio elementar de pura justiça. Mas então Deus acrescenta: "O que justifica o perverso e o que condena o justo, abomináveis são para o Senhor tanto um como o outro". [21] Ele pronuncia também um solene "ai" contra os que "por suborno justificam o perverso, e ao justo negam a justiça". [22] Pois, como declara acerca de si mesmo, "não justificarei o ímpio". [23] Mas é claro! - dizemos de novo - Deus nem sonharia em fazer tal coisa!

Então, como é que Paulo tem coragem de afirmar que Deus faz aquilo que Ele proíbe os outros de fazerem? E que Ele faz o que disse que nunca faria - e que, ainda por cima, o faz habitualmente? E que Ele ainda diz ser "o Deus que justifica o perverso" ou (se é que poderíamos dizer assim) "que torna íntegro quem não tem integridade"? É um absurdo! Como pode o justo Deus agir injustamente, desbaratando assim a ordem moral e invertendo-a completamente? É inacreditável! Ou melhor: seria, não fosse a cruz de Cristo. Sem a cruz, a justificação do ímpio seria injusta, imoral e, dessa forma, impossível. A única razão pela qual Deus "justifica o ímpio" (4.5) é que "Cristo morreu pelos ímpios" (5.6). Só porque Ele derramou o Seu sangue (25) numa morte sacrificial por nós, pecadores, é que Deus pode justificar justamente o injusto.

Aquilo que Deus fez mediante a cruz, isto é, mediante a morte do seu Filho em nosso lugar, Paulo explica através de três expressões deveras significativas. Primeiro, diz que Deus nos justifica por meio da redenção que já em Cristo Jesus (24b). Segundo, Deus o apresentou como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue (25a). Terceiro, Ele fez isto para demonstrar sua justiça...(25b), isso para demonstrar sua justiça no presente, a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus (26). As palavras-chave são redenção (apolytrõsis), propiciação (hilastêrion) e demonstração (endeixis). Todas as três se referem, não ao que acontece agora, enquanto o evangelho esta sendo pregado, mas ao que aconteceu de uma vez por todas em Cristo e através dele na cruz, sendo a expressão seu sangue uma clara referência à sua morte sacrificial. Associadas à cruz, portanto, vemos uma redenção dos pecadores, uma propiciação da ira de Deus e uma demonstração de sua justiça.

