quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Funções do corpo e a revelação no espírito.


Funções do corpo. O corpo possui três funções básicas: recepção, instinto, expressão.
Recepção é a capacidade do corpo de captar informações do mundo exterior, através dos cinco sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar).
Instinto é a capacidade do corpo de reagir automaticamente em resposta aos estímulos externos. Por exemplo: instinto de sobrevivência, o instinto de autodefesa, o instinto sexual, etc. Nosso corpo tem vários sistemas orgânicos instintivos, cada qual cumprindo uma função específica, mas também   trabalhando de maneira maravilhosamente harmoniosa, a fim de manter-nos vivos (por exemplo, os sistemas respiratórios, o sistema digestivo, o sistema circulatório).
Os instintos são automáticos e em si mesmo não são pecaminosos. Deus criou instintos bons, mas a queda do homem os degenerou. O instinto de sobrevivência, que inclui comer e beber, pode se degenerar em glutonaria e alcoolismo. O instinto de defesa, que inclui esquivar-se e proteger-se, pode se degenerar em ira e todo tipo de violência. O instinto sexual, que inclui reprodução e prazer com o cônjuge, pode se degenerar em adultério, prostituição, homossexualismo e sodomia.
Expressão é a capacidade de o corpo externar os pensamentos, os sentimentos e as decisões da alma. Inclui a fala e a linguagem corporal.

Algumas aplicações práticas importantes sobre o conhecimento do espírito, alma e corpo

Estágios da salvação. A salvação é um processo que envolve três estágios, os quais ocorrem no passado, no presente e no futuro. Cada estágio ocorre numa parte específica do nosso ser:
1. Regeneração do espírito (evento passado, definitivo): Ef 1.13, 2Co 5.17, Mt 26.41. Nosso espírito foi de uma vez por todas restaurado e conectado a Deus, pelo Espírito Santo que veio habitar dentro de nós. Ele não pode e não vai sair da vida de um cristão salvo, a menos que este entre em um processo de apostasia e aí permaneça até o ponto “calcar aos pés o Filho de Deus, profanar o sangue da aliança e ultrajar o Espírito da graça (Hb 10.26-29,39).
2. Transformação da alma (processo presente, em andamento): Rm 12.2, Ap 22.14, Hb 12.14. No céu não teremos uma nova alma. Nossa personalidade individual será preservada, embora não o nosso caráter, o qual devemos transformar segundo o caráter de Cristo. Esse processo de quebrantamento e transformação da alma requer nossa colaboração ativa, em parceria com o Espírito Santo, como será detalhado mais adiante na Parte 2 deste curso.
3. Glorificação do corpo (evento futuro, ansiosamente esperado): Fp 3.21. Nosso corpo natural não tem conserto nem salvação. No céu receberemos um novo corpo, semelhante ao de Jesus.


