segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Revólveres superdestrutivos

Golias possui um revólver superdestrutivo: um magnum .338 feito sob encomenda, de alcance ilimitado, com cano canelado e mira certeira para o coração. Ele não cospe balas, mas tristeza. Não leva vidas, mas sor­risos. Não inflige feridas na carne, mas feridas na fé.

Você já foi acertado?
Se algo o impede de acertar o passo, você já foi atingido. Se parece que você não conseguirá superar a primeira etapa de alguma coisa (ou sair da cama), você já foi atingido. Você dá um passo para frente e dois para trás.
Relacionamentos amargos.
O céu escurece e fica revolto.
Suas noites afrontam o nascer do sol.
Você desmoronou.
Imagine: os problemas são os judeus. Você é Hitler. É como se você estivesse dando a última cartada.
Davi sente-se assim. Saul vem levando a melhor sobre Davi, dei­xando-o dormir em cavernas, espreitando atrás de árvores. Seiscentos soldados dependem de Davi como líder e provedor. Esses 600 homens têm esposas e filhos. Davi tem duas esposas (o suficiente para garantir tensão em sua tenda).
Ele está fugindo de um rei desvairado; escondendo-se em monta­nhas; liderando um bando desordenado de soldados; alimentando mais de 1.000 bocas.
O revólver superdestrutivo encontra seu alvo. Veja o que Davi diz: "Algum dia serei morto por Saul. E melhor fugir para a terra dos filisteus. Assim Saul desistirá de procurar-me por todo o Israel e escaparei dele" (1 Samuel 27:1).
Sem esperança e, principalmente, sem Deus, Davi concentra-se em Saul. Ele pendura o pôster de Saul na parede e torna a ouvir suas men­sagens de voz. Davi afunda em seu medo até que seu medo o domina: "Serei morto.".
Ele tem bom senso. Em dias melhores e em momentos mais saudá­veis, Davi era exemplo da terapia do céu para dias difíceis. A primeira vez em que enfrentou os filisteus no deserto, "ele perguntou ao SENHOR" (23:2). Quando se sentiu pequeno diante de seu inimigo,"Davi consul­tou o SENHOR" (23:4). Quando foi atacado pelos amalequitas, "ele perguntou ao SENHOR" (30:8). Confuso acerca do que fazer depois da morte de Saul,"Davi perguntou ao SENHOR" (2 Samuel 2:1). Quando coroado rei e perseguido pelos filisteus, "Davi perguntou ao SENHOR" (5:19). Davi derrotou-os, mas eles armaram outro ataque, então "Davi consultou o SENHOR" (5:23). Davi tinha o número do telefone de Deus armazenado para discagem rápida.
Confuso? Davi conversou com Deus. Desafiado? Ele conversou com Deus. Com medo? Ele conversou com Deus... na maior parte do tempo. Mas não dessa vez. Nessa ocasião, Davi conversa consigo mesmo. Ele nem busca a orientação de seus conselheiros. Quando Saul atacou pela primeira vez, Davi recorreu a Samuel. Como os ataques continua­ram, Davi pediu conselhos a Jônatas. Quando se viu sem armas e sem pão, ele procurou refúgio entre os sacerdotes de Nobe. Nesse caso, no entanto, Davi consulta Davi.
Pobre escolha. Veja o conselho que ele dá para si mesmo: "Algum dia serei morto por Saul" (1 Samuel 27:1).
Não, você não será, Davi. Você não se lembra do azeite dourado de Samuel em seu rosto? Deus ungiu-o. Você não se lembra da promessa de Deus por meio de Jônatas? "Você será rei de Israel" (23:17). Você se esqueceu da promessa que Deus lhe fez por meio de Abigail? "Quando o SENHOR tiver feito a meu senhor todo o bem que prometeu e te tiver nomeado líder sobre Israel..." (25:30). Deus até garantiu sua segurança por meio de Saul. "Tenho certeza de que você será rei" (24:20).
Mas, em meio à onda de cansaço, Davi pressiona a tecla "pausa" de seus pensamentos bons e pensa:

Algum dia serei morto por Saul. É melhor fugir para a terra dos filisteus. Saul desistirá de procurar-me por todo o Israel e escaparei dele (27:1).

Assim Davi parte, e Saul suspende a caça. Davi bandeia-se para as mãos do inimigo. Ele leva seus homens para a terra dos ídolos e falsos deuses e levanta sua tenda no quintal de Golias. Ele cai em cheio no pasto do próprio Satanás.
A princípio, Davi sente alívio. Saul desiste da perseguição. Os ho­mens de Davi podem dormir com os dois olhos fechados. As crianças podem ir para o jardim de infância e as esposas podem desfazer as malas. Esconder-se com o inimigo traz um alívio temporário.
Nem sempre?
Pare de resistir às bebidas alcoólicas e você rirá — por um tempo.
Troque de cônjuge e você relaxará — por um tempo.
Entregue-se à pornografia e você se entreterá — por um tempo.
Mas depois a tentação crava suas garras. Ondas de culpa arreben­tam. A solidão do rompimento chega atropelando.

