segunda-feira, 5 de setembro de 2016

PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO.

O texto que trata da história do filho pródigo está em Lucas 15:11-32.
A vida de um pecador que se converte compreende cinco estágios, os quais podem ser vistos nesta parábola que Jesus utilizou para confrontar os Fariseus: O primeiro estágio é a partida (descrita nos versículos 11-13). O segundo estágio é a miséria na terra estrangeira (descrita nos versículos 14-16). Já nos versículos 17 ao 19 temos a contrição pelos pecados cometidos. Depois, o retorno ao Pai no versículo 20 e seguintes. E o quinto estágio que é a aceitação do filho que volta ao convívio familiar. Podemos simplificar: Pecado, Castigo, arrependimento, conversão e justificação.
Por vezes nos limitamos a falar somente do filho mais novo, quando em verdade, esta parábola se dirige também àquelas pessoas que se colocam no lugar do filho mais velho, e que podem ser exemplificadas com aqueles que se denominam “crentes antigos”.
E disse: Um certo homem tinha dois filhos.
E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda.
Jesus inicia sua parábola falando que havia um homem que tinha dois filhos. É de se estranhar a iniciativa do filho em repartir as terras do pai, sem sequer esperar a sua morte. Isto por si só já demonstra uma quebra da lei natural na sucessão das coisas. Conforme o costume daquela época, o filho primogênito (mais velho) receberia dois terços da propriedade. Já ao filho mais moço cabia um terço.
Este costume é descrito no Livro de Deuteronômio.  O primogênito é o princípio da força do homem e devia receber porção dobrada.  O filho mais moço dá inicio ao repartir da propriedade, numa demonstração de desrespeito para com a autoridade paterna enquanto chefe daquele núcleo familiar. Deveria partir do pai a iniciativa de repartir a terra e assim se desincumbir de sua responsabilidade para com a administração.
E poucos dias depois, o filho mais novo; ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente.
Podemos supor que ele vendeu as terras para alguém estranho à família, e tomando sua parte em espécie partiu. Ainda hoje vemos nossos jovens partindo para terras cada vez mais distantes numa valorização da “cultura alheia”. Importante notar que o Pai neste momento não profere nenhuma censura. Fica calado. Ele permite (assim como Deus) que o ser humano faça o que quer. Este respeito ao “direito de pecar”, é o respeito ao fato de que Deus criou o homem livre e para a liberdade, inclusive para a liberdade de pecar. O pai permitiu ao filho mais moço que ele escolhesse seu caminho, procedendo de acordo com seus desejos.
Desperdiçou é justamente o oposto de “ajuntando tudo”. É nisto que consiste o pecado. Gastar os bens criados por Deus Pai, e a nós emprestados. Alguns destes bens: Saúde, Vigor Físico, Coisas Materiais, Tempo, Saúde Mental. No pecado, o filho de Deus, não atenta para a questão da mordomia. Este afastamento para um terra distante é uma fuga da disciplina do Pai.
E havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades.
Esta descrição breve retrata que o filho se viu pobre, desnudo e despido de suas posses. Na terra em que ele achava que teria plena liberdade, ele se viu de repente presa das circunstâncias mais adversas. Este padecer necessidades é uma demonstração de sua condição de extrema inferioridade em relação aos habitantes naturais daquele país. Uma condição pior do que o natural da terra. Numa comparação com o mundo moderno vemos que não mudou muito. Os filhos saem do lar e na esperança de uma pseudo-liberdade, vivem uma vida dissoluta. Ainda assim ocorre com aqueles que muitas vezes abandonam a igreja para a vida no mundo. Esta crença de uma liberdade irrestrita fora da vida familiar e congregacional não passam de uma armadilha, o mais é engano.
E foi e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus para apascentar porcos.
Em conformidade com a lei judaica, os porcos eram animais imundos. Os porcos não podiam ser comidos ou usados em sacrifícios, portanto para um judeu, tratar dos porcos representava a suprema humilhação. Tal fato pode ser conferido em Levítico 11: 2-8 e Deuteronômio 14:8. Desejar comer a comida dos porcos significava que ele estava numa condição muito além da degradação humana. Ou numa linguagem econômica moderna, ele estava muito abaixo da linha da pobreza. Vemos o naufrágio do filho mai moço e sua submersão nas águas escuras da perdição. Longe dos seus, desamparado pelos amigos que só se interessavam pela fortuna. 

