Ser “perfeito” e “à prova de bala” são conceitos bastante sedutores, mas que não existem na
realidade humana. Devemos respirar fundo e entrar na arena, qualquer que seja ela: um novo
relacionamento, um encontro importante, uma conversa difícil em família ou uma contribuição
criativa. Em vez de nos sentarmos à beira do caminho e vivermos de julgamentos e críticas, nós
devemos ousar aparecer e deixar que nos vejam. Isso é vulnerabilidade. Isso é a coragem de ser
imperfeito. Isso é viver com ousadia.
Vivemos as vezes no padrão da Escassez de nunca ser bom o bastante:
1. Nunca ser bom o bastante.
2. Nunca ser perfeito o bastante.
3. Nunca ser magro o bastante.
4. Nunca ser poderoso o bastante.
5. Nunca ser bem-sucedido o bastante.
6. Nunca ser inteligente o bastante.
7. Nunca ser correto o bastante.
8. Nunca ser seguro o bastante.
9. Nunca ser extraordinário o bastante.
Passamos a maior parte de nossas vidas ouvindo, explicando,
reclamando ou nos preocupando com o que não temos em quantidade ou grau suficiente. (...)
Antes de nos sentarmos na cama, antes de nossos pés tocarem o chão, já nos sentimos
inadequados, já ficamos para trás, já perdemos, já damos falta de alguma coisa. E quando
voltamos para a cama à noite, nossa mente recita uma ladainha de coisas que não
conseguimos ou não fizemos naquele dia. Vamos dormir com o peso desses pensamentos e
despertamos para lamentar mais faltas. (...) Essa situação interna de escassez, essa tendência
mental à escassez, habita no âmago do ciúme, da cobiça, do preconceito e de nossas interações
com a vida.
A escassez, portanto, é o problema de nunca ser ou ter o bastante. Ela triunfa em uma sociedade
onde todos estão hiperconscientes da falta.
Tudo, de segurança e amor até dinheiro e recursos, passa
por uma sensação de inadequação ou falta. Gastamos uma enormidade de tempo calculando quanto
temos, não temos, queremos ou poderemos ter, e quanto todos os outros têm, precisam e querem ter.
O que torna essa avaliação constante tão desoladora é que, quase sempre, comparamos nossa
vida, nosso casamento, nossa família e nosso trabalho com a visão de perfeição inatingível
propagada pela mídia, ou então comparamos nossa realidade com a visão ficcional de quanto
alguém próximo de nós já conquistou.
A nostalgia do passado também é uma forma perigosa de comparação. Repare com que
frequência você compara a sua vida atual com uma lembrança de bem-estar que a nostalgia editou
em sua mente, mas que nunca existiu de verdade: “Lembra-se de quando...? Ah, bons tempos!”
Observe três componentes da fórmula da escassez e a maneira como eles
influenciam a sociedade e reflita sobre as questões a seguir. Enquanto estiver lendo as perguntas,
tenha em mente todos os ambientes ou sistemas sociais dos quais você faz parte, seja em sala de aula,
em família, na comunidade ou talvez em sua própria equipe de trabalho.
1. Vergonha: O medo do ridículo e a depreciação são usados para controlar as
pessoas e mantê-las na linha? Apontar culpados é uma prática comum? O
valor de alguém está ligado ao sucesso, à produtividade ou à obediência?
Humilhações e linguagem abusiva são frequentes? E quanto ao favoritismo? O
perfeccionismo é uma realidade?
2. Comparação: A competição saudável pode ser benéfica, mas há comparação e
disputa o tempo todo, velada ou abertamente? A criatividade tem sido sufocada?
As pessoas são condicionadas a padrões estreitos em vez de serem valorizadas por
suas contribuições e talentos específicos? Há um modo ideal de ser ou um tipo de
habilidade usado como medida de valor para todos?
3. Desmotivação: As pessoas estão com medo de correr riscos ou tentar coisas
novas? É mais fácil ficar quieto do que compartilhar ideias, histórias e
experiências? A impressão geral é de que ninguém está realmente prestando
atenção ou escutando? Todos estão se esforçando para serem vistos e ouvidos?
