Neste ponto temos de admitir que vamos trabalhar sobre um ideal, não exatamente em torno de nossas constatações contemporânea. O que estou querendo dizer é que o que aqui vai ser tratado não diz respeito às nossas observações sobre a Igreja, mas ao ideal contido nas Escrituras, com referência ao Espírito Santo movimentando-se nela e nela produzindo trabalho. Em outras palavras: não estou descrevendo o que a Igreja é, mas o que ela pode ser, caso de renda ao Espírito.
1. O Espírito Santo faz da Igreja seu grande santuário. É o que está dito em I Coríntios 3:16 e 17, onde a palavra “santuário” aparece num contexto no qual se fala em edificação da Igreja ─ seus alicerces. Paulo afirma que aqueles que destruírem o santuário de Deus (que é a Igreja), Deus o destruirá. O apóstolo não está se referindo a cristãos como indivíduos-santuários de Deus ─ apesar de em I Coríntios 6:19 serem eles individualmente assim chamados. Mas no contexto de I Coríntios 3:17 e 18, a ideia que nos vem à mente é que o apóstolo está se referindo à Igreja, nomeando a templo. Quando dizemos, por exemplo, que vamos esta à porta da Igreja, estamos tomando isto no sentido material. A Igreja a que a Escritura se refere tem em Jesus a sua Porta. Essa Igreja pode inclusive estar reunida debaixo de uma mangueira, um pé de Jamelão, uma jaqueira. Ela existe em qualquer lugar onde haja cristãos juntos, congregados. Ali onde há dois, três ou mais reunidos está uma catedral do Senhor. E mesmo que não estejam juntos, é dessa maneira que o Espírito vê a Igreja ─ uma grande Catedral espiritual, conforme diz I Pedro 2;5 e 6. Pedro neste texto também a chama de “casa espiritual para habitação de Deus no Espírito”. Efésios 2:20,21 a nomeia “casa”, santuário que está sendo dedicado e consagrado ao Senhor.
A primeira relação, pois, que o Espírito Santo mantém com a Igreja é nesse nível ─ de santuário, catedral, casa espiritual onde ele habita. É o verdadeiro templo, onde se oferecem sacrifícios espirituais para o louvor de Deus em Jesus Cristo.
2. O Espírito Santo habita também em síntese qualitativa na Igreja. Em Efésios 1:22 e 23, Paulo diz que Deus estabeleceu Cristo como cabeça e Senhor de tudo, e lhe deu a Igreja para ser o seu Corpo; e mais: que ela agora é habitada pela plenitude daquele que enche os cosmos. O Deus que extrapola tudo e todas as coisas que habita nela em síntese qualitativa. É a plenitude daquele que tudo enche em todas as coisas. O interessante é que Efésios 4:3 e 4 não nos permite separar a Igreja do Espírito. Neste texto, falando sobre a unidade do Espírito, o vínculo da paz, Paulo diz que “há um só Senhor, uma só fé, um só batismo”. Ao afirmar que há um só corpo, ele não coloca uma vírgula para em seguida afirmar que há um só Espírito. Ele não separa as expressões, de modo nenhum ─ nem mesmo em termos literários, Paulo diz “Há somente um corpo e um Espírito”, porque é impossível fazer referência à Igreja como Corpo de Cristo, sem falar do Espírito.
3. É o Espírito quem promove a vida comunitária da Igreja. Encontramos esta verdade registrada em Atos 2:42 a 46. O Pentecoste aconteceu, o Espírito banhou, lavou a Igreja, se derramou sobre ela. Contudo, a mais caracterizadora demonstração de que ele trabalhou nela não foi exclusivamente o dom de língua; tampouco os milagres. Acima de tudo, o que mais marcou sua presença e atuação foi o estilo de vida comunitária que ela passou a vivenciar. Essa é a evidência maior, a preocupação principal de Atos. Lucas descreve como, depois do Pentecoste, a Igreja passou a viver uma vida comunitária intensa. Eles repartiam seus bens, perseveravam na doutrina dos apóstolos, no partir do pão e nas orações, comendo com singeleza e alegria de coração. E todos tinham tudo em comum. Essa é uma das manifestações mais poderosa do Espírito de Jesus nas igrejas: a intensificação da Koinonia, da comunhão, da troca, da vida que se doa, se integra, se mistura na vida dos irmãos.
