Em 2 Coríntios 13:14 Paulo ora para que a “comunhão (koinonia) do Espírito Santo” seja
com os crentes de Corinto. E em Filipenses 2:1 Paulo fala sobre “comunhão (koinonia) do
Espírito”.
Duas dimensões estão envolvidas nestas passagens: a dimensão vertical da comunhão
do crente com Deus e a dimensão horizontal de sua koinonia com outros crentes através do
Espírito Santo.
É importante que estes dois aspectos sejam mantidos juntos e entendidos
juntos. O conceito neo-testamentário de koinonia só é plenamente entendido quando
compreendemos o significado das duas dimensões juntas.
A princípio podemos ver aqui somente a dimensão vertical de comunhão com Deus
através do Espírito Santo. Mas a dimensão horizontal também está bem presente, e talvez seja
até a mais importante: a comunhão entre os crentes que é o dom do Espírito. Como James
Reid escreveu sobre 2 Coríntios 13:14: “Isto não significa comunhão com o Espírito. É uma
comunhão com Deus que ele compartilha através da habitação do Espírito com aqueles que
são membros do corpo de Cristo. A comunhão do Espírito Santo é a verdadeira descrição da
igreja.”
Muito se tem escrito sobre o significado e as implicações da palavra koinonia. Tal
discussão, porém, tem enfatizado principalmente a dimensão horizontal, a comunhão dos
cristãos uns com os outros. Mas é a dimensão vertical que nos dá o conteúdo fundamental a
todo esse conceito de koinonia. Koinonia na igreja deve começar com a comunhão do Espírito
Santo, ou do contrario ela não terá dinamismo neo-testamentário. Hendrik Kraemer o tem
expressado bem em sua “Teologia da Laicidade”: “A comunhão (koinonia) com e em Jesus
Cristo e o Espírito é a base que gera e sustenta a comunhão (koinonia) dos crentes uns com os
outros”. A comunhão e o relacionamento espirituais na igreja que são realmente koinonia são
algo dado pelo Espírito; são mais do que uma função de nossa natureza humana. Partilham do
sobrenatural.
O próprio Cristo enfatizou
a necessidade de estarmos juntos quando disse: “porque onde estiverem dois ou três reunidos
em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18:20).
Podemos ter comunhão sozinhos com
Deus em qualquer lugar, pois Deus é Espírito. Mas ninguém pode ter comunhão com outro
irmão que não está presente, apesar de nossa linguagem mística. A comunhão do Espírito
Santo não é um poder etéreo que une espiritualmente os crentes embora estejam fisicamente
separados. Antes, é aquela profunda comunidade espiritual em Cristo que os crentes
experimentam quando se reúnem como igreja de Cristo.
De uma forma mais positiva, podemos descrever a comunhão do Espírito Santo nos
seguintes termos:
1 – A koinonia do Espírito Santo é a comunhão entre os crentes concedida pelo Espírito
Santo. É exatamente esta experiência de uma comunhão mais profunda, de uma
intercomunicação sobrenatural, que talvez todo crente ocasionalmente tenha sentido na
presença de outros irmãos. Sua base é a unidade que os cristãos compartilham em Cristo.
Uma fé compartilhada, uma salvação compartilhada e uma natureza divina compartilhada são a
origem da koinonia. A idéia básica da palavra koinonia, na verdade, é de algo que se tem em
comum.
2 – É a comunhão de Cristo com seus discípulos. Jesus gastou três anos vivendo e
trabalhando em íntima comunhão com doze homens. Como Robert Coleman observa: “Na
verdade ele gastou mais tempo com seus discípulos do que com todas as outras pessoas do
mundo reunidos. Ele comeu com eles, dormiu com eles, e conversou com eles durante a maior
parte de todo o seu ministério”. Estes homens não somente aprenderam de Cristo;
compartilharam um profundo nível de comunidade que foi o protótipo da koinonia da igreja
primitiva. É interessante que no meio do importante discurso de Cristo durante a última ceia
três discípulos sentiram liberdade para interrompê-lo com comentários e perguntas (Jo
14:5,8,22). Juntos eles estavam experimentando a comunhão do Espírito Santo.
3 – É a comunhão da igreja primitiva, registrada no livro de Atos. Os primeiros cristãos,
conheceram uma unidade singular, com união de propósito, amor e interesse mútuos – em
outras palavras, koinonia. Isto era além da alegria imediata da conversão ou do conhecimento
de convicções comuns. Era uma atmosfera, um ambiente espiritual que cresceu entre os
cristãos primitivos à medida que oravam, aprendiam e adoravam juntos em seus próprios lares
(At 2:42-46; 5:42).
