quarta-feira, 29 de junho de 2016

O pai amoroso

Pai. Ele disse a palavra em voz alta enquanto olhava para si mesmo. — Costumavam dizer que eu era parecido consigo. Agora o senhor nem mesmo me reconheceria. Puxa vida, dei com os burros n'água, não dei?

Ele ergueu-se e pôs-se a andar.

A estrada que levava de volta ao lar era mais longa do que se lembrava. Na última vez que viajara por ela, seu estilo havia feito cabeças voltarem-se. Se fizesse cabeças se voltarem dessa vez, seria por causa do seu fedor. Suas roupas estavam rasgadas, o cabelo emaranhado, os pés pretos. Mas isso não o incomodava porque, pela primeira vez em todo um calendário de sofrimentos, ele estava com a consciência limpa.

Estava voltando ao lar. Voltava ao lar como um homem transformado. Não exigindo receber o que merecia, mas disposto a aceitar qualquer coisa que pudesse receber. "Dê-me" havia sido substituído por "ajude-me", e sua rebeldia havia sido substituída pelo arrependimento.

Voltou pedindo tudo, nada tendo para dar em troca. Não tinha dinheiro algum. Não tinha desculpa alguma.

E não tinha a menor ideia de quanto o pai havia sentido a sua falta.

Não tinha a menor ideia do número de vezes em que o pai se havia detido entre duas tarefas a fim de espiar pelo portão da frente a ver se enxergava o filho. O rapaz não tinha a menor ideia do número de vezes em que o pai havia acordado de um sono inquieto, ido ao quarto do filho e sentado na cama do rapaz. E o filho jamais teria acreditado nas horas em que o pai havia-se sentado na varanda, próximo da cadeira de balanço vazia, olhando, anelando por ver aquele vulto conhecido, aquele andar aquele rosto.

Enquanto o rapaz fazia a curva que levava à casa, ensaiava mais uma vez o que iria dizer.

"Pai, pequei contra os céus e contra ti."

Ele aproximou-se do portão e colocou a mão na tranca. Começou a levantá-la, depois se deteve. O plano de ir para casa subitamente parecia tolo. "O que adianta?", ele ouviu-se perguntando a si mesmo. "Que chance tenho?" Inclinou a cabeça, voltou-se e começou a se afastar.

Então ouviu os passos. Ouviu as batidas de sandálias. Alguém estava correndo. Ele não se voltou para olhar. É provavelmente um empregado vindo me afugentar ou meu irmão mais velho querendo saber o que estou fazendo de volta à sua propriedade. Começou a afastar-se.

Mas a voz que ouviu não era a voz de um empregado nem a voz do irmão; era a voz do pai.
- Filho!
- Pai?

Ele virou para abrir o portão, mas o pai já o tinha aberto. O filho olhou o pai parado na entrada. Lágrimas brilhavam em suas faces enquanto braços se estendiam do leste ao oeste convidando o filho a vir para casa.

- Pai, pequei... As palavras foram sufocadas enquanto o rapaz enterrava o rosto no ombro do pai.

Os dois choraram. Por uma eternidade, ficaram junto ao portão entrelaçados como se fossem um. As palavras eram desnecessárias. O arrependimento havia ocorrido, o perdão havia sido concedido.

O rapaz estava em casa.

Se existe uma cena nesta história que merece ser emoldurada, é a do pai com as mãos estendidas. Suas lágrimas comovem. Seu sorriso emociona. Mas suas mãos nos chamam ao lar. Imagine essas mãos. Dedos fortes. Palmas enrugadas com as marcas da vida. Abertas, estendidas como um largo portão, deixando a entrada como única opção.

Quando Jesus contou essa parábola do pai amoroso, pergunto-me, será que ele usou as mãos? Quando chegou a esse ponto na história, será que abriu os braços para ilustrar o que dizia?

Será que ele percebeu os pensamentos daqueles na audiência que estavam refletindo deste modo: "Eu jamais poderia ir para casa. Não depois da vida que tive"? Será que ele viu uma dona de casa olhar para o chão e um homem de negócios sacudir a cabeça como que a dizer: "Não posso começar de novo. Fiz uma embrulhada grande demais"? E será que ele abriu os braços mais ainda como que a dizer: "Sim. Pode, sim. Pode vir para casa"?

Se ele fez ou deixou de fazer isso aquele dia, não sei. Mas sei que o fez mais tarde. Ele estirou as mãos tanto quanto pôde. Forçou os braços a se abrirem tanto que doeu. E para provar que esses braços jamais se cruzariam e que essas mãos jamais se fechariam, ele fez com que fossem pregados abertos.

Ainda estão assim abertos para mim e para você!!

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