MINISTRAR OU SERVIR?
Eu creio firmemente que uma das características que vai diferenciar a igreja do mundo em geral é a sua capacidade de servir.
Lembremos do que Jesus ensinou: “sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva” (Mt 20.25,26).
Numa sociedade dominada pelo egoísmo - e, muitas vezes, com o uso da própria força, seja ela política, econômica ou mesmo física -, tenho certeza de que a nossa luz vai brilhar ainda mais se, em contraste, tivermos uma disposição de servir a Deus e aos seres humanos que Ele criou.
Essa compreensão se torna clara quando entendemos o princípio do serviço esboçado nas Escrituras: “servi ao Senhor com alegria … sabei que o Senhor é Deus: foi ele quem nos fez e dele somos; somos o seu povo, e rebanho do seu pastoreio” (Sl 100.2,3); e “não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço” (1Co 6.19). Certa vez eu ouvi alguém dizer que o cristão tem livre arbítrio. Mas esse entendimento não está de acordo com as Escrituras.
O livre arbítrio é para quem não nasceu de novo. Para nós, que fomos comprados pelo sangue de Jesus e nascemos de novo, resta apenas OBEDECER. Nós não pertencemos mais ao diabo e nem a nós mesmos! Somos “de propriedade exclusiva de Deus” (1Pe 2.9). Isso quer dizer que a propriedade de Deus sobre nós exclui as demais, inclusive a propriedade que gostamos de manter sobre nós mesmos, tentando administrar nossas vidas como bem entendemos. “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6.24).
E a liderança da igreja tem um papel importantíssimo nesta questão: ela deve ser padrão para os fiéis. A Bíblia nos ensina que Jesus “não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20.28). Após ter lavado os pés dos discípulos, dando o exemplo, Ele disse: “ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 13.14). Davi, que foi rei em Israel, é citado nas Escrituras como tendo “servido à sua própria geração conforme o desígnio de Deus” (At 13.36).
Seguidamente escutamos algumas pessoas, preocupadas com a sua função no corpo de Cristo, perguntarem: “e o meu ministério?” Muitas delas, inclusive, usando essa mesma expressão como argumento, e impulsionadas por ambiciosos sonhos pessoais, precipitaram-se em decisões erradas, ferindo, com tais atitudes, a própria igreja, como se os “outros irmãos” nada tivessem a ver com as suas vidas, e como se os ministérios existissem para causar divisão no corpo. Mas não foi o apóstolo Paulo quem disse que “somos membros uns dos outros” (Rm 12.5) e que “se um membro sofre, todos sofrem com ele” (1Co 12.26)? O que realmente quer dizer a palavra “ministério”?
É interessante observar que a expressão característica para o vocábulo “ministério” no Novo Testamento é a palavra diakonia, que em sua tradução significa “serviço”, cuja definição é “ato ou efeito de servir; exercício de funções obrigatórias; trabalho; utilidade” (Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, 11ª edição, pág. 1047).
Quando os apóstolos não estavam mais dando conta do seu trabalho, eles convocaram a comunidade dos discípulos para a escolha de diáconos, alegando o seguinte: “não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens … aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra” (At 6.2-4). É bom dizer que no texto acima a palavra “servir” e a palavra “ministério” têm origem no mesmo vocábulo: diakonein, cuja tradução é “servir as mesas”, dando a idéia de alguém que serve uma refeição. Exemplo semelhante encontramos com relação a Paulo no livro de Atos: “tendo enviado a Macedônia dois daqueles que lhe ministravam (serviam), Timóteo e Erasto, permaneceu algum tempo da Ásia” (19.22).
No mês de março deste ano, ao completar trinta e dois anos de idade, eu me recordo de estar em meu quarto orando quando, então, o Espírito Santo me trouxe ao coração o que disse Davi: “Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim. Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma” (Sl 131.1,2). Muitas pessoas ainda “andam à procura” do seu “próprio ministério” porque ainda não compreenderam o que é servir. Neste salmo, inclusive, podemos ver que não basta fazer a alma calar. É preciso, também, fazê-la sossegar! Jesus, muito embora Marta estivesse agitada “de um lado para outro, ocupada em muitos serviços”, valorizou a atitude de Maria, que estava aos seus pés “a ouvir-lhe os ensinamentos” (Lc 10.39,40).
Logo após a ascensão de Jesus ao céu, os apóstolos voltaram para Jerusalém e oraram: “Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido, para preencher a vaga neste ministério e apostolado, do qual Judas se transviou, indo para o seu próprio caminho” (At 1.24,25). Deus, aqui, não precisava de “novos ministérios”. Ele apenas queria que alguém se encaixasse na vaga que precisava ser preenchida. E, segundo o texto, isso dependia exclusivamente do coração de cada um. Deus, por acaso, mudou?
A Bíblia refere: “servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus … se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que em todas as coisas seja Deus glorificado” (1Pe 4.10,11). Quando entendemos o princípio do serviço - de que somos servos de Deus -, servimos a todos indiscriminadamente, sem exceção. Consequentemente, Deus supre as nossas carências e imperfeições com alimento, para que a nossa despensa esteja sempre cheia e seja útil para os que têm fome. E por quê? Para que Deus – e não nós – “seja glorificado”.
Não percamos tempo andando à procura. Tenhamos um coração disposto a servir. “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma” (Ec 9.10). E nunca nos esqueçamos da advertência de Jesus: “Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso, e não te assistimos (servimos)? Então lhes responderá: Em verdade vos digo que sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer” (Mt 25.44,45).
Autor: Christian Lo Iacono
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