(i) Redenção

A primeira palavra é apolytrõsis, isto é, redenção. É um termo comercial emprestado dos mercados, da mesma forma que "justificação" é um termo legal emprestado dos tribunais. No Antigo Testamento ela era usada para escravos que eram comprados para serem libertados; dizia-se que eles haviam sido "remidos". [24] O termo também era usado metaforicamente com referência ao povo de Israel, que foi "remido" do cativeiro, primeiro no Egito,[25] depois na Babilônia, [26] e em seguida restaurado à sua própria terra. Nós, de igual maneira, éramos escravos ou cativos, presas do nosso pecado e da culpa e completamente incapazes de liberta-nos. Mas Jesus Cristo nos "redimiu", nos comprou e libertou-nos do cativeiro, derramando, como preço, pelo resgate, o seu próprio sangue. Ele mesmo dissera que o propósito de sua vinda era para "dar a sua vida em resgate por muitos". [27] E agora, em conseqüência de sua aquisição ou "salvamento por resgate", [28] nós pertencemos a ele.
(ii) Propiciação
A segunda palavra é hilastêrion, ou seja, propiciação. Muitos cristãos sentem-se envergonhados ou até chocados com esta palavra, porque propiciação significa o ato de aplacar a ira divina, ou de tornar Deus propício. E, em se tratando de Deus, parece-lhes indigno dar-lhe um conceito como este (mais pagão do que cristão), o que pressupõe que ele fica com raiva e precisa ser apaziguado. Daí a proposta de duas outras maneiras possíveis de se entender hilastêrion. A primeira é traduzir a palavra como "propiciatório", referindo-se à tampa de ouro da arca da aliança que ficava no Santo dos Santos, no templo. É geralmente este o significado da palavra na Septuaginta, e é também o que ela significa na sua única outra ocorrência no Novo Testamento. [29] Já que, no Dia da Expiação, o sangue do sacrifício era salpicado sobre a tampa da arca, o chamado "propiciatório", sugere-se então que o próprio Jesus seria o "propiciatório" onde Deus e os pecadores são reconciliados. [30] Aqueles que sustentam este ponto de vista tendem a entender o verbo protithêmi (apresentou) como "expôs" (BJ) ou "dispôs publicamente" (BAGD), para indicar que, embora o propiciatório estivesse escondido dos olhos humanos pelo véu, "Deus expôs publicamente o Senhor Jesus Cristo, aos olhos do universo inteligente...", [31], como o caminho da salvação. Tanto Lutero quanto Calvino? acreditavam que "propiciatório" seria a tradução correta, e outros seguiram seu exemplo.
Mas os argumentos contrários parecem ser conclusivos. Em primeiro lugar, se com hilastêrion Paulo quisesse referir-se à tampa da arca ou "propiciatório", teria inevitavelmente usado com ela o artigo definido. E, depois, o conceito é incongruente em Romanos, pois esta carta, ao contrário de Hebreus, não se encontra na "esfera do simbolismo levítico". [32] Em terceiro lugar, a metáfora seria confusa e até mesmo contraditória, já que ela representaria Jesus com sendo concomitantemente a vítima cujo sangue foi derramado e aspergido, e o lugar onde se aplicaria este sangue. Em quarto lugar, o sentimento de dívida de Paulo para com o Cristo crucificado era tão profundo que ele dificilmente o teria comparado a uma "peça inanimada da mobília do templo".[33]
Uma segunda possibilidade de tradução para hilastêrion é "uma expiação", (RSV), o argumento para tal é que, enquanto que no grego secular o verbo hilaskomai significa "aplacar" (um deus ou um ser humano), na Septuaginta o objeto deste verbo não é Deus, mas o pecado. Portanto, o seu significado não seria "propiciar" Deus (isto é, torná-lo propício, desviar sua ira) mas sim "expiar" o pecado, isto é, anular o pecado ou acabar com a profanação. C. H. Dodd, a quem geralmente se associa esta posição e que, como editor e tradutor da Bíblia, evidentemente influenciou outros tradutores nesta direção, escreveu que os atos expiatórios "tinham como que o valor, digamos, de um desinfetante". [34] Assim, a versão da BLH diz que "Deus ofereceu Cristo como sacrifício para que, pela sua morte na cruz, Cristo se tornasse o meio de as pessoas receberem o perdão dos pecados".
A principal razão pela qual estas opções não são satisfatórias e pela qual é necessária uma referência a propiciação e o contexto. Nestes versículos Paulo descreve a solução de Deus para a condição humana; o problema não é só o pecado, mas também a ira de Deus sobre o pecado (1.18; 2.5; 3.5). E onde quer que exista a ira de Deus existe também a necessidade de impedir que ela se manifeste. Não deveríamos ter medo de usar a palavra "propiciação" em relação à cruz, tanto quanto deveríamos deixar de usar a palavra "ira" em relação a Deus. Em vez disto, deveríamos lutar para resgatar o uso desta linguagem mostrando que a doutrina cristã da propiciação é completamente diferente dos conceitos supersticiosos pagãos ou animistas. Tanto a necessidade como o autor e a natureza da propiciação cristã são bem diferentes.

Vamos primeiro à necessidade. Por que uma propiciação seria necessária? Resposta pagã é: porque os deuses são caprichosos, mal-humorados e sujeitos a acessos de ira. A resposta cristã é: porque a ira santa de Deus está voltada contra o mal. Quando se trata da ira de Deus, não tem esta história de falta de princípios, imprevisibilidade ou perda de controle; a única coisa que a provoca é o mal.

Agora vamos ao autor. Quem é o responsável pela propiciação? A resposta pagã é que somos nós. Nós ofendemos os deuses; portanto devemos agradá-los. Já a reposta cristã é que nós não podemos aplacar a justa indignação de Deus. Não há como fazê-lo por nossos próprios meios. Mas Deus, por amar-nos sem que o merecêssemos, fez por nós o que nunca poderíamos fazer sozinhos. João escreveu semelhantemente: "... Deus... nos amou e enviou o seu Filho como propiciação (hilasmos) por nossos pecados". [35] O amor, a idéia, o propósito, a iniciativa, a ação e a dádiva foram todos de Deus.

