segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Obediência - Ministração de Domingo - Pra. Arlety

“Estejam todos sujeitos ao poder da autoridade, porque não existe autoridade que não venha de Deus; e os que existem foram estabelecidas por Deus. Por isso, quem se opõe à autoridade, apõe-se à ordem de Deus" (Rm 13,1).

Como lutamos contra os vícios e pecados da língua, do orgulho, da impureza, precisamos lutar contra os vícios do pecado da desobediência. Quando obedecemos fazemos um bem às autoridades, à Igreja e um grande bem a nós mesmos, pois estamos nos assemelhando mais e mais a nosso Senhor Jesus Cristo. Obediência e humildade andam juntas, da mesma forma que orgulho e desobediência andam de mãos dadas.

"Tudo é feito a partir da Obediência a Deus".

Alguém disse que "se hoje existe um problema de obediência, não é o da docilidade direta ao Espírito Santo - ao qual cada um diz submeter-se de boa vontade -, mas mais o da submissão a uma hierarquia, a uma lei e a uma autoridade humana".

"A obediência é restaurada através da graça".

Jesus não renovou a obediência humana restaurando ou aperfeiçoando as leis já existentes, mas dando, no dia de Pentecostes, uma lei nova e interior, realizando assim a profecia que diz: Infundir-vos-ei o meu Espírito, e farei que procedais segundo os meus preceitos, observeis e ponhais em prática os meus mandamentos, as minhas leis (Ez 36,27). O Espírito, portanto, é a graça.

O verdadeiro fundamento da obediência cristã não é uma idéia de obediência, mas é um ato de obediência; um acontecimento: Cristo se fez obediente até a morte (Fl 2,8); Cristo aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu; e, consumando em perfeição, tornou-se a causa da salvação eterna para todos os que lhe obedecem (Hb 5,8-9).

No Novo Testamento, a obediência de Cristo não é só o mais sublime exemplo de obediência, mas é seu fundamento.

Assim como pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores, assim pela obediência de um só todos virão a ser justos (Rm 5,19; cf. 1Cor 15,22). Em Cristo a obediência "até a morte, e morte de cruz" (Fl 2,6.).

Na origem de todas as desobediências está uma desobediência a Deus, e na origem de todas as obediências está a obediência a Deus. São Francisco diz que a desobediência de Adão consistiu no apropriar-se de sua vontade: "Come da árvore da ciência do bem e do mal quem se apropria de sua vontade". Compreende-se, por oposição, em que consistiu a obediência do novo Adão. Ele desapropriou-se de sua vontade, esvaziou-se, aniquilou-se (ekenosen): Não se faça a minha vontade, mas a tua, orou ao Pai (Lc 22,42); e ainda: Eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou (Jo 6,38).

A obediência de Jesus ao Pai manifesta-se, sobretudo, pela obediência à palavra escrita. No episódio das tentações no deserto, a obediência de Jesus consiste em relembrar as palavras de Deus e ater-se a elas: "Está escrito!" As palavras de Deus, sob a ação atual do Espírito, tornam-se veículos da vontade viva de Deus e revelam o seu caráter "vinculante" de ordens de Deus.

A excelência da obediência de Jesus mede-se "pelas coisas que sofreu", e subjetivamente pelo amor e pela liberdade com que obedeceu.

Três disposições com que alguém pode obedecer:

por temor de castigo (disposição dos servos);

pelo desejo do prêmio (disposição dos mercenários);

por AMOR (disposição dos filhos).

Na visão escolástica - cujo esquema das virtudes se baseava em Aristóteles e no estoicismo - a obediência está unida à justiça; como tal faz parte das virtudes morais que têm por objeto os meios, não o fim.

Para a Bíblia, no Novo Testamento em particular, a obediência, a Deus, está unida sobretudo a fé, chegando mesmo muitas vezes a confundir-se com ela. Refere-se, por isso, não só aos meios, mas também ao fim; leva à adesão ao mesmo Deus e não só aos bens intermediários mesmo que seja "o bem comum". Está escrito: Pela fé Abraão obedeceu ao chamado de Deus (Hb 11,8).

A obediência é uma espécie de fé necessária quando a palavra revelada contém não tanto uma verdade de Deus a ser admitida, mas uma vontade de Deus a ser cumprida. A fé, num outro sentido, é obediência mesmo quando se nos apresenta como verdade a ser admitida, porque a razão não a aceita por sua evidência, mas por sua autoridade.

A expressão "obediência à fé", que aparece em (Rm 1,5; 16,26), não significa somente obedecer às coisas que se crêem, mas também obedecer crendo, pelo fato mesmo de se acreditar.

Aprendemos que Deus quer a obediência, não o sacrifício (1Sm 15,22; Hb 10,5-7). Sabemos, contudo, que no caso de Cristo Deus quis também o sacrifício e que o quer também de nós... O significado da frase é, portanto, este: o que Deus busca no sacrifício é a obediência. O sacrifício da própria vontade é o meio para chegar à conformidade com a vontade divina.

