sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA

O Espírito Santo é Deus e é também uma Pessoa. Ele não é uma energia impessoal, uma mente fria, sem personalidade, sem coração. A Bíblia não coloca o Espírito Santo na categoria do Isto, da Coisa,  mas  do  Tu,  da  Pessoa.  Há  no  entanto  muita  confusão  a  esse  respeito,  inclusive  nos  meios evangélicos. 
Não que afirmemos teológica e doutrinariamente que ele seja apenas uma Coisa Santa. Mas  a verdade  é  que  nós  nos  relacionamos  muitas  vezes  com  ele,  e  oramos  a  ele  como  se  ele  não passasse  de  uma  energia,  uma  força.  Você  já  observou  que  as  nossas  orações,quando  relacionadas ao Espírito, muitas vezes lhe atribuem apenas pode energético? Oramos: “Ò Deus, manda a força do Espírito, o poder do Espírito, a influência do Espírito...”
De  onde virá  essa  ideia  a  respeito  da  impessoalidade  do  Espírito  Santo? A  mim me  parece que essa ideia resulta da má compreensão das metáforas que a Bíblia usa para caracterizar, manifestar e expressar a pessoa do Espírito. Se não vejamos:
Em João 20:20, Jesus associa o Espírito ao fôlego. Jesus aparece aos seus discípulos e os saúda: “Paz seja nesta casa”. Em seguida sopra e diz: “Recebei o Espírito Santo”. O Espírito aparece pois associado  ao  fôlego,  ao  sopro.  Em  João  3:6-8 ele o associa ao vento; “O vento  [ou  pneuma]  sopra onde quer”. E acrescenta: “...não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que nascido do Espírito”. Dessa maneira volta à nossa mente essa ideia de vento.
Em  Atos  2:1-3  o  Espírito  se  manifesta  como  fogo:  “...  e  apareceram  distribuídas  sobre  eles línguas como de fogo”. Portanto, quando o Espírito se manifestou no dia de Pentecoste, o elemento que  ele  escolheu  para  expressar  a  si  mesmo  foi  o  fogo.  O  próprio  João  Batista  já  havia  dito  que  o batismo do Espírito Santo seria também batismo com fogo: “Aquele que vem após mim vos batizará com Espírito Santo e com fogo”.Ora, tudo isso me traz à memória uma singela história vivida por mim e Ciro, meu mais velho. 
Na ocasião ele tinha uns três anos, e mostrava muita curiosidade por alguns assuntos de teologia.
Um dia ele me perguntou:
─ Papai, Deus sabe tudo?─ Sabe!
 ─ respondi.─ Se ele sabia de tudo, por que então criou Adão, se sabia que Adão ia pecar, papai?
─ Meu filho ─ esclareci ─, eu pensei nisso pela primeira vez aos 13 anos. Você pensou 10 anos antes de mim...
E  tentei  explicar como  pude.  Uns  dois  ou  três  dias  depois,  eu  estava  em  casa,  à  tarde.  Ventava demais. Ele vinha chegando do quintal, cansado, suadinho, com o rosto cheio de terra.
─ Papai, eu queria ser cheio do Espírito Santo. Como é que faço?O que é o Espírito Santo?Eu não sabia como explicar e como poderia me fazer entender.Fui para o quintal com ele. Nosso quintal era muito arborizado; ventava muito. O cabelo de Ciro, um pouco grande, começou a se agitar.
─ Você está sentindo esse vento em nossa direção? 
─ perguntei.
─ Estou.
─ Pense como seria se este vento tivesse a capacidade de amar, de sentir, de saber tudo, de estar em todo lugar, de morar no seu coração.Ele estava olhando para mim, atento e curioso. Então acrescentei: ─ O  Espírito  Santo  é  como  esse  vento.  Com  a  diferença  de  que  é  um  vento  que  ama;  é  uma “pessoa”.Ele pensou, respirou fundo, e disse:
─ Ah, papai, eu quero ficar cheio do Espírito Santo. Ora,  estou desejando  aproveitar essa memória daquela minha  conversa  com o Ciro para dizer a você a mesma coisa: O Espírito Santo é Energia, é Força, é Poder, mas é sobretudo Pessoa.

Vejamos as razões por que afirmamos que o Espírito Santo é uma Pessoa.