Somos convocados a viver com ousadia cada vez que fazemos escolhas que desafiam o ambiente
social de escassez.
O oposto de viver em escassez não é cultivar o excesso. Na verdade, excesso e escassez são dois
lados da mesma moeda. O oposto da escassez é o suficiente, ou o que chamo de plenitude. Em sua
essência, é a vulnerabilidade: enfrentar a incerteza, a exposição e os riscos emocionais, sabendo que eu
sou o bastante.
Se você retornar aos três blocos de perguntas sobre escassez e se perguntar se desejaria ficar
vulnerável em algum contexto definido por aqueles valores, a resposta para a maioria de nós é um
sonoro “não”. Se você se perguntar se essas condições o levam a desenvolver o amor-próprio e a
autovalorização, a resposta é “não”, mais uma vez. Os elementos mais raros em uma sociedade da
escassez são a disposição para assumir nossa vulnerabilidade e a capacidade de abraçar o mundo a
partir da autovalorização e do merecimento.
A percepção de que estar vulnerável seja sinal de fraqueza é o mito mais amplamente aceito sobre a
vulnerabilidade – e também o mais perigoso. Quando passamos a vida nos afastando e nos
protegendo de um estado de vulnerabilidade ou de sermos vistos como sentimentais demais, Ficamos
contentes quando os outros são menos capazes de mascarar seus sentimentos. Chegamos ao ponto de,
em vez de respeitarmos e admirarmos a coragem e a ousadia que estão por trás da vulnerabilidade,
deixarmos o medo e o desconforto se tornarem julgamento e crítica.
Vulnerabilidade não é algo bom nem mau: não é o que chamamos de emoção negativa e nem
sempre é uma luz, uma experiência positiva. Ela é o centro de todas as emoções e sensações. Sentir é
estar vulnerável. Acreditar que vulnerabilidade seja fraqueza é o mesmo que acreditar que qualquer
sentimento seja fraqueza. Abrir mão de nossas emoções por medo de que o custo seja muito alto
significa nos afastarmos da única coisa que dá sentido e significado à vida.
A vulnerabilidade é também o berço das emoções e das
experiências que almejamos. Quando estamos vulneráveis é que nascem o amor, a aceitação, a
alegria, a coragem, a empatia, a criatividade, a confiança e a autenticidade. Se desejamos uma
clareza maior em nossos objetivos ou uma vida espiritual mais significativa, a vulnerabilidade com
certeza é o caminho.
Sei que é difícil acreditar nisso, sobretudo quando passamos tanto tempo achando que
vulnerabilidade e fraqueza são sinônimos, mas é a pura verdade. Vulnerabilidade é incerteza, risco e
exposição emocional.
O amor é incerto e oferece um risco
incrível. Amar alguém nos deixa emocionalmente expostos. Sim, é assustador e, sim, nós podemos
ser magoados, mas você consegue imaginar a sua vida sem amar ou ser amado?
Exibir nossa arte, nossos textos, nossas fotos, nossas ideias ao mundo, sem garantia de aceitação
ou apreciação, também significa nos colocar numa posição vulnerável. Quando nos entregamos aos
momentos felizes de nossa vida, mesmo sabendo que eles são passageiros e que o mundo nos diz para
não sermos felizes demais para não atrairmos desgraça – essa é uma forma intensa de
vulnerabilidade.
Se quisermos recuperar a parte essencialmente emocional de nossa vida, reacender nossa paixão e
retomar nossos objetivos, precisamos aprender a assumir nossa vulnerabilidade e acolher as emoções
que resultam disso. Para alguns de nós é um aprendizado novo e, para outros, uma recapitulação.
Colocar-se ao lado de alguém que atravessa uma
grande dificuldade é fraqueza? Assumir responsabilidade é coisa de gente fraca? Voltar para o jogo
depois de perder um gol feito é sinal de fraqueza? NÃO. Vulnerabilidade soa como verdade e é sinal
de coragem. Verdade e coragem nem sempre são confortáveis, mas nunca são fraquezas.
