Uma das vantagens de quem se permite ser aluno é continuar aprendendo o que a vida ensina. Todos os dias, a qualquer momento, a professora Oportunidade e o mestre Tempo nos dão aulas gratuitas. Usam didáticas diferenciadas em cada caso. E quando se faz necessário, convocam o doutor Sofrimento, que é PhD em metodologias de sobrevivência e felicidade. Mas, como só acontece, nem sempre os alunos estão dispostos a construírem percepções, aprimorarem competências e apreenderem vivências.
Há os alunos irredutíveis. Do tipo Gabriela. São pessoas que apresentam uma imensa dificuldade em aceitar e entender as mudanças. Reagem a elas dizendo “eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim!” Essas gabrielas (e gabrielos!) são infelizes e não aceitam que ninguém ao redor seja feliz. Dizem claramente: “Quem quiser, me aceite como eu sou. E se não quiser, a porta da rua está aberta.” Ser irredutível não é se deixar diminuir (como à primeira vista o termo sugere), mas é não se permitir ceder, repartir e morrer – para poder conquistar, ter e viver. Assim acontece com as sementes, e veja o resultado nas árvores.
Outros alunos são resilientes. Adaptam-se ao meio. Baixam aplicativos para sobreviverem por mais tempo. Conseguem lidar com problemas, superar obstáculos. Resistem à pressão de situações adversas. A resiliência é um conceito tirado da metalurgia, que procura desafiar os humanos a terem a maleabilidade e resistência dos metais. O ouro é o mais maleável, bem como o alumínio. Eles se permitem moldar e serem usados em diferentes situações, sem perderem originalidade, funcionalidade e preciosidade. As altas pressões tornam esses alunos mais úteis a si mesmos e a quem os cercam. Eles optam em reclamar menos, destruir a autocomiseração (que é um pecado contra o Amor), e anular o egoísmo. Tal atitude na sala de aula cotidiana permite o respeito ao outro como um Eu projetado e diferente.
As aulas continuam a cada amanhecer. A Oportunidade, o Tempo e o Sofrimento são perseverantes. Eles dispõem dos mais diferentes aliados em suas didáticas: o vizinho, o colega, o parente; o desconhecido do ônibus, do comércio, da calçada; aquela pessoa que sorri em nossa direção, que limpa o chão onde pisamos, que faz o cafezinho, que opera a hidrelétrica para termos energia – os milhares de anônimos que a todo instante insistem em nos ensinar a bem viver. O desejo deles é que os egressos dessa escola chamada Vida alcancem o outro lado diplomados em amor, que é o mais completo sentimento do universo – único capaz de tornar humanos verdadeiramente humanos.
(*) Moises tem 54 anos e é jornalista há 30 anos, além de professor de ensino superior (no Brasil e no exterior) há 20 anos e mestre em Teologia. Há cinco anos, tornou-se também analista de Correios, na regional de Roraima. Escreve quase todos os dias, tem dez livros publicados e mais cinco prontos. Escreveu este texto por conhecer pessoas que reclamam mais que agradecem e resistem às mudanças. Com isso, perdem oportunidades de simplesmente viver.
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