E, finalmente, a natureza. Como se conseguiu a propiciação? Em que reside o sacrifício da propiciação? A resposta pagã é que é preciso subornar os deuses com doses e oferendas, vegetais, animais e até sacrifícios humanos. O sistema sacrifical do Antigo Testamento era completamente diferente, já que todos sabiam que o próprio Deus havia "dado" os sacrifícios para o seu povo fazer a expiação. [36] E isso está inegavelmente claro na propiciação cristã, pois Deus deu seu próprio Filho para morrer em nosso lugar, e, ao dar seu Filho, deu-se ele mesmo por nós (5.8; 8.32).

Em suma, seria difícil exagerar no que diz respeito às diferenças entre a visão cristã e a pagã de propiciação. Na perspectiva pagã, os seres humanos tentam, através de suas ofertas desprezíveis, aplacar o mau humor de suas divindades enfurecidas. De acordo com a revelação cristã, o próprio amor incomparável de Deus aplacou a sua própria ira santa ao dar seu próprio Filho amado, que tomou o nosso lugar, assumiu os nossos pecados e morreu a nossa morte. Assim fazendo, Deus mesmo entregou a si mesmo para salvar-nos dele mesmo.

Este é o justo fundamento em que se baseia a justa justiça de Deus para justificar os injustos sem comprometer a sua justiça. Charles Cranfield expressou isso com cautela e eloqüência:
Deus, porque em sua misericórdia desejava perdoar os homens pecadores, e por ser verdadeiramente misericordioso, desejoso de perdoá-los – isto é, sem de maneira alguma desconsiderar o seu pecado – propôs-se voltar contra si mesmo, na pessoa do seu Filho, todo o peso daquela justa ira que eles mereciam. [37]
O professor Cranfield volta a este assunto no seu ensaio final sobre "A Morte e Ressurreição de Jesus Cristo". Conforme o seu argumento, o propósito de Deus ao fazer da morte de Jesus Cristo um sacrifício de propiciação foi para "que ele pudesse justificar os pecados justamente, isto é, de uma maneira tal que fosse inteiramente digna do seu caráter de Deus verdadeiramente amoroso e eterno". Pois, caso ele se limitasse a meramente perdoar os pecados deles, estaria com isso "comprometido com a mentira de que a maldade moral não importa e, dessa forma, estaria violando sua própria verdade e zombando dos homens, proporcionando-lhes uma certeza vazia e mentirosa que eles, na sua total humanidade, acabariam descobrindo ser uma miserável fraude". [38](iii) Demonstração
Até aqui nós vimos duas das palavras usadas por Paulo para descrever a cruz; são elas apolytrõsis ("redenção") e hilastêrion ("sacrifício de propiciação"). Vamos agora à terceira palavra, que é endeixis ("demonstração"). Afinal, a cruz foi uma demonstração ou revelação pública assim como uma conquista. Além de concretizar a propiciação de Deus e a redenção dos pecadores, ela também vindicou a justiça de Deus: Ele fez isso para demonstrar a sua justiça... (25b); ...isso para demonstrar sua justiça... (26a). Para podermos entender a forma que tomou esta demonstração da justiça de Deus, precisamos perceber o contraste deliberado que Paulo estabelece entre os pecados anteriormente cometidos, os quais em sua tolerância, havia deixado impunes (25b), e, o tempo presente, no qual Deus agiu a fim de ser justo e justificador (26a). É um contraste entre o passado e o presente, entre a tolerância divina que adiou o julgamento e a justiça divina que o exigia, entre "deixar impunes os pecados anteriores cometidos" (o que faria Deus parecer injusto) e a punição deles na cruz (pela qual Deus demonstrou a sua justiça).

Isto é, Deus deixou impunes os pecados de gerações passadas, permitindo que as nações seguissem seus próprios caminhos e não levando em consideração a sua ignorância [39], não porque houvesse qualquer injustiça de sua parte, ou por uma atitude de conivência com o mal, mas sim em virtude de sua paciência (BLH), e só porque tinha a firme intenção de, na plenitude dos tempos, dar a estes pecados o devido castigo por meio da morte do seu próprio Filho. Essa era a única maneira pela qual ele podia, ao mesmo tempo, ser justo, demonstrar a sua justiça e ser justificador daquele que tem fé em Jesus (26b). Tanto a justiça (o atributo divino) como a justificação (atividade divina) seriam impossíveis sem a cruz.