É verdade que quando estamos vulneráveis ficamos totalmente expostos, sentimos que entramos
numa câmara de tortura (que chamamos de incerteza) e assumimos um risco emocional enorme.
Mas nada disso tem a ver com fraqueza.
A vulnerabilidade se baseia na reciprocidade e requer confiança e limites. Não é superexposição,
não é catarse, não é se desnudar indiscriminadamente. Vulnerabilidade tem a ver com compartilhar
nossos sentimentos e nossas experiências com pessoas que conquistaram o direito de conhecê-los.
Estar vulnerável e aberto passa pela reciprocidade e é uma parte integrante do processo de construção
da confiança.
Não podemos ter sempre garantias antes de compartilhar algo; entretanto, não expomos nossa
alma na primeira vez que encontramos alguém.
É necessário se relacionar, é necessário se expor e nós fazemos isso vivendo um um Pequeno Grupo de Relacionamento e aprendemos que Deus pode nos curar através de outras pessoas. (Tiago5. 16 Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes curados. A oração do justo tem grande eficácia.
Não existe teste de confiança nem luz verde para sinalizar que é seguro nos abrirmos. Mas a Bíblia nos ensina que dessa forma é que cresceremos de maneira plena.
Quem me ama estará ao meu lado,
independente dos resultados que eu possa alcançar.
Nós não podemos aprender a ser mais vulneráveis e corajosos por conta própria. Muitas vezes
nossa primeira e maior ousadia é pedir ajuda, Deus nos fez interdependentes.
A vergonha extrai seu poder do fato de não ser explanada. Essa é a razão pela qual ela não deixa
os perfeccionistas em paz – é tão fácil nos manter calados! Se, porém, desenvolvermos uma
consciência da vergonha a ponto de lhe dar nome e falar sobre ela, nós a colocaremos de joelhos.
Assim como Roosevelt disse em seu discurso, quando ousamos grandemente nós cometemos
erros e nos decepcionamos várias vezes. Haverá fracassos, equívocos e reprovações. Se quisermos ser
capazes de avançar em meio às duras decepções, aos sentimentos de ingratidão e às tristezas, que são
inevitáveis em uma vida plena e bem vivida, não poderemos achar que os revezes são provas de que
somos indignos de amor, de aceitação e de alegria.
Saber lidar com a vergonha é ser capaz de dizer: “Isso dói. Isso é decepcionante e talvez até
devastador. Mas o sucesso, o reconhecimento externo e a aprovação dos outros não são os valores
que me controlam. O meu valor é a coragem, e eu fui corajoso. Não me envergonho disso.”
Sejamos corajosos!
Como vamos vencer a vergonha?
1. Praticar a coragem e ficar acessível. É natural querermos nos esconder, mas a
maneira de combater a vergonha e de honrar quem somos é compartilhar
nossas experiências com alguém que tenha conquistado o direito de ouvi-las –
alguém que goste de nós, não apesar das nossas vulnerabilidades, mas por
causa delas. (João 13.34-35 - I Coríntios 13 - Colossenses 13.13 - Provérbios 12.25; 17.17)
2. Conversar consigo mesmo da maneira que faria com alguém que você amasse e estivesse tentando encorajar no meio de um desastre: Está tudo bem. Você é
humano – todos nós cometemos erros. Eu o apoio. Geralmente, durante uma
crise de vergonha falamos conosco de uma maneira que nunca falaríamos
com as pessoas que amamos e respeitamos. (I Coríntios 11.28 - Marcos 12.30)
3. Assumir o que aconteceu. Não enterre o episódio nem deixe que ele o defina.
Costumo dizer isto em voz alta: “Se você assumir a sua história, conseguirá
escrever o final dela.” Quando enterramos a história nos tornamos para sempre
uma vítima dela. Se a assumirmos, conseguiremos narrar o seu final. Como
disse Carl Gustav Jung: “Eu não sou o que me acontece. Eu sou o que escolho
me tornar.
E aí vamos mais profundo, ou sou o que a Bíblia diz que eu sou: FILHO!!!
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