"Na obediência - dizia um Padre do deserto - realiza-se a semelhança com Deus e não só o ser a imagem de Deus". Pelo fato de existir, somos a imagem de Deus, mas, pelo fato de obedecer, somos também sua semelhança, no sentido de que, obedecendo nos conformamos à sua vontade; tornando-nos, por livre escolha, o que ele é por natureza. Assemelhamo-nos a Deus porque queremos as mesmas coisas que Deus quer.

Assim entendemos que a obediência, antes de ser virtude, é dom; antes de ser lei, é graça. A diferença entre as duas coisas é que a lei diz para fazer, enquanto que a graça diz que dá para fazer. A obediência é, antes de tudo, obra de Deus em Cristo, que é manifestada ao crente para que, por sua vez, a exprima na vida por uma filial imitação. Por outras palavras, nós não temos apenas o dever de obedecer, mas temos já também a graça de obedecer!

Obedecer é morrer! Obedecer é desapropriar-se da própria vontade.
É renúncia! É esvaziar-se de si.

É fazer mesmo sem entender como Abraão que sacrificaria o próprio filho (Gênesis 22,1-18). A Bíblia chama "obediência" a atitude de mesmo que não se tratasse de levar Abraão a renunciar à sua vontade, mas de pôr sua fidelidade à prova.

Como Josué na conquista de Jericó (Jos 6,1-27). "O Senhor disse a Josué: "Vê, entreguei-te Jericó, seu rei e seus valentes guerreiros. Dai volta à cidade vós todos, homens de guerra; contornai toda a cidade uma vez. Assim farás durante seis dias. Sete sacerdotes, tocando sete trombetas, irão adiante da arca. No sétimo dia dareis sete vezes volta à cidade, tocando os sacerdotes a trombeta. Quando o som da trombeta for mais forte e ouvirdes a sua voz, todo o povo soltará um grande clamor e a muralha da cidade desabará" (Josué 6,1-5).Por mais que perecesse loucura Josué obedeceu. (Josué 6,6-7).

A verdadeira fonte da autoridade espiritual cristã é a obediência. O centurião do Evangelho disse a Jesus: Porque também eu sou um homem sujeito a outro poder, tendo soldados às minhas ordens, e digo a um: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz (Lc 7,8). O sentido dessas palavras é o seguinte: pelo fato de estar sujeito, isto é, obediente, aos seus superiores e, em última instância, ao imperador, ele pode dar ordens que têm o respaldo do imperador em pessoa; os seus soldados prestam-lhe obediência, porque, por sua vez, obedece e está sujeito ao seu superior.

Assim - pensava o centurião - acontecia também a Jesus, diante de Deus: do momento em que ele está em comunhão com Deus e obedece a Deus, tem o respaldo da mesma autoridade de Deus e, por isso, manda que o seu servo fique curado e ele haverá de curar-se, pode mandar à doença que o deixe e ela o deixará. É a força e a simplicidade deste argumento que deixou Jesus admirado e lhe fez dizer que jamais havia encontrado tanta fé em Israel. O centurião compreendeu que a autoridade de Jesus e os seus milagres procediam da sua perfeita obediência ao Pai.

Jesus não fazia depender tanto a sua autoridade e o fato de que deviam obedecer-lhe de sua dignidade e do título de Filho de Deus que possuía, mas muito mais da razão de que ele cumpria, em todos os instantes, a vontade do Pai: O que me enviou - dizia - está comigo e não me deixou só; porque eu faço sempre aquilo que é do seu agrado (Jo 8,29).

Conceber autoridade como obediência significa não contentar-se apenas com a autoridade, mas procurar também o respeito que só pode existir pelo fato de Deus estar por detrás e apoiar a tua decisão.

Quando uma ordem é dada por um superior, que procura viver habitualmente segundo a vontade de Deus, que se dedica à oração e nada de seu tem a defender, mas só o bem do súdito, então a autoridade mesma de Deus se apresenta como penhor daquela ordem e daquela decisão. Se houver contestação, Deus diz então a seu representante aquilo que disse a Jeremias: Eu te estabeleci hoje como uma cidade fortificada, e como um muro de bronze...E pelejarão contra ti, mas não prevalecerão, porque eu sou contigo para te livrar (Jr 1,18-19). Certamente, se existe crise de obediência, é porque existe antes crise de autoridade.

Se não obedece à autoridade constituída por Deus - àquele que o Senhor ressuscitado pôs à frente da Igreja (da comunidade ou do grupo) -, como pode dizer que obedece ao Ressuscitado? Pois Aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, como pode amar a Deus, a quem não vê? (1Jo 4,20). Precisamos, então obedecer ao pastor, ao dirigente, ao formador, e qualquer autoridade designada por Deus.

Vamos retomar o exemplo de Josué na conquista de Jericó... Vimos que ele obedeceu a tudo o que Deus lhe ordenara, convocando os sacerdotes e o povo a dar voltas em torno à cidade murada... o Senhor disse: "todo o povo soltará um grande clamor e a muralha desabará" (Jos 6,5). Então "Josué convocou os sacerdotes e disse-lhes: 'Levai a arca da aliança, e sete sacerdotes estejam diante dela tocando as trombetas.' E disse em seguida ao povo: 'Avante! Dai volta à cidade, marchando os guerreiros diante da arca do Senhor.'" (Jos 6,6-7).