Aqui, portanto, estão os três termos técnicos que Paulo utiliza (apolytrõsis, hilastêrion e endeixis) para explicar o que Deus fez na cruz de Cristo e por meio dela: ele redimiu seu povo, aplacou a sua ira e demonstrou a sua justificação. De fato, estas três conquistas fazem parte de um todo. Através da morte expiatória e substitutiva do seu Filho, Deus aplacou a sua própria ira, de forma a redimir-nos e justificar-nos e, ao mesmo tempo, demonstrar sua justiça. Só nos resta maravilhar-nos diante da sabedoria, santidade, amor e misericórdia e Deus e prostrar-nos diante dele em humilde adoração. A cruz deveria ser o bastante para quebrantar o mais duro e derreter o mais insensível dos corações.
Agora, que vimos que a origem de nossa justificação é a graça de Deus e que ela se baseia na cruz de Cristo, vamos considerar o meio pelo qual somos justificados.
c. O meio de justificação: a fé.
Por três vezes neste parágrafo Paulo ressalta a necessidade da fé: mediante a fé em Jesus Cristo para os que crêem (22); mediante a fé pelo seu sangue (25) (ou, mais provavelmente, "pelo seu sangue a ser recebido pela fé"); e Deus é justificador daquele que tem fé em Jesus (26). De fato, a justificação é "pela fé somente", sola fide, um dos grandes slogans da Reforma. É verdade que no texto de Paulo a palavra somente não ocorre no versículo 28, onde Lutero o adicionou. Não é de todo surpreendente, portanto, o fato de a Igreja Católica Romana ter acusado Lutero de perverter os textos da Sagrada Escritura. Mas Lutero estava seguindo Orígenes, bem como outros Pais da Igreja, que haviam semelhantemente introduzido a palavra "somente". O que os levou a fazer isso foi um verdadeiro instinto. Longe de falsificar ou distorcer o que Paulo queria dizer; eles o estavam aclarando e enfatizando. O mesmo se passou com John Wesley, que escreveu que "confiava em Cristo, somente em Cristo, para a salvação". A justificação é somente pela fé, somente em Cristo, somente através da fé.
Além do mais, é de vital importância afirmar que nada existe de mérito na fé, e que quando dizemos que a salvação é "por fé, e não por obras", não estamos colocando um tipo de mérito ("fé") em lugar do outro ("obras"). Assim como a salvação não é nenhum empreendimento cooperativo entre Deus e nós, no qual ele entra com a cruz e nós contribuímos com a fé. Não, a graça não admite contribuições; e a fé é o contrário da auto-estima. O valor da fé não reside nela mesma, mas inteira e exclusivamente em seu objeto, a saber, Jesus Cristo, e este crucificado. Dizer que a "justificação é somente pela fé" é outra maneira de dizer que " justificação é somente por Cristo." A fé é o olho que o contempla, a mão que o recebe a sua dádiva gratuita, a boca que bebe da água vida. "A fé...abrange nada mais do que a jóia preciosa que é Jesus Cristo". [40] Como escreveu Richard Hooker, teólogo anglicano do século XVI: "Deus justifica o que crê - não por causa do valor de sua crença, mas por causa do valor daquele (sc. de Cristo) em quem ele creu". [41]

A justificação (cuja fonte é Deus e Sua graça, cuja base é Cristo e a cruz e cujo meio é somente a fé, completamente à parte das obras) constitui o cerne do evangelho e é uma característica singular do cristianismo. Nenhum outro sistema, ideologia ou religião proclama um perdão gratuito e uma nova vida para aqueles que nada fizeram para merecê-los, mas que, ao invés disso, muito fizeram para merecer o julgamento. Pelo contrário, todos os sistemas ensinam alguma forma de auto-salvação através das boas obras da religião, da piedade ou da filantropia. Já o cristianismo, em sua essência, nem mesmo é uma religião; é um evangelho, o evangelho, a boa nova de que a graça de Deus desviou a sua ira, que o Filho de Deus morreu a nossa morte e carregou a nossa condenação, que Deus tem misericórdia de quem não merece e que a nós nada mais resta a fazer ou mesmo contribuir. A única função da fé é receber o que a graça oferece.