4 – É correspondente na terra à comunhão celestial eterna e também as primícias desta
comunhão. A alegria do céu é a liberdade de comunhão eterna com Deus e os irmãos, sem
limitações terrenas. Como modelo terreno desta realidade celestial, a koinonia na igreja
compartilha a mesma natureza espiritual da vida no céu; não é qualitativamente diferente. Mas
sofre as limitações inevitáveis da carne, do tempo e do espaço. Desta forma, a koinonia na
igreja não é contínua e nem universal. Antes, é interrupta, parcial, local – e é necessário que
seja assim. É limitada e afetada por fatores físicos, mas sua realidade essencial não é deste
mundo.
5 – É análoga à unidade, comunhão e relacionamento entre Cristo e o Pai. Existe um
paralelo entre a comunhão da trindade e a koinonia dos cristãos uns com os outros e com
Deus. A oração de Cristo em João 17 é especialmente apropriada aqui. Jesus pede que seus
discípulos “sejam um, como nós” (v.11). De uma maneira mais geral, ele ora para que todos os futuros cristãos “sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em
nós; para que o mundo creia que tu me enviaste” (v.21). Koinonia é o cumprimento desta
oração na igreja e é assim uma manifestação no tempo e espaço da comunhão da trindade. É
uma intercomunicação sobrenatural entre as pessoas da divindade e a igreja na terra,
envolvendo inseparavelmente tanto a dimensão vertical como a horizontal. Cristo quis que seus
seguidores fossem um em sua koinonia – não somente um com Deus mas também uns com os
outros.
Tal koinonia é o dom do Espírito Santo. Mas será então a igreja impotente para criar e
nutrir esta comunhão? Ou pode a estrutura da igreja prover condições para a comunhão do
Espírito Santo?
Daniel J. Fleming fez o seguinte ponto em seu livro “Vivendo como Camaradas”: “A
formação e preservação desta koinonia... é o trabalho peculiar do Espírito Santo. Mas... nós
podemos ajudar ou impedir esta consumação na medida que conscientemente nos esforçamos
para entrar em comunidade com companheiros humanos”. E isto se aplica tanto para a igreja
como para crentes individuais.
A Bíblia não fala quase nada sobre estruturas específicas para a igreja. O Novo
Testamento não contém revelações do Sinai sobre o “modelo do tabernáculo”. Somos livres
para criar as estruturas mais apropriadas à missão e necessidade da igreja em nossa época,
segundo o esquema geram da visão bíblica da igreja. E a própria ideia da koinonia do Espírito
Santo pode ter alguma coisa muito significativa para nos mostrar a respeito de tais estruturas.
Como já vimos, a comunhão do Espírito Santo é uma função da igreja
remida, não da igreja espalhada. A implicação óbvia para a estrutura da igreja: A igreja deve
providenciar condição suficiente para estar reunida se quiser experimentar koinonia. Koinonia
exige que nos reunamos com lugar e hora marcada sob a direção do Espírito Santo. Podemos
falar sobre comunhão do Espírito Santo apenas como uma realidade espiritual, ignorando as
limitações de tempo e espaço, mas isto não tem sentido. O fato é que a comunhão do Espírito Santo – koinonia neo-testamentária na igreja – exige como uma necessidade absoluta
proximidade física. A igreja não experimenta a comunhão do Espírito Santo se não se reúne
num ambiente apropriado para a operação do Espírito.
Em segundo lugar, a comunhão do Espírito Santo naturalmente sugere comunicação.
Comunhão sem comunicação seria um conceito contraditório. Desta forma temos uma segunda
implicação para a estrutura da igreja: A igreja deve se reunir de uma forma que permita e
encoraje comunicação entre os membros.
E por koinonia envolver tanto a dimensão vertical como a horizontal, esta comunicação
também implica em comunhão com Deus; em outras palavras, a oração faz parte da koinonia.
Envolve também o elemento de liberdade. Paulo nos dá
o princípio: “Onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade” (2 Co 3:17). O Espírito Santo é o
libertador. A liberdade do Espírito e a koinonia do Espírito vão juntas. Onde há koinonia aí
também há liberdade e abertura, um ambiente permite “falar a verdade em amor” (Ef 4:15). A
verdadeira koinonia pode ser experimentada somente onde há liberdade do Espírito.
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