"Logo que Josué acabou de falar, os sete sacerdotes, levando as sete trombetas, retumbantes, puseram-se em marcha diante do Senhor, tocando os seus instrumentos; e a arca da aliança do Senhor os seguiu. Marcharam os guerreiros diante dos sacerdotes que tocavam a trombeta..." (Jos 6,8-9).

Por que o povo obedeceu? Porque Josué era o líder, era exemplo. Josué era respeitado, não porque isso era imposto, mas o respeito foi adquirido. O povo percebia nos atos de Josué a sua fidelidade e dedicação à obra do Senhor. Abra a Palavra em Números, cap. 27, vers.15: Moisés pede a Deus um sucessor. "O Senhor respondeu a Moisés: 'Toma Josué, no qual reside o Espírito, e impõe-lhe a mão. Apresentá-lo-ás ao sacerdote Eleazar e a toda a assembléia, e o empossarás sob os seus olhos. Tu o investirás de tua autoridade, a fim de que toda a assembléia dos israelitas lhe obedeça'" (Num 27,18-20).

Josué recebeu a autoridade de Deus. Ele foi escolhido para finalmente entrar em Canaã, a terra prometida por Deus a Moisés (cf. Jos 1). Portanto, o povo obedeceu a Josué porque primeiro Josué obedeceu a Deus. O exemplo se dá não em palavras, mas em atos. Além disso, o povo não contestava porque tinha confiança. Tinha confiança, sobretudo, na obediência de Josué a Deus.

“Todos vós, em vosso mútuo tratamento, revesti-vos de humildade; porque Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes (Prov 3,34). Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele vos exalte no tempo oportuno" (1Pe 5,5b-6).

A humildade precisa ser mútua. Da autoridade para com o servo e vice-versa. Mas, principalmente, por sermos irmãos, devemos nos relacionar com amor fraterno. Antes de ser autoridade ou servo, somos irmãos!

Vimos também a necessidade de obedecer sem questionar, pois a autoridade é designada por Deus para estabelecer a Sua vontade. Quem obedece não peca. Vimos que desobediência é pecado, então mais vale permanecer na graça, ou seja, obedecendo. E obedecendo por AMOR!

O que fazer quando se configura um conflito - o superior humano pede que seja feita alguma coisa diversa ou oposta àquela que se crê ser mandada por Deus? Obedeça. E sirva com alegria, sem murmuração. Algumas vezes pensamos que algo não é a vontade de Deus... mas "os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos, e os seus caminhos não são os nossos caminhos; eles distam entre si tanto quanto o céu da terra" (Is 55,8-9). Repetindo: sirva com alegria, você serve a Deus e não aos homens!

E obedecemos porque, como aprendemos, acreditamos que a autoridade espiritual vem de Deus. A autoridade humana, em comunhão com Deus, obedece a Ele e faz cumprir a Sua vontade. Então obedecemos crendo que é ordem do próprio Deus. Agora, se ficou alguma dúvida no seu coração, converse com o seu superior, pois ambos devem estar sempre abertos ao diálogo. E, principalmente, evite a polêmica. É válido conversar, mas não contestar (contestar é duvidar, opor-se, ir contra).

E, se mesmo conversando, você não se convenceu, então ore a Deus, pedindo para que Ele mude a situação e a Sua vontade seja estabelecida. "Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças" (Fil 4,6).

"Servos, obedecei em tudo a vossos senhores terrenos, servindo não por motivo de que estais sendo vistos, como quem busca agradar a homens, mas com sinceridade de coração, por temor a Deus. Tudo o que fizerdes, fazei-o de bom coração, como para o Senhor e não para os homens, certos de que recebereis, como recompensa, a herança das mãos do Senhor. Servi a Cristo, Senhor" (Cl 3,22-24).

"Servos, obedecei aos vossos senhores temporais, com temor e solicitude, de coração sincero, como a Cristo, não por mera ostentação, só para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, que fazem de bom grado a vontade de Deus. Servi com dedicação, como servos do Senhor e não dos homens" (Ef 6,5-7).

O desejo de santidade certamente nos faz renunciar a direitos e por amor submeter nossa vontade à autoridade de outros. A obediência nasce de uma verdadeira conversão. Em toda história do povo de Deus tivemos homens eleitos que vão à frente, conduzindo para a vontade do Senhor. Na nossa comunidade não pode ser diferente. Precisamos ter pessoas que sejam imparciais, atentas e dispostas a ouvir e cumprir a vontade divina.

Através da oração diária, o Espírito Santo pode fazer esta obra de restabelecimento do desejo e da inclinação a uma vivência da obediência cristã. Mas veja, essa é uma obra do Espírito, se não for assim perderemos a liberdade. Antes de ser um dever, a obediência é uma graça, liberta-nos de nós mesmos, faz-nos semelhantes Àquele que amamos e a quem servimos.

No amor de Cristo que nos une.

BIBLIOGRAFIA
Bíblia Sagrada, Versão Atualizada
Raniero Cantalamessa, OBEDIÊNCIA, Edições Loyola.

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