(Texto baseado no livro de Josué – capítulos 23 e 24)
O crepúsculo da noite se aproximava; um espetáculo de cores amareladas, alaranjadas e avermelhadas se expandia por entre as nuvens e montanhas do horizonte, onde, logo atrás, calmamente o astro rei irradiava seus últimos raios refulgentes a tocar as campinas de Canaã, anunciando o prelúdio de mais um descanso noturno.
Recostado ao tronco e sob a larga copa daquele velho e imenso carvalho enraizado ao lado do santuário do Senhor, Josué observava atônito e extasiado como da primeira vez, aquele rito poético e pitoresco que ocorria em quase todos os finais de tarde, durante boa parte dos seus cento e dez anos de vida.
Como de costume, aquele êxtase dos sentidos o conduzia ao louvor e adoração espontânea, enquanto seus olhos embebidos em lágrimas exteriorizavam inocentemente a veracidade e o significado daquele momento de solitude com seu Criador: Simplesmente gratidão.
Gratidão pela liberdade do seu povo, após quatrocentos e trinta anos de cativeiro; gratidão por ser honrosamente escolhido para suceder seu admirado líder e estadista Moisés; pelas diversas batalhas travadas e vencidas contra os gigantes daquelas terras e, finalmente, por ser protagonista e testemunha ocular de que a terra que o Senhor havia prometido a seu pai Abraão, realmente manava leite e mel e pertencia a sua posteridade – “Eu sou essa posteridade e herdeiro dessa promessa cumprida! Valeu apena ter me sacrificado!” Gritava seu coração silenciosamente dentro de si.
Sua visão curta, já não conseguia apreciar tão nitidamente aquele espetáculo de cores presenteado pela natureza. Não! Não que isso diminuísse o prazer da contemplação, mas esse novo por do sol tinha um significado especial, uma nova revelação para sua vida, para a vida do seu povo.
Aquela similaridade entre o por do sol e o escurecimento de sua visão, o levaria a refletir um pouco mais e concluir que estava também de fato, no prelúdio do seu descanso final. Sim, era o crepúsculo do final de sua efêmera vida no corpo cansado dessa nossa morte.
Uma voz sussurrante em meio aquela brisa suave que soprava seu rosto, se misturava ao estalar de folhas secas e canto de pássaros, confirmando e confortando o coração daquele sacerdote guerreiro sobre a aproximação do limiar para a ponte que o conduziria a eternidade.
Era preciso então aproveitar ao máximo aqueles últimos momentos coloridos de sua vida. Assim como um novo nascer do sol haveria de ocorrer a cada manhã daquele emergente Israel, os pactos deveriam ser renovados e reafirmados com seu Deus.
E assim foi feito: Os líderes foram reunidos, a história foi brevemente recontada com ênfase aos feitos e fidelidade de um Deus que nunca se esquecera de suas promessas, apesar da infidelidade de Israel; e ali mesmo, ao lado daquele madeiro de Carvalho, os pactos foram renovados.
Uma nova aliança foi firmada, e para selar essa nova aliança, uma pedra fundamental foi erguida como marco e testemunho daquele ato solene. Assim, Israel pode entrar em Canaã.
Muitos séculos se passaram, e mais uma vez Deus havia se lembrado de Israel e levantado um novo líder para guiá-lo, mas dessa vez, à eternidade.
Em seus três anos de ministério, mudos, cegos, coxos, paralíticos, leprosos, endemoniados, mortos e tantos outros, foram curados, libertos ou ressuscitados.
Sabendo que o último instante de sua jornada no corpo dessa morte aproximava-se do fim, Ele procurou refúgio e solitude no monte das oliveiras com alguns dos seus discípulos, mas encontrou solidão no descaso dos seus amigos. Agora, o sangue que saia pelos poros da sua pele, exteriorizava o sentimento de angústia e aflição de um coração esmagado pelo peso dos pecados de toda humanidade que pairava sobre seus ombros, afastando-o do olhar do Pai.
Não obstante tal circunstância, seu coração ainda mostrava-se grato e fiel, através das últimas palavras saídas de sua boca: - “...que não seja feita a minha, mas a sua vontade.”
Os principais líderes foram reunidos, não para ouvi-lo, mas para caçá-lo, prendê-lo, acusá-lo, digladiá-lo e levá-lo a morte.
Agora, em frente ao Sinédrio, era Ele mesmo a fidelidade e promessas do Senhor na forma de homem, por isso nada precisava dizer. E sem abrir a sua boca, como um cordeiro mudo, cuspido, despido e esbofeteado, doou-se como sacrifício vivo para remissão dos nossos pecados, tornando-se finalmente a pedra fundamental (antes rejeitada) para marco e testemunho dessa nova e eterna aliança, que logo ali, em breve seria erguida e pregada no madeiro, no calvário... Agora, podemos entrar na Canaã Celestial.
Autor: Irenilson Santos
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