(Jr 18:1-10)
Ao contemplar o trabalho do oleiro sobre as rodas, Jeremias passa a aprender a lição de como Deus lida com as nações. A parábola continuou quando o profeta foi ao vale do filho de Hinom, para advertir o rei e o povo da destruição que os acometeria. Assim como o oleiro despedaçava o vaso, eles seriam condenados por não ter valor (Jr 19). A figura do Oleiro já fora empregada em referência à obra da criação de Deus (Is 29:16; 45:9; 64:8). Muito da linguagem figurada de Jeremias tem a influência de Isaías.
O que mais impressionou tanto Isaías (29:16; 45:9) quanto Jeremias (18:4,6) foi o absoluto domínio da vontade do oleiro sobre o seu barro, o mistério e a maravilha de sua capacidade criadora. Depois de observar o oleiro, Jeremias declarou aos judeus que eles eram, apesar de tanto se jactarem de sua força, tão frágeis quanto o barro e tão sujeitos à vontade de Deus quanto o barro ao oleiro. A posição e todos os privilégios de que desfrutavam eram providências divinas, para que fossem vasos de honra. Mas, no processo de formação, resistiram à vontade e ao poder do Oleiro celestial. Não se deve perder de vista o fato de que “o teor completo dessa parábola, bem como o conhecido caráter de Deus são contrários à conclusão de que o Senhor tivesse algum prazer no caráter degenerado de Israel ou de alguma forma tivesse contribuído para esse estado”. O vaso quebrado não era culpa do oleiro. Alguma substância estranha no barro frustrou seus esforços e arruinou o seu trabalho.
Essa parábola é de atos, não de palavras, visto que não há registro de conversa entre o profeta e o oleiro. Enquanto Jeremias observava a obra criada nas rodas, por meio do que viu pôde ouvir Deus falar. De pronto identificou o significado simbólico do oleiro e do barro, embora o próprio oleiro não visse nada de parabólico em sua obra. Jeremias, contudo, aprendeu a mensagem no vaso quebrado e assim desafiou a nação que frustrara o propósito divino: “Não posso fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel?”.
Nenhuma das parábolas do AT nos fala de modo mais direto, pessoal e abrangente do que essa. Embora a primeira interpretação refira-se ao Israel de então, a parábola tem aplicação muito mais abrangente. Os profetas do AT foram antes de tudo mensageiros da época em que viviam —anunciadores antes de atuar como prenunciadores ou mensageiros das gerações seguintes. A Parábola do oleiro e do barro, então, era toda acerca de Deus e de Israel. É toda acerca de Deus e de nós mesmos.
Deus, contudo, é o Deus da segunda oportunidade, o que Jeremias aprendeu ao observar o oleiro amassando o barro que o decepcionara e transformando-o em um vaso encantador. Que excelente parábola sobre o que o tratamento que Deus dispensa aos homens e às nações! (Rm 9:21; 2Tm 2:20). Acaso o Senhor não é capaz de reconstruir o caráter, a vida e a esperança? Sua vida está deformada por resistir à modelagem das mãos de Deus? Bem, sendo dele, você está ainda em suas mãos (Jo 10:28,29), e ele espera moldá-lo outra vez, da mesma maneira que transformará Israel em vaso de grande honra quando retornar para introduzi-lo em seu reino. Então, como nunca antes, Israel será a sua glória. Enquanto permanecermos em suas mãos como barro submisso, nada temos a temer. Ainda que sejamos fracos e sem valor, ele pode fazer de nós vasos de honra, próprios para ele usar.
Mas de Ti preciso, como antes,
De Ti, Deus, que amaste os errantes;
E como, nem mesmo nos piores turbilhões,
Eu —à roda da vida,
Multiforme e multicolorida,
Atordoadamente absorto— errei meu alvo, para abrandar Tua sede,
Então toma e usa a Tua obra!
Conserta toda falha que sobra,
As distorções da matéria, as deformações do alvo!
Meus momentos estão em Tua mão:
Arremata o vaso segundo o padrão!
Que os anos revelem os jovens, e a morte os dê por consumados.
Herbert Lockyer.
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