O Espírito Santo é Deus e é também uma Pessoa. Ele não é uma energia impessoal, uma mente fria, sem personalidade, sem coração. A Bíblia não coloca o Espírito Santo na categoria do Isto, da Coisa, mas do Tu, da Pessoa. Há no entanto muita confusão a esse respeito, inclusive nos meios evangélicos.
Não que afirmemos teológica e doutrinariamente que ele seja apenas uma Coisa Santa. Mas a verdade é que nós nos relacionamos muitas vezes com ele, e oramos a ele como se ele não passasse de uma energia, uma força. Você já observou que as nossas orações,quando relacionadas ao Espírito, muitas vezes lhe atribuem apenas pode energético? Oramos: “Ò Deus, manda a força do Espírito, o poder do Espírito, a influência do Espírito...”
De onde virá essa ideia a respeito da impessoalidade do Espírito Santo? A mim me parece que essa ideia resulta da má compreensão das metáforas que a Bíblia usa para caracterizar, manifestar e expressar a pessoa do Espírito. Se não vejamos:
Em João 20:20, Jesus associa o Espírito ao fôlego. Jesus aparece aos seus discípulos e os saúda: “Paz seja nesta casa”. Em seguida sopra e diz: “Recebei o Espírito Santo”. O Espírito aparece pois associado ao fôlego, ao sopro. Em João 3:6-8 ele o associa ao vento; “O vento [ou pneuma] sopra onde quer”. E acrescenta: “...não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que nascido do Espírito”. Dessa maneira volta à nossa mente essa ideia de vento.
Em Atos 2:1-3 o Espírito se manifesta como fogo: “... e apareceram distribuídas sobre eles línguas como de fogo”. Portanto, quando o Espírito se manifestou no dia de Pentecoste, o elemento que ele escolheu para expressar a si mesmo foi o fogo. O próprio João Batista já havia dito que o batismo do Espírito Santo seria também batismo com fogo: “Aquele que vem após mim vos batizará com Espírito Santo e com fogo”.Ora, tudo isso me traz à memória uma singela história vivida por mim e Ciro, meu mais velho.
Na ocasião ele tinha uns três anos, e mostrava muita curiosidade por alguns assuntos de teologia.
Um dia ele me perguntou:
─ Papai, Deus sabe tudo?─ Sabe!
─ respondi.─ Se ele sabia de tudo, por que então criou Adão, se sabia que Adão ia pecar, papai?
─ Meu filho ─ esclareci ─, eu pensei nisso pela primeira vez aos 13 anos. Você pensou 10 anos antes de mim...
E tentei explicar como pude. Uns dois ou três dias depois, eu estava em casa, à tarde. Ventava demais. Ele vinha chegando do quintal, cansado, suadinho, com o rosto cheio de terra.
─ Papai, eu queria ser cheio do Espírito Santo. Como é que faço?O que é o Espírito Santo?Eu não sabia como explicar e como poderia me fazer entender.Fui para o quintal com ele. Nosso quintal era muito arborizado; ventava muito. O cabelo de Ciro, um pouco grande, começou a se agitar.
─ Você está sentindo esse vento em nossa direção?
─ perguntei.
─ Estou.
─ Pense como seria se este vento tivesse a capacidade de amar, de sentir, de saber tudo, de estar em todo lugar, de morar no seu coração.Ele estava olhando para mim, atento e curioso. Então acrescentei: ─ O Espírito Santo é como esse vento. Com a diferença de que é um vento que ama; é uma “pessoa”.Ele pensou, respirou fundo, e disse:
─ Ah, papai, eu quero ficar cheio do Espírito Santo. Ora, estou desejando aproveitar essa memória daquela minha conversa com o Ciro para dizer a você a mesma coisa: O Espírito Santo é Energia, é Força, é Poder, mas é sobretudo Pessoa.
Vejamos as razões por que afirmamos que o Espírito Santo é uma Pessoa.
1. O Espírito Santo é pessoa porque pode entristecer-se. Em Efésios 4:30, Paulo diz: “E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção”. O Espírito Santo é uma pessoa capaz da tristeza, da dor e do sofrimento. Ele sofre quando eu peco, quando você peca. Ele vive em nós, e se entristece com as manifestações do nosso pecado.
2. O Espírito Santo é pessoa porque é capaz de sentir ciúmes. É Tiago que nos diz isto quando afirma:
“Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus. Ou supondes que em vão afirma a Escritura:É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?” (Tg 4.4,5).
Quando traímos a Deus através dos nossos pecados, ambiguidades, contradições negações da fé, amasiamentos com o mundo, o Espírito de Deus sente ciúmes, como o marido, quando a mulher adultera, e vice-versa. Ele sente ciúmes do adultério moral (impureza) espiritual (idolatria), econômico (amor ao dinheiro), político (paixão e esperanças políticas mais acentuadas em relação ao programa humano que ao Reino de Deus). O Espírito não é simplesmente alguém que entra em nós de vez em quando e depois sai. Ele vem e fica. Além disso,ele não está presente apenas para energizar nossa vida. Não: ele é uma Pessoa com a qual mantemos relações pessoais. E é o marido da nossa alma e da nossa consciência.
3. O Espírito Santo é uma pessoa porque pode gemer de dor empática, é capaz de sentir conosco as agonias da nossa existência. Este talvez seja o aspecto mais existencial da ação do Espírito na vida do cristão. Paulo diz:“Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos” (Rm. 8.26,27).