1. O  Espírito  Santo  é  pessoa  porque  pode  entristecer-se. Em Efésios 4:30, Paulo diz: “E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção”. O  Espírito  Santo  é uma pessoa capaz da tristeza, da dor e do sofrimento. Ele sofre quando eu peco, quando você peca. Ele vive em nós, e se entristece com as manifestações do nosso pecado.

2. O Espírito Santo é pessoa porque é capaz de sentir ciúmes.  É Tiago que nos diz isto quando afirma:
“Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser  amigo  do  mundo,  constitui-se  inimigo  de  Deus.  Ou  supondes  que  em  vão  afirma  a  Escritura:É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?” (Tg 4.4,5).
Quando traímos a Deus através dos nossos pecados, ambiguidades, contradições negações da fé, amasiamentos  com  o  mundo,  o  Espírito  de  Deus sente  ciúmes,  como  o  marido,  quando  a  mulher adultera,  e  vice-versa.   Ele  sente ciúmes  do  adultério  moral  (impureza) espiritual  (idolatria), econômico (amor ao dinheiro), político (paixão e esperanças políticas mais acentuadas em relação ao programa humano que ao Reino de Deus). O Espírito não é simplesmente alguém que entra em nós de  vez  em  quando  e  depois  sai.  Ele  vem  e  fica. Além  disso,ele  não  está  presente  apenas  para energizar nossa vida. Não: ele é uma Pessoa com a qual mantemos relações pessoais. E é o marido da nossa alma e da nossa consciência.

3.     O  Espírito  Santo  é  uma  pessoa  porque  pode  gemer  de  dor  empática,  é  capaz  de  sentir conosco  as  agonias  da  nossa  existência.  Este  talvez  seja  o  aspecto  mais  existencial  da  ação  do Espírito na vida do cristão. Paulo diz:“Também o  Espírito,  semelhantemente,  nos  assiste  em  nossa  fraqueza;  porque  não  sabemos  orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos” (Rm. 8.26,27).
O Espírito  sente  dores  não  apenas  em  razão  de  nossos  pecados,  mas  também  das  nossas  dores. Ele sente não somente as dores que nossos pecados causam nele, mas também as dores que sentimos. Paulo  diz  que  o  Espírito  intercede  por  nós  quando  a  nossa  existência  está  imersa  em  profunda fraqueza.  O  Espírito  é  aquele  que  se  revolve  na  nossa  interioridade,  nos  levando  a  orar.  É  também ele  que  expressa  o  inexprimível  da  nossa  alma  diante  de  Deus  com  gemidos  inexprimíveis,  e  faz orações  coadunáveis  com  a  perspectiva  do  Pai  no  que  diz  respeito  a  responder  de  acordo  com  as nossas necessidades.
Foi por tudo isso que eu disse que provavelmente este seja o elemento mais existencial da ação do Espírito Santo na vida humana.Jean Paul Sartre afirmou que a vida é angústia. No caso dele era uma  angústia  angustiadamente  solitária  porque  não  havia  ninguém  com  ele.  Não  obstante  estivesse repleto  de  amigos  ao  redor,  estava  irremediavelmente  sozinho. Mas  quando  se  conhece  o  Espírito, mesmo nos dias mais escuros da alma haverá alguém conosco, gemendo nosso gemido, e orando o inexprimível para o Pai.

4 -O Espírito Santo é pessoa porque tem uma mente que pensa, e pensa de maneira livre! (Rm 8.27) Paulo fala a respeito da “mente do Espírito”. Ele não é um programado; não é o mecanismo intercessor da Trindade. Ele não faz apenas aquelas coisas que desde a antiguidade foi determinado que  fizesse.  Não  é  mesmo  surpreendente pensar no  fato  de  que  essa  Pessoa  da  Trindade,  que  mora em  nós,  tem  uma  mente,  e  pensa?  E  tal poder  de  pensar  acontece  simultaneamente  ao  nosso!  O Espírito  que  vive  em  nós  é  livre  para  pensar.  É  por  isso  que  ouso  afirmar  que  todo  estado  de  paz mental é resultado de uma harmonização entre o nosso pensar e o pensar do Espírito. Quando penso numa direção diferente daquela na qual o Espírito pensa, então o resultado é angústia e depressão.