 A revelação no espírito. Revelação espiritual não é, como muitos entendem, apenas “receber um recado específico de Deus para sua vida”. Isso é somente um aspecto da revelação divina, expressando-se através do dom da palavra de conhecimento. Na verdade, “revelação é, simplesmente, ver do ponto de vista de Deus. É saber algo que talvez nossa mente até já saiba, mas que passa a ser visto e entendido sob a luz do Espírito Santo. É quando as letras da Bíblia saltam aos nossos olhos e fazem com que aquilo que já sabíamos pela mente adquira agora uma nova intensidade e assuma uma realidade antes desconhecida.” [ref. 1, pág. 21]. Por exemplo, podemos durante muitos anos ler e conhecer pela mente que “somos templo do Espírito Santo”, sem que isso produza qualquer transformação de vida. Mas quando em nosso espírito recebemos revelação dessa tremenda e poderosa verdade, quando compreendemos a realidade da habitação do Deus Todo-Poderoso e Santo em nós, então tudo muda! Passamos a andar em um novo nível de santidade, no qual cada palavra, cada gesto e cada passo importa, para que manifestemos a luz do Senhor através de nós.
Por si só, a mente não pode ter revelação de Deus; só o nosso espírito tem essa função: 1Co 2.9-14; 2Co 5.16. A revelação ocorre primeiro no espírito (Mc 2.8, At 20.22, Ap 1.10). O Espírito Santo transmite uma verdade ao nosso espírito, e este a comunica à mente, desde que esta esteja quebrantada, calma, sensível e atenta ao espírito. Caso contrário, a alma abafará o espírito e não receberá revelação nenhuma.
E sem revelação no espírito é impossível conhecer e fazer a vontade de Deus. Fazer a nossa vontade, a vontade da alma sem a revelação e direção do espírito, ainda que seja com a melhor das intenções, não somente é inútil como também perigoso. A questão não é “fazer para Deus”, mas sim fazer o que Deus quer que façamos. Aquelas palavras de Jesus em Mt 7.23 infelizmente serão ditas a pessoas que acham que estão servindo a Deus (“em Teu nome”), mas na verdade estavam apenas fazendo a obra pela sua própria mente, isto é, pela carne. Mas aos olhos de Deus isso é iniquidade. O resultado trágico será ouvir as palavras de Jesus: “Nunca vos conheci! Apartai-vos de mim!”.
Portanto, devemos buscar e pedir a Deus o conhecimento espiritual que vem através desse processo de revelação, o qual sempre começa pela intuição divina no espírito e em seguida ilumina e renova a mente de uma alma quebrantada diante de Deus.
Entendendo nossa natureza carnal.  Quando nascemos de novo pela fé em Cristo, nosso espírito foi imediatamente regenerado e definitivamente capacitado, com todo poder e autoridade para assumir a direção da nossa nova vida. Mas nossa alma, não! Nela ainda habita a natureza pecaminosa de Adão, além da herança acumulada pelo “velho eu” durante toda uma vida. As feridas e deformações da alma causadas pelas experiências da velha criatura podem ser curadas e restauradas pela Palavra de Deus e pelo Espírito Santo (de fato, a maioria delas fica na cruz, quando nos convertemos ao Senhor Jesus), mas é importante entender que nossa natureza carnal não pode ser “expulsa”! Se isso não fosse verdade, não haveria necessidade de a Palavra nos exortar a crescer e viver em santidade. Mesmo o mais consagrado servo de Deus está sujeito “às mesmas paixões” de todo ser humano (At 14.15; Tg 5.17) e deve continuamente mortificar sua natureza carnal, pelo espírito (Rm 8.13). Pois a  natureza carnal da alma resistirá sempre contra o espírito.
Esta é uma guerra diária, cujo campo de batalha ocorre na mente (mente carnal vs. mente de Cristo) e na vontade (vontade do ego vs. vontade de Deus): Rm 7.22-23, Gl 5.17, 1Pe 2.11. O resultado de cada batalha faz a diferença entre ser um crente carnal ou um crente espiritual. Ser carnal não significa (necessariamente) pecar, porque mesmo o servo de Deus mais consagrado peca (1Jo 1.10). Também não significa andar em pecado, porque quem vive no pecado ainda nem mesmo é convertido (1Jo 3.9).
O crente carnal é aquele que sinceramente tenta conhecer e fazer a vontade de Deus, mas o faz exercitando sua alma, independentemente do espírito! Ao não buscar a transformação da alma pela Palavra e pelo tratamento do Espírito Santo, o crente carnal tende a seguir aquela função da alma mais predominante em seu caráter problemático e não tratado, e isso dá origem a algumas “categorias” de carnalidade:
O carnal emotivo (governado pelas emoções). Se sente fortes arrepios consegue fazer a obra de Deus, mas se as emoções se vão, perde o ânimo (e se justifica dizendo: “Não estou sentindo”).
O carnal intelectual (governado pela mente). Considera-se muito sábio a seus próprios olhos. Tende a ser extremamente crítico. Racionaliza e evita as coisas sobrenaturais (e se justifica dizendo: “Não sou infantil”).
O carnal volitivo (governado pela vontade). É o crente “oba-oba”. Está sempre aberto a novidades, mas não tem perseverança: quando passa a empolgação deixa tudo de lado (e se justifica dizendo: “Deus não quer sacrifício”).
Embora os comportamentos acima sejam diferentes, há um ponto comum entre eles, que é a marca registrada da carnalidade: a busca da gratificação do ego. O que motiva todo crente carnal é que o seu “eu” (o seu “reizinho interno”) seja reconhecido, elogiado e exaltado. Quando isso não acontece, ele perde a motivação e até entra em crise.
Para nos tornarmos crentes espirituais, é preciso antes receber revelação sobre a total incapacidade de a carne gerar qualquer fruto para Deus (Is 64.6). Todo fruto da carne é fruto podre. Paulo era um homem de alta posição social e com muitos recursos intelectuais, mas renunciou a tudo isso para poder “andar no espírito” (Fp 3.4-8). Como veremos em mais detalhe adiante no curso, o tratamento para a carne é a cruz (Gl 2.20, 5.24). Somente a cruz é suficientemente poderosa para expulsar aquele “reizinho” carnal do seu pequeno palácio e entronizar Cristo em seu lugar!