O Espírito sente dores não apenas em razão de nossos pecados, mas também das nossas dores. Ele sente não somente as dores que nossos pecados causam nele, mas também as dores que sentimos. Paulo diz que o Espírito intercede por nós quando a nossa existência está imersa em profunda fraqueza. O Espírito é aquele que se revolve na nossa interioridade, nos levando a orar. É também ele que expressa o inexprimível da nossa alma diante de Deus com gemidos inexprimíveis, e faz orações coadunáveis com a perspectiva do Pai no que diz respeito a responder de acordo com as nossas necessidades.
Foi por tudo isso que eu disse que provavelmente este seja o elemento mais existencial da ação do Espírito Santo na vida humana.Jean Paul Sartre afirmou que a vida é angústia. No caso dele era uma angústia angustiadamente solitária porque não havia ninguém com ele. Não obstante estivesse repleto de amigos ao redor, estava irremediavelmente sozinho. Mas quando se conhece o Espírito, mesmo nos dias mais escuros da alma haverá alguém conosco, gemendo nosso gemido, e orando o inexprimível para o Pai.
4 -O Espírito Santo é pessoa porque tem uma mente que pensa, e pensa de maneira livre! (Rm 8.27) Paulo fala a respeito da “mente do Espírito”. Ele não é um programado; não é o mecanismo intercessor da Trindade. Ele não faz apenas aquelas coisas que desde a antiguidade foi determinado que fizesse. Não é mesmo surpreendente pensar no fato de que essa Pessoa da Trindade, que mora em nós, tem uma mente, e pensa? E tal poder de pensar acontece simultaneamente ao nosso! O Espírito que vive em nós é livre para pensar. É por isso que ouso afirmar que todo estado de paz mental é resultado de uma harmonização entre o nosso pensar e o pensar do Espírito. Quando penso numa direção diferente daquela na qual o Espírito pensa, então o resultado é angústia e depressão.
5. O Espírito Santo é uma pessoa porque é capaz de ensinar. Em I Coríntios 2.11 e 13, Paulo diz que o Espírito conhece e perscruta todas as coisas até as profundezas de Deus. No v. 13 está dito que ele não apenas as conhece e revela, como também as ensina, o que implica o fato de que nos ensina a pensar. Há sentido e há ordem quando o Espírito fala. Deus não fala com expressões sem sentido. O Espírito nos ensina a conferir coisa com coisa (I Co. 2.13). Daí a minha certeza de que, quanto mais sadiamente espiritual uma mente é, mais capaz de reflexão em bom-senso ele será.
6. O Espírito Santo é pessoa porque é capaz de falar. Este é, de acordo com os antropólogos, o maior sinal de pessoalidade consciente que um ser pode manifestar: o poder de falar. A Bíblia está repleta de textos que nos afirmam que o Espírito fala. Fala porque é capaz disso. E fala porque faz isso de modo perceptível e compreensível. O livro de Atos deixa isso muito claro, quando registra expressões como: “... disse-me o Espírito”, “falou-me o Espírito...”
Em Atos 8.29 lemos: “Então disse o Espírito a Filipe: Aproxima-te desse carro e acompanha-o”. Em Atos 10.19,20, depois de ter Pedro uma visão, enquanto meditava sobre ela diz-lhe o Espírito: “Estão aí dois homens que te procuram; levanta-te, pois, desce e vai com eles (...)” Ou em Atos 13:2, onde está escrito: “... disse o Espírito Santo: Separai-me agora o Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”.
Vemos que o Espírito não falava apenas no Velho Testamento, aos profetas, mas neotestamentariamente é descrito como alguém que fala à Igreja. E ele não falava apenas à Igreja no primeiro século porque o cânon da Escritura ainda não estava terminado. Para os judeus na antiguidade ─ mesmo considerando que do ponto de vista deles a revelação tinha chegado ao fim ─ o Espírito era livre para continuar se comunicando. Isso porque eles faziam diferença entre o que o Espírito dizia e deveria ser escrito como Escritura, e o que ele dizia sem finalidade redatorial. É lamentável que boa parte da Igreja de Cristo no mundo não acredite mais que o Espírito fala. Pois ele fala quando ilumina a Escritura, mas também fala de acordo com os parâmetros bíblicos. Nem tudo que o Espírito fala é para ser escrito, mas tudo que ele fala deve ser ouvido.
Uma das máximas do livro de Apocalipse é advertir as igrejas acerca do que o Espírito diz. “O Espírito diz às igrejas (...)” ─ é o que lemos.
6. O Espírito é pessoa porque tem vontade. Se não,veja o que a esse respeito diz a Escritura. Talvez a mais importante afirmação seja a de que ele distribui dons segundo seu alvitre, conforme lhe apraz! Ele tem volição, no sentido divino do termo (I Co. 12.11).
7. O Espírito é uma pessoa porque ama. A esse respeito Paulo diz: “Rogo-vos pelo amor do Espírito que (...)” (Rm 15.30). O apóstolo menciona o amor do Espírito num texto cheio de apelo à solidariedade cristã: “Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor”. Paulo pede que os irmãos assumam uma espécie de integração de almas para interceder junto com ele, com base no amor do Espírito. Ora, nesta mesma perspectiva do amor, Neemias chama o Espírito de “o bom Espírito” (9.20).
O Espírito Santo é realmente uma Pessoa. Ninguém pode entristecer o vento oriental. Ninguém pode despertar ciúmes no fogo, nem produzir paixão nas águas. Ninguém irrita a lei da gravidade. Mas ao Espírito é possível entristecer, enciumar, provocar paixão dolorida etc. O Espírito Santo é força, é poder, e é energia. Entretanto, e antes de tudo, ele é uma Pessoa ─ pessoa que sente, se entristece, tem ciúmes, geme de dor empática, tem uma mente, conhece, ensina, fala, tem vontade e ama.
(Texto Extraído do Livro: Espírito Santo: O Deus que vive em nós do Pastor Caio Fábio)
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