Esconder-se com o inimigo traz um alívio temporário.

"Há caminho que parece certo ao homem, mas no final conduz à morte. Mesmo no riso o coração pode sofrer, e a alegria pode terminar em tristeza" (Provérbios 14:12,13).
Aquele "amém" que você acaba de ouvir veio de Davi lá no alto. Ele pode lhe dizer. Veja a terceira estrofe de seu cântico do tombo. No primeiro versículo, "ele se cansou". Por isso "fugiu". E, para sobreviver no campo do inimigo, Davi vendeu-se.
Ele chegou a um acordo com Aquis, rei de Gate: "Dá-me um lugar numa das cidades desta terra onde eu possa viver. Por que este teu servo viveria contigo na cidade real?" (1 Samuel 27:5, grifo meu).
Observe o título que Davi dá para si mesmo: o "servo" do rei ini­migo. O filho antes orgulhoso de Israel e conquistador de Golias levanta um brinde ao inimigo de sua família.
Aquis aceita o acordo. Ele dá para Davi uma aldeia, Ziclague, e pede apenas que Davi se volte contra seu próprio povo e o extermine. Até onde Aquis sabe, Davi faz isso. Mas Davi, na verdade, assalta os ini­migos dos hebreus:

Ele e seus soldados atacavam os gesuritas, os gersitas e os amalequitas... Quando Davi atacava a região, não poupava homens nem mulheres, e tomava ovelhas, bois, jumentos, camelos e roupas. Depois retornava a Aquis (27:8,9).

Não é a melhor hora de Davi. Ele mente para o rei filisteu e en­cobre sua fraude derramando sangue. Continua mentindo por 16 meses. Não existem salmos dessa época. Sua harpa está em silêncio. O revés silencia o menestrel.
As coisas pioram antes de melhorarem.
Os filisteus decidem atacar o rei Saul. Davi e seus homens optam por trocar de lado e se juntam à oposição. Imagine os fuzileiros navais norte-americanos juntando-se aos nazistas. Eles viajam três dias para chegar ao campo de batalha, são rejeitados e viajam três dias de volta para casa.
"Os comandantes filisteus iraram-se contra ele e disseram: '...Ele não deve ir para a guerra conosco, senão se tornará nosso adversário durante o combate'" (29:4).
Davi conduz seus homens indesejados de volta para Ziclague e aca­ba por encontrar a aldeia toda incendiada. Os amalequitas destruíram-na e seqüestraram todas as esposas, filhos e filhas. Quando Davi e seus ho­mens vêem a devastação, eles choram até "não terem mais forças" (30:4).
Rejeitados pelos filisteus. Saqueados pelos amalequitas. Sem terra pela qual lutar. Sem família para recebê-los na volta para casa. Será que as coisas podem piorar? Podem. Ódio brilha nos olhos dos soldados. Os homens de Davi começam a olhar para as pedras. "Os homens falavam em apedrejá-lo; todos estavam amargurados" (30:6).
Temos de perguntar para nós mesmos: Davi está se arrependendo de sua decisão? Desejando dias mais simples no deserto? Os bons e velhos tempos na caverna?

O modo como lidamos com nossos momentos difíceis permanece conosco por um bom tempo.