5.   O Espírito Santo é uma pessoa porque é capaz de ensinar. Em I Coríntios 2.11 e 13, Paulo diz que o Espírito conhece e perscruta todas as coisas até as profundezas de Deus. No v. 13 está dito que ele não apenas as conhece e revela, como também as ensina, o que implica o fato de que nos ensina a pensar. Há sentido e há ordem quando o Espírito fala. Deus não fala com expressões sem sentido. O Espírito nos ensina a conferir coisa com coisa (I Co. 2.13). Daí a minha certeza de que, quanto mais sadiamente espiritual uma mente é, mais capaz de reflexão em bom-senso ele será.

6.   O Espírito Santo é pessoa porque é capaz de falar. Este é, de acordo com os antropólogos, o maior sinal de pessoalidade consciente que um ser pode manifestar: o poder de  falar. A  Bíblia está repleta de textos que nos afirmam que o Espírito fala. Fala porque é capaz disso. E fala porque faz isso  de  modo  perceptível  e  compreensível.  O  livro  de  Atos  deixa  isso  muito  claro,  quando  registra expressões como: “... disse-me o Espírito”, “falou-me o Espírito...”

Em Atos 8.29 lemos: “Então disse o Espírito a Filipe: Aproxima-te desse carro e acompanha-o”. Em  Atos 10.19,20,  depois  de  ter  Pedro  uma  visão,  enquanto  meditava  sobre  ela  diz-lhe  o  Espírito: “Estão aí dois homens que te procuram; levanta-te, pois, desce e vai com eles (...)” Ou em Atos 13:2, onde está escrito: “... disse o Espírito Santo: Separai-me agora o Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”.

Vemos   que   o   Espírito   não   falava   apenas   no   Velho   Testamento,   aos   profetas,   mas neotestamentariamente é descrito como alguém que fala à Igreja. E ele não falava apenas à Igreja no primeiro  século  porque  o  cânon  da  Escritura  ainda  não  estava  terminado. Para  os  judeus na antiguidade ─ mesmo considerando que do ponto de vista deles a revelação tinha chegado ao fim ─ o Espírito era livre para continuar se comunicando. Isso porque eles faziam diferença entre o que o Espírito  dizia  e  deveria  ser  escrito  como  Escritura,  e  o  que ele  dizia  sem  finalidade  redatorial. É lamentável que boa parte da Igreja de Cristo no mundo não acredite mais que o Espírito fala. Pois ele fala quando ilumina a Escritura, mas também fala de acordo com os parâmetros bíblicos. Nem tudo que o Espírito fala é para ser escrito, mas tudo que ele fala deve ser ouvido.

Uma das máximas do livro de Apocalipse é advertir as igrejas acerca do que o Espírito diz. “O Espírito diz às igrejas (...)” ─ é o que lemos.

6.     O  Espírito  é  pessoa  porque  tem  vontade.  Se  não,veja  o  que  a  esse  respeito  diz  a  Escritura. Talvez  a  mais  importante  afirmação seja  a  de  que  ele  distribui  dons  segundo  seu  alvitre,  conforme lhe apraz! Ele tem volição, no sentido divino do termo (I Co. 12.11).

7.     O Espírito é uma pessoa porque ama. A esse respeito Paulo diz: “Rogo-vos  pelo  amor  do Espírito que (...)” (Rm 15.30). O apóstolo menciona o amor do Espírito num texto cheio de apelo à solidariedade cristã: “Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor”. Paulo pede que os irmãos assumam  uma  espécie  de  integração  de  almas  para  interceder  junto  com  ele,  com  base  no  amor  do Espírito.  Ora,  nesta  mesma  perspectiva  do  amor,  Neemias  chama o Espírito de “o bom Espírito” (9.20).

O Espírito Santo é realmente uma Pessoa.  Ninguém pode entristecer o vento oriental. Ninguém pode  despertar  ciúmes  no  fogo,  nem  produzir  paixão  nas  águas.  Ninguém  irrita  a  lei  da  gravidade. Mas ao  Espírito  é  possível  entristecer,  enciumar,  provocar  paixão dolorida  etc.  O  Espírito  Santo  é força,  é  poder,  e  é  energia.  Entretanto,  e  antes  de  tudo,  ele  é  uma  Pessoa ─ pessoa  que  sente,  se entristece, tem ciúmes, geme de dor empática, tem uma mente, conhece, ensina, fala, tem vontade e ama.

(Texto Extraído do Livro: Espírito Santo: O Deus que vive em nós do Pastor Caio Fábio)
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