O “mecanismo da carne”. Já vimos que a natureza carnal (alma + corpo afetados pela queda adâmica) continua latente em nós, mesmo após a conversão. Ainda que a carne tenha sido enviada à cruz e esteja mortificada pelo espírito, ela sempre estará pronta a “ressurgir”. De fato, dos três inimigos que temos (Satanás, o mundo e a carne), a carne é o mais poderoso, pois nossa própria concupiscência pode nos levar a pecar (Tg 1.14-15). Usando como referência 2Sm 11, veja como funcionam os quatro passos do “mecanismo carnal”:
Os sentidos trazem uma informação externa, normalmente através da visão (“… viu do terraço a uma mulher…”).
A informação desperta um instinto (“…que se estava banhando…”). Nesse exemplo, a nudez despertou o instinto sexual. Até aqui, “tudo bem”: Davi poderia ter simplesmente desviado os olhos e bloqueado qualquer pensamento impuro (que tal pegar a harpa e entoar um belo salmo?)
A mente carnal processa os dados e os transforma em desejo ou tentação (“… e era esta mulher mui formosa à vista…”). As coisas começam a se complicar… Mas Davi ainda tinha todas as condições para resistir à tentação (1Co 10.13), pois sendo ele “um homem segundo o coração de Deus”, o Espírito Santo certamente falou em sua consciência, procurando impedi-lo de pecar. Entretanto, nesse momento tudo dependia da decisão que Davi tomaria em sua alma.
A concupiscência da carne aceita a tentação e a transforma em intenção do coração, que já é  pecado (“e perguntou, …e enviou mensageiros, …e a mandou trazer, …”). A decisão foi tomada no coração; o pecado já havia sido concebido, antes mesmo de deitar-se com aquela mulher!
Como evitar o pecado, e o que fazer se cairmos. Como antídoto para o mecanismo da carne, precisamos estar alertas e sensíveis ao alarma que o Espírito Santo vai disparar em nossa consciência, quando chegarmos ao “passo 3” explicado acima. Precisamos, então, bloquear o pecado na fonte. Isso implica dois movimentos:
a) Com firmeza e serenidade, interromper e rejeitar o pensamento pecaminoso, não deixando que sejam desenvolvidas imagens impuras em nossa mente, e
b) Imediatamente, voltar-se para Deus, no espírito, orando e refugiando-se no Senhor, suplicando-Lhe que não nos deixe cair em tentação.
Quanto mais atrasarmos estes dois movimentos, mais a mente carnal vai ganhando espaço, e o nível de tentação aumentará, ficando mais difícil resistir. Mas se praticarmos isso já no primeiro olhar, primeiro pensamento ou primeira imagem mental, será muito mais fácil encontrar graça para continuar caminhando em santidade diante do Senhor. Instantes depois, constataremos que a tentação foi vencida, e que nosso coração e mente continuam puros.  Portanto, devemos ser absolutos em obedecer a nossa consciência: sempre que ela recusar algo, devemos parar imediatamente!
Porque “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). O pecado entristece o Espírito Santo, ofende o Pai Celestial e trai o Senhor Jesus. O pecado anestesia o espírito e embrutece a alma. E se alguém se “acostuma” com ele, poderá se desviar dos caminhos do Senhor e lentamente iniciar um perigoso processo de apostasia pessoal. Ou então, poderá tentar manter uma aparência de santidade, passando a viver uma religiosidade hipócrita que causa náuseas a Deus (Mt 23.13-33).
Mas se eventualmente cairmos em pecado, devemos atender ao apelo de arrependimento que o Espírito Santo gerará em nosso espírito, confessando imediatamente o pecado a Deus e confiando no perdão que a Sua Palavra garante (1Jo 1.9). A partir daí, não devemos aceitar qualquer acusação do inimigo em nossa mente, pois Deus já nos perdoou o pecado e não se lembra mais dele (Jr 31.34; Hb 8.12, 10.17). E mesmo que sejamos infiéis por um algum tempo, e um certo tipo de pecado se torne repetitivo em nossa vida, ainda assim podemos confiar que Deus jamais desiste de nós (Is 49.15; 2Tm 2.13; Jo 6.37). Nesse caso devemos buscar ajuda de um irmão confiável (seu líder, discipulador ou pastor), crendo na promessa de que “se confessarmos os nossos pecados uns aos outros, seremos curados” (Tg 5.16).