Ah não havia a rejeição dos filisteus nem os ataques dos amalequitas. Seus homens amavam-no. Suas esposas estavam com ele.
Agora, nas ruínas de Ziclague com homens escolhendo pedras para apedrejá-lo, ele arrepende-se da escolha de sair e se vender que ele fez sem orar?
Tempos de dificuldades: local de teste das más decisões, a incubado­ra para mudanças erradas, a linha de montagem de atos arrependidos. O modo como lidamos com nossos momentos difíceis permanece conosco por um bom tempo.
Como você lida com os seus? Quando a esperança vai embora no último trem e a alegria não é nada senão o nome da menina do outro lado da rua... quando você está cansado de tentar, cansado de perdoar, cansado de semanas difíceis ou de gente teimosa... como você lida com seus dias negros?
Com um frasco de remédio ou uma garrafa de uísque? Com uma hora no bar, um dia no spa ou uma semana no litoral? Muitos optam por tais tratamentos. Tantos desses tratamentos, na verdade, revigoram a vida triste. Mas será? Ninguém nega que ajudam por um tempo, mas e a longo prazo? Eles atenuam a dor, mas será que a removem?
Ou somos como as ovelhas que pularam de um penhasco na Tur­quia? Quem sabe por que a primeira pulou a cerca. Ainda mais estranho são as outras 1.500 que seguiram a primeira, cada uma pulando do mes­mo lugar. Os primeiros 450 animais morreram. Os 1.000 que seguiram só sobreviveram porque a pilha de corpos amorteceu a queda.1
Nós, como ovelhas, seguimos uns aos outros à beira do penhasco, mergulhando de cabeça em bares, farras e camas. Como Davi, acabamos em Gate e descobrimos que Gate não tem nenhuma solução.
Existe uma solução? Na verdade, existe. Fazer certo aquilo que Davi fez errado.
Ele não orou. Faça o contrário: seja rápido para orar. Pare de conver­sar consigo mesmo. Converse com Cristo, que convida: "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso" (Mateus 11:28).
Deus, que nunca se abate, nunca se cansa de seus dias para baixo.
Davi negligenciou o bom conselho. Aprenda com o erro dele. Da próxima vez em que você perder a vontade de continuar, procure um bom conselho.
Você não vai querer. Pessoas que vivem para baixo gostam de pes­soas que vivem para baixo. Pessoas que magoam andam com pessoas que magoam. Gostamos daqueles que se compadecem e evitamos aqueles que corrigem. Contudo, é de correção e direção que precisamos.
Descobri a importância de um bom conselho em um meio triatlo. Depois de nadar dois quilômetros e pedalar 90 quilômetros de bicicleta, não me restava muita energia para os 21 quilômetros de corrida. Nem para o companheiro que corria ao meu lado. Perguntei-lhe como ele estava se saindo e logo me arrependi de ter feito a pergunta.
— Isso é uma droga. Participar desta corrida foi a decisão mais idiota que tomei.
Ele tinha mais reclamações do que um contribuinte da Receita Federal. Que resposta dei para ele?
— Adeus.
Eu sabia que se ouvisse por muito tempo, começaria a concordar com ele.
Alcancei uma vovó de 66 anos. Seu tom era exatamente o oposto.
— Você vai terminar — ela incentivou. — Está quente, mas, pelo menos, não está chovendo. Um passo de cada vez... Não se esqueça de se hidratar... Fique por perto.
Corri ao lado dela até meu coração ficar acelerado e minhas pernas ficarem doendo. Por fim, tive de diminuir o passo.
— Não tem problema — ela disse, acenando enquanto continuava em frente.
Qual dos dois descreve o conselho que você procura? "Os planos fracassam por falta de conselho, mas são bem-sucedidos quando há mui­tos conselheiros" (Provérbios 15:22).
Seja rápido para orar, procure um bom conselho e não desista.
Não cometa o erro de Florence Chadwick. Em 1952, ela tentou nadar nas águas geladas do oceano entre a ilha Catalina e a costa da Cali­fórnia. Ela nadou com um tempo nublado e o mar agitado por 15 horas. Seus músculos começaram a ter cãibras e sua determinação diminuiu.

Seja rápido para orar, procure um bom conselho e não desista.

Ela pediu para ser tirada da água, mas sua mãe, que estava em um barco ao lado, insistiu para que ela não desistisse. Ela continuou tentando, mas ficou exausta e parou de nadar. O grupo de apoio tirou-a da água e colocou-a no barco. Eles remaram mais alguns minutos, a neblina desapa­receu e ela descobriu que a costa estava a menos de 800 metros.
— Tudo o que eu conseguia ver era o nevoeiro — ela explicou em uma coletiva de imprensa. — Acho que, se tivesse visto a costa, eu teria chegado lá.2
Dê uma boa olhada na costa que o espera. Não se deixe enganar pelo nevoeiro do contratempo. A Unha de chegada pode estar a apenas algumas braçadas. Talvez Deus esteja, nesse momento, levantando a mão para fazer um sinal para Gabriel pegar a trombeta.

Dê uma boa olhada na costa que o espera. Não se deixe enganar pelo nevoeiro do contratempo. A linha de chegada pode estar a apenas algumas braçadas.

Os anjos talvez estejam se reunindo, os santos se juntando, os de­mônios tremendo. Fique aí! Fique na água. Continue na competição. Transmita graça, mais uma vez. Seja generoso, mais uma vez. Dê mais uma aula, encoraje mais uma alma, dê mais uma braçada.
Davi fez isso. Bem ali, em meio às ruínas em brasa, ele encontrou força. Depois de 16 meses em Gate. Depois da rejeição dos filisteus, do ataque dos amalequitas e da revolta de seus homens, ele lembrou o que fazer. "Davi, porém, fortaleceu-se no SENHOR, o seu Deus" (1 Samuel 30:6).

É bom tê-lo de volta, Davi. Sentimos sua falta enquanto você estava longe.

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