A antítese entre graça e lei, misericórdia e mérito, fé e obras, salvação de Deus e salvação própria, é absoluta. Nós temos de escolher. Emil Brunner ilustrou vividamente essa antítese, em que, segundo ele, a diferença é entre "subir" e "descer": a questão decisiva" mesmo, ele escreveu, é "a direção do movimento". Os sistemas não-cristãos imaginam "o homem movendo-se" em direção a Deus. Lutero disse que meditar é "elevar-se à majestade nas alturas". De semelhante forma, o misticismo acredita que o espírito humano pode "flutuar nas alturas em direção a Deus". O mesmo se passa com o moralismo. E também com a filosofia. O "otimismo auto-confiante de todas as religiões não-cristãs" é muito parecido. Nenhum deles vê ou sente o abismo que se estende entre o santo Deus e os seres humanos, pecadores e cheios de culpa. Só quando vislumbramos isso é que percebemos a necessidade aquilo que o evangelho proclama, que é o "mover-se de Deus", a Sua livre iniciativa de graça, o Seu movimento "descendente", o Seu surpreendente "ato de condescendência". Parar na beira do abismo, atingir o ápice do desespero por jamais conseguir atravessar - esta é a indispensável "antecâmara da fé". [42]

NOTAS:
[1] 2 Co 6.2.
[2] Cranfield, vol. I, p. 199.
[3] Morris (1998), p. 173.
[4] Cf. Jo 12.43.
[5] Cf. 1 Co 11.7.
[6] Moule (1894), p. 97.
[7] Sandlay e Headlam, p. 36.
[8] Jeremias, p. 66.
[9] Marcus Loane, This Surpassing Excellence: Textual Studies in the Epitles to the Churches of Galatia and Philippi (Angus e Robertson, 1969), p. 94.
[10] Hodge, p. 82.
[11] Ver o Concílio de Trento, Sessão VI, e os seus decretos sobre o pecado original e a justificação.
[12] Calvino, 9. 8.
[13] Ibid, p. 121.
[14] Küng, p. 204.
[15] Ibid, p. 210.
[16] Ver o que escrevo a respeito de "justificação" no livro A Cruz de Cristo (Editora Vida, 1991).
[17] Barrett, pp. 75s.
[18] Heb 10.7.
[19] Moule (1894), p. 92.
[20] Deut 25.1.
[21] Pv 17.15.
[22] Is 5.23.
[23] Êx 23.7.
[24]P. ex. Lv 25.47ss.
[25]Êx 6.6
[26] Is 43.1.
[27] Mc 10.45.
[28] Moule (1894), p.92.
[29] Hb 9.5.
[30]Cf. Ex 25.22.
[31] Hodge, p.93.
[32] Godet, p.151.
[33] Cranfield, vol.I, p.215. Nygren usa uma expressão semelhante na p. 156.
[34] Dodd, p.54.
[35] 1 Jo 4.10.
[36] P. ex. Lv 17.11.
[37] Cranfield, vol. I, p. 217; cf. vol II, p. 828.
[38] Cranfield, vol. II, p. 827.
[39] At 14.16; 17.30.
[40] Lutero, Commentary on St Paul's Epistle to the Galatians (1531; James Clarke, 1953), p. 100.
[41] De "Definition of Justificantion" de Hooker, constituíndo o capítulo xxxiii de sua obra Ecclesiastical Polity (1593).
[42] Emil Brunner, The Mediator (1927; Westminster; 1947), pp. 291ss.


Fonte: STOTT, John. A Mensagem de Romanos. Trad. Silêda e Marcos D S Steuernagel. 1ed. São Paulo: ABU Ed., 2000. 528p.; pp. 122-135.

Para saber mais: http://www.abub.org.br/editora/livros/bibliafalahoje.htm

  Como está a saúde? Respirando primeiro Essa é sua vida. Você é o que deseja ser? Por: Switchfoot Em caso de despressurização da cabine, má...