Humilhado...Humilhado...Humilhado...
Assim nos deixa o pecado. Jogado na lama do chiqueiro dos porcos. Representado hoje pelas sarjetas da bebida, do jogo e das drogas e das prostituições.
E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada.
Já ouvi muitas pregações dizendo que ele comia a comida dos porcos. Mas vemos que nem isto sobrava para ele. Ou seja, ninguém lhe dava nada. O porco assumiu muito mais importância do que o homem. Mas é este o trabalho do diabo: Roubar, Matar e Destruir. O mais humilhante trabalho que poderia existir para um judeu não lhe garantiu sequer a sua subsistência. Algumas versões trazem que as comidas dos porcos eram “vagens de alfarrobeiras”.
E, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!
Vemos aqui a contrição pelo saída inoportuna de sua casa. A sua mente analisa a diferença entre a miséria e a abundância da casa paterna. Vemos ainda hoje esta latente diferença entre a vida na congregação junto aos irmãos, ao pé dos pastores e a vida nas noitadas de bebidas e destruição familiar. A recordação de um pai que era bom para os filhos e para seus empregados. “As grandes dores as tragédias são frequentemente necessárias para fazer as pessoas olharem para o único que pode ajudá-las: Jesus.”[2]
Será que você neste momento está agindo assim? De acordo somente com suas vontades, de forma egoísta. Saiba que isto trará para você e para os seus muitas dores. O ideal é parar antes que o fundo do abismo nos toque.
“Caindo em si”, significa que antes, ele estava tomado pela loucura do pecado. É isto que é o pecado: Loucura. A volta acontece pela confiança que ele tem depositada no Pai e pelo amor próprio.

Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe -ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus trabalhadores.
A recordação de que os empregados de seu pai tinham abundância  e a saudade do tratamento que recebia fala fundo em seu coração. “Planeja antepor à solicitação prevista uma confissão de sua culpa.”[3]
E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão,e, correndo, lançou-se lhe ao pescoço, e o beijou.
Estamos diante de uma demonstração inequívoca da GRAÇA DE DEUS.  O pai esperava a volta do filho pródigo, não saiu para procurá-lo pois sabia que estava lidando com um ser humano dotado de vontade e liberdade. Ainda assim ocorre com os crentes desviados, esperamos pela suas voltas, pois sabem que há um caminho. Diferente das ovelhas perdidas ou das dracmas[4] que hão que ser procuradas. Mas o filho quando volta para seu pai, é recebido de forma alegre. Esta constância e paciência no amor de Deus é que faz com que Ele nos dê as boas-vindas ao retornarmos para o lar.  Assim como o pai age nesta história, Deus age em nossas vidas. Deus não nos força a respondê-lo ou a buscá-lo, mas quando o fazemos, Ele nos recebe de braços abertos. O fato de que o pai o viu ao longe, é uma demonstração de quantas vezes aquele pai, teve seu olhar perdido no horizonte, na esperança de que o filho apontasse na estrada. Uma demonstração de que o amor do pai não foi extinto pelo tempo e pela ausência da separação. A íntima compaixão que mostra o pai mostra que o estado deplorável do filho, longe de deixar asco, deixou mais motivação para que o pai o recebesse. É por isto que não entendemos quantas mães e pais enfrentam horas de humilhação para visitar os filhos nos presídios. A restituição do relacionamento ocorre sem cobranças por parte do pai. É como se o filho mais moço nunca o tivesse decepcionado. O maravilhoso disto tudo é que o pai toma a iniciativa de abraçar o filho. Nada de críticas, de repreensões, mas apenas o amor demonstrado no abraço silencioso.
Divulgador da Palavra