4. O Espírito promove a unidade da Igreja (Ef. 4:3). É “a unidade do Espírito no vinculo da paz”, no Corpo de Cristo. Sem o Espírito seríamos a mais dividida e beligerante de todas as comunidades. As nossas inúmeras divisões não nos permitem ver ainda aquilo que seríamos se o Espírito não estivesse agindo em nós. Mesmo extremamente divididos, ainda somos um povo que se entende sob a mesma bandeira. A prova disso é que apesar das inúmeras nomenclaturas, quando as coisas nos assolam, atingem o Corpo de Cristo, logo que descobrimos que somos filhos do mesmo Pai, temos que viver na mesma família e nos amar com amor fraterno.
5. O Espírito que faz da Igreja a comunidade portadora da mensagem viva da salvação. Somente ele pode tomar essa igreja de gente complicada que somos e transformá-la numa mensagem para o mundo. Em II Coríntios 3:2 e 3, Paulo chama a Igreja de Corinto, não obstante ela mesma, de “carta viva”, escrita no coração para se manifestar e lida por todos os homens. A simples evidência disso vem do fato de que o testemunho da fé chegou até nós. Já são dois mil anos de testemunho em meio às mais variadas contradições da Igreja. Sua ambiguidades são inúmeras, mas a mensagens continua a ser lida na vida daqueles que vivem Jesus na comunidade da fé.
6. Foi o Espírito quem controlou e dirigiu a evangelização da Igreja Primitiva. Este é um ponto que nos interessa tratar apenas como idealismo, visto que nos nossos dias nem sempre é o Espírito que se dirige a genuína evangelização. Quase sempre quem diz hoje onde a Igreja tem que ir e determina o que ele deve fazer são nossos programas engabinetados, produzidos num local de administração fria, quase num esquema de marketing. Na Igreja Primitiva isto não acontecia; era o Espírito Santo que controlava de maneira soberana. Todavia, é somente o Espírito quem nos capacita à verdadeira evangelização, porque é exclusivamente ele quem concede poder para testemunho no mundo (At. 1:8). Ele enviou evangelistas a lugares improváveis, mas onde havia necessidade (Al. 8:29). Foi o caso de Filipe, que evangelizara multidões nas cruzadas de Samaria. E agora é um evangelista consagrado naquele lugar. Mas vem o Espírito Santo, acaba com todo aquele frenesi e diz: Filipe, “Dispõe-te e vai para a banda do sul, no caminho que desce de Jerusalém a Gaza [percurso de 33 a 40 km, mais ou menos]; este se acha deserto”. Imagine o impacto de tal notícia para um homem de multidões ─ cruzadas em Samaria, povo se convertendo! Vem o Espírito e o direciona a algo aparentemente absurdo: “Vai para aquela estrada deserta, evangelista!” Mas ele era obediente. Ele foi, encontrou o eunuco, evangelizou, e algo fantástico aconteceu. Assim, é também o Espírito quem deve determinar a esfera de atividades dos seus evangelistas. Quando Filipe acabou de evangelizar o eunuco e o batizou, diz a Bíblia que o Espírito do Senhor arrebatou Filipe. Ele “veio a achar-se em Azoto”. Não escolheu campo missionário: estava no meio do deserto, acabou de batizar, de repente se desmaterializou. Diz a Bíblia que o eunuco não o viu mais. O homem evaporou! E se materializou em Azoto. O mesmo processo de soberania do Espírito aconteceu em relação à conversão da casa de Cornélio. É o Espírito quem se manifesta a ele através do anjo. É ele que esvazia de preconceitos a mente de Pedro, a fim de que entenda que seria válido ir à casa de um gentio. É ele que se derrama poderosamente no momento de sua pregação. Ele monta todo o esquema da salvação da casa de Cornélio, e o faz de maneira soberana. Ainda mais: separa missionários e os envia. Atos 13;13 diz: “Separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”. Ele impede certos alvos missionários e conduz outros. Em atos 16:6-10, vemos Paulo desejando ir para a Bitínia, na Ásia. Entretanto, o Espírito não o permitiu. Ele tentou duas vezes, mas não foi. O Espírito o empurrou para o coração da Europa ─ porque esse era o plano de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário