terça-feira, 16 de março de 2010

Compaixão Criativa! Texto apresentado no domingo.

"Está consumado!" João 19.30.

"No princípio criou Deus os céus e a terra."1 É isso que lemos. "Deus criou os céus e a terra." Não está escrito: "Deus fez os céus e a terra." Nem que ele fez um "xerox" dos céus e da terra. Ou "construiu" ou "desenvolveu" ou "produziu em série". De modo algum. A palavra foi "criou".

Essa palavra diz muito. Criar é muito diferente de construir. A diferença é evidente. Construir alguma coisa ocupa apenas as mãos enquanto criar envolve o coração e a alma.

Você já deve ter notado isso em sua vida. Pense em alguma coisa que tenha criado. Um quadro talvez. Ou uma canção. Aquelas linhas de poesia que nunca mostrou a ninguém. Ou até mesmo a casinha de cachorro no quintal.

Como você se sente com respeito à criação? Bem? Espero que sim. Orgulhoso? Um tanto protetor? Deveria. Parte de você vive nesse projeto. Quando você cria algo está colocando seu "eu" nele. Trata-se de um evento bem mais importante do que um dever ou tarefa comuns; é uma expressão de sua pessoa!

Imagine agora a criatividade de Deus. De tudo quanto não sabemos sobre a criação, há algo que sabemos — ele a fez sorrindo. Deve ter sido uma aventura. Pintar as listas na zebra, pendurar as estrelas no céu, colocar o tom dourado no pôr-do-sol. Que criatividade! Esticar o pescoço da girafa, colocar movimento nas asas dos pássaros, fazer com que a hiena ria.

Como se divertiu. Como o carpinteiro assobiando em sua oficina, aproveitou cada momento. Atirou-se ao trabalho. Sua criatividade foi tão intensa que tirou um dia de folga no final da semana só para descansar.
Depois disso, como um final de concerto brilhante, fez o homem. Com seu talento típico, ele começou com um monte inútil de terra e terminou com uma espécie de valor incalculável chamada de ser humano. Um ser humano que tinha a honra singular de levar o rótulo, "A Sua Imagem".


Neste ponto da história nos sentimos tentados a pular e bater palmas. "Bravo!" "Bis!" "Inimitável!" "Belíssimo!"
Mas o aplauso seria prematuro. O Artista Divino vai revelar ainda sua maior criação.

A medida que a história se desenrola, uma cobra diabólica alimenta Adão com uma linha e uma fruta e o ingênuo homem engoliu a ambas. Este ato de rebe­lião pôs em movimento uma comunicação errática entre Deus e o homem. Embora os personagens e a cena mudem, o cenário se repete interminavelmente. Deus, ainda o Criador compassivo, faz a corte à sua criação. O homem, a criação, alternadamente se aproxima arrependido e foge em rebelião.

A criatividade de Deus floresce dentro desse "script" simples. Se você já o julgou imaginativo com o mar e as estrelas, espere só até ler o que ele faz para que sua criação o obedeça: Por exemplo: Uma mulher de noventa anos fica grávida.

Outra mulher se transforma em estátua de sal. Um dilúvio cobre a terra. Uma sarça arde (mas não se queima!) O Mar Vermelho se parte em dois. As muralhas de Jericó caem. Fogo chove do céu. Um asno fala.

E você fala de efeitos especiais! Esses atos, por mais engenhosos que sejam, não se poderiam compa­rar com o que estava para vir.

Perto do clímax da história, motivado pelo amor e orientado pela divindade, Deus surpreendeu a todos. Ele tornou-se homem. Num mistério intocável, dis­farçou-se de carpinteiro e viveu numa poeirenta cida­de judia. Decidido a provar seu amor pela criação, andou incógnito pelo seu próprio mundo. Suas mãos calosas tocaram feridas e sua língua compassiva tocou os corações. Ele tornou-se um de nós.

Você já viu tamanha decisão? Já testemunhou um tal desejo de comunicar-se? Se uma coisa não dava certo tentava outra. Se uma abordagem falhava, se utilizava de outra nova. Sua mente jamais parava. "Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes e de muitas maneiras", escreve o autor de Hebreus, "nes­tes últimos dias nos falou pelo Filho".

Por mais belo porém que tivesse sido este ato de encarnação, não foi o máximo. Como um pintor magistral, Deus reservou sua obra-prima para o fim. Todos os atos anteriores de amor levavam para ela. Os anjos se calaram e os céus fizeram uma pausa para observar o final. Deus desvenda a tela e o último ato de compaixão criativa é revelado.
Deus numa cruz.

O Criador sendo sacrificado pela criação. Deus convencendo o homem de uma vez por todas de que o perdão ainda é concedido após a falha.

Fico imaginando se, enquanto se achava na cruz, o Criador permitiu que, seus pensamentos retrocedes­sem até o começo. Fico imaginando se ele permitiu que os milhares de faces e atos marchassem em fila pela sua memória. Ele pensou na criação do céu e do mar? Relembrou as conversas com Abraão e Moisés? Lembrou-se das pragas e das promessas, do deserto e das peregrinações? Não sabemos.

Sabemos, no entanto, o que ele disse.

"Está consumado."

A missão acabara. Tudo o que o pintor perfeito tinha a fazer já estava pronto e feito esplendidamente. A sua criação podia agora voltar para casa.

"Está consumado!" gritou ele.

E o grande Criador foi para casa.

(Ele não está descansando, no entanto. Foi dito que suas mãos incansáveis estão preparando uma cidade tão gloriosa que até os anjos ficam arrepiados ao vê-la. Considerando o que ele fez até agora, essa é uma criação que planejo ver.)

Texto Extraído do Livro: Seu nome é Salvador de Max Lucado

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