E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho.
Mas o pai disse aos cervos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão e sandálias nos pés. 
Descalço, maltrapilho e sem reconhecimento é assim que voltamos do mundo para a casa do Pai. Em troca de nossos trapos, recebemos roupas melhores. Os pés imundos são lavados e calçados com sandálias. E o bezerro cevado, foi a morte de Cristo.  Esta foi a oferta pela propiciação de nossos pecados. O pai que ficou calado o tempo todo, agora abre a boca. Não para falara um “Está perdoado”. Mas, sim, para dar ordens imperativas aos servos para que coloquem o filho arrependido na melhor posição da casa. Assim devem ser as ações de perdão em nossas vidas. Perdão não pode ser mostrado por palavras vazias e sem sentido, mas por ações que efetivamente demonstrem o ato do perdão. E perdão não é Dom; é ordenança.
As sandálias são um privilégio do homem livre. O escravo devia andar descalço. “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão.” (Gálatas 5:1)
O anel era símbolo de autoridade para o judeu.
E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos e alegremo-nos,
Todos devem alegrar-se com a volta do filho que estava perdido. Inclusive os cervos da casa. Assim nós devemos participar da alegria de nosso pai. Assim ocorre com os anjos no céu. Alegram-se quando um pecador se arrepende. Fazem festa de júbilo para com aquela alma que estava perdida e salvou-se. Esta festa representa a comunhão.
porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado. E começaram a alegrar-se.
Não importa a maneira como os pecadores se perdem. Deus está de prontidão eterna esperando o momento em que seus filhos resolvem voltar para o lar. Dentro da Bíblia Cristã, o conceito de morte e vida, faz alusão à questão do pecado e da conversão. O pecado representa a separação do pai. A conversão representa a aceitação de que somos dependentes de Deus para termos a salvação por meio de seu filho. Pecado é morte. Conversão é vida.
E o seu filho mais velho estava no campo; e, quando veio e chegou perto de casa, ouvia a música e as danças. E chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.
E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo.
Mas ele se indignou e não queria entrar. E, saindo o pai, instava com ele.
Cristo está falando diretamente aos fariseus que julgam ser melhores do que outros. Mas fala diretamente às igrejas do mundo moderno e de seus membros que não gostam de receber pecadores em seus interiores. Estas igrejas da Teologia da prosperidade não querem nada mais que as lãs de suas ovelhas. Não se preocupam e não se alegram com a salvação das almas.
Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com meus amigos.
O que vemos na atitude do filho mais velho, é o que presenciamos até hoje. O “Escândalo da Graça” causa perplexidade até hoje no mundo. O homem natural não aceita o fato de que o pecador tem a sua impureza remida sem que para isto precise oferecer sacrifícios, penitências e novenas. O homem natural não entende o AMOR DO PAI que deu seu filho unigênito para morrer e apesar de toda  nossa vida dissoluta nos aceita e nos veste com trajes de festa. A representação do filho mais velho é para ilustrar os judeus, que de forma meticulosa guardavam os princípios legais, mas nem de longe compreendiam o princípio da Graça Divina.
Vindo, porém, este teu filho que desperdiçou a tua fazenda com meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.
As palavras do filho mais velho demonstram que ele estava tão perdido quanto o filho mais novo. “As pessoas que se arrependem depois de viver notoriamente no pecado atraem suspeitas; há igrejas que se mostram pouco dispostas a admiti-las como membros.” (BAP, 1386)
É muito difícil para o filho mais velho aceitar o irmão que viveu de forma dissoluta e desregrada, mesmo tendo se arrependido. Inúmeras vezes, Cristãos mais velhos agem (motivado pelo ciúme) como o irmão mais velho. Na verdade deveriam agir como o Pai que abriu os braços para recebê-lo.
A nossa atitude deve ser semelhante como a dos anjos no céu. Há regozijo quando um pecador se arrepende e volta para Deus.
E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas.
Não percebemos por várias vezes que as bênçãos do Pai são nossas. E o que vemos muitas vezes é o que se chama de “correr atrás da benção”.
O perdão do pai está ligado ao fato de que ele é Amor. Já o filho mais velho representa o ressentimento. Mas nada há que não possa ser refeito.
A inveja e o orgulho é que nos impedem de usufruirmos das coisas que Deus nos dá e não as bênçãos que estão ao nosso alcance.
Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado.
O pai sabiamente lembra que o que retornou ao seio da família foi o irmão que saiu. Embora magoado e machucado ambos têm sua gênese no mesmo pai e muito provavelmente tenham se alimentado do mesmo leite materno.
O ser que está morto é uma analogia com aquele ser que perdeu o contato com Deus. Ao perder o contato com Deus, deixamos de participar da vida ressurreta em Cristo Jesus. “nem ofereçais cada um dos membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça.” (Romanos 6:13)
E ainda: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados.” (Efésios 2;1)

Bibliografia
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. (2003). São Paulo.
Brasil, S. B. (2008). Bíblia Shedd. São Paulo: Vida Nova.
CPAD. (2011). Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico e Grego. Rio de Janeiro/RJ: CPAD.
Fritz, R. (2005). Evangelho de Lucas (Comentário Esperança). Curitiba/PR: Editora Evangélica Esperança.

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