Entendendo a ação do inimigo. O objetivo do inimigo é destruir a criação máxima de Deus: você, ovelha do Senhor! (Jo 10.10a). Para atingir tal objetivo, sua estratégia é o engano, induzindo o homem a pecar (2Co 11.3, 2Jo 1.7). E para concretizar essa estratégia ele faz uso de duas táticas: a) ataques diretos à mente, e b) ataques indiretos usando funções do corpo (para “acelerar” o mecanismo da carne exposto anteriormente). Satanás conhece esse mecanismo muito bem (até mais do que o próprio crente desavisado) e procura “dar um empurrãozinho” para que caiamos nesse laço:

A tática de ataque do inimigo, usando funções do nosso corpo. Gn 3.6 ilustra bem a tática de Satanás usar o “mecanismo da carne”:

  • Chamar a atenção, pelos sentidos. “A mulher viu que a árvore era bonita…”.
  • Despertar um instinto. “… e que suas frutas eram boas de se comer”.
  • Produzir um desejo (tentação). “E ela pensou como seria bom ter entendimento.”
  • Concretizar uma intenção (pecado). “Aí apanhou uma fruta e comeu; …”
Para evitar essa armadilha, o corpo deve ser disciplinado, isto é, submetido à vontade da alma, a qual, por sua vez, deve ser transformada pelo Espírito, de modo a não dar ocasião à carne.

Disciplinando o corpo. Disciplinar o corpo envolve três “frentes de batalha”:
Vigiar para que os instintos do corpo não sejam usados pela carne e pelo inimigo para nos levar ao pecado(Sl 101.3a, Rm 6.13). Precisamos estar atentos a todo instante sobre o que o que é que estamos fazendo com o nosso corpo, especialmente sobre o quê fixamos os nossos olhos (Mt 6.22-23), discernindo se isso traz luz ou trevas para dentro de nós. Por exemplo, se um homem deixar seus olhos se fixarem sobre uma mulher que se veste sensualmente, isso certamente será uma brecha para que a mente comece a desenvolver pensamentos impuros e formar imagens obscenas. O mesmo pode acontecer vendo televisão, assistindo a um filme, lendo uma revista, vendo um “outdoor” na rua, acessando a Internet, etc.
Manter o corpo em boas condições de saúde. Por ignorância da Palavra, no meio cristão é popular o conceito equivocado de que a “carne” (referindo-se ao corpo) para nada serve. Isso leva a um completo desleixo em relação ao corpo, frequentemente envolvendo o consumo excessivo de alimentos e a falta de exercícios físicos, com toda uma série de consequências negativas para a saúde. Mas o fato de que o nosso corpo é templo do Espírito Santo e que precisamos dele para poder servir a Deus já deveriam ser motivos mais do que suficientes para cuidar da nossa saúde com zelo, alimentando-nos de maneira sadia e fazendo algum tipo de atividade física ou esporte regularmente.
Submeter o corpo no serviço ao Reino de Deus. Isso requer força de vontade, ou seja, o domínio da alma sobre o corpo, sob a direção do espírito. Implica a prática de disciplinas espirituais, entre as quais as mais importantes são o devocional diário (oração e leitura da Palavra) e o jejum. Tais disciplinas, além de mortificarem a natureza carnal, também fortalecem o espírito. E então teremos poder espiritual para nos dedicarmos com afinco em servir a Deus e ao próximo. Mas também devemos evitar o extremo oposto, caindo no ativismo religioso a ponto de prejudicar a saúde.
Cabe aqui uma nota importante: a disciplina do corpo (incluindo o jejum) não é algo que fazemos para Deus! Não é para adquirirmos bênçãos de Deus e muito menos para sermos aceitos por Ele (isso seria legalismo ou ascetismo). Qualquer tentativa legalista de usar o sacrifício físico para obter de Deus graça ou justificação não é apenas inútil, como também herético. O legalismo anula a graça de Deus (Gl 5.4).
Para quê, então, devemos disciplinar o corpo? O corpo deve ser disciplinado primeiramente para nós mesmos, de modo a melhor servirmos a Deus, apresentando-Lhe nosso corpo de maneira santa (Rm 12.1), e em segundo lugar para os outros, de modo a servirmos de exemplo e engrandecermos a Cristo em nosso corpo (Fp 1.20). Mas como já mencionamos, o pré-requisito para disciplinar o corpo é ter uma alma transformada.

A absoluta necessidade de transformação da alma
:
  • Somente o espírito pode gerar vida espiritual (2Co 3.6b).
  • O espírito não se manifesta independentemente, mas somente através da alma.
  • A alma não se manifesta independentemente, mas somente através do corpo.
Portanto, se a alma não estiver transformada, quebrantada e submetida ao espírito, jamais poderemos produzir verdadeiros frutos espirituais. Não será possível trazer uma pregação ungida, com revelação da Palavra de acordo com a necessidade de quem nos ouve; não poderemos salvar e transformar vidas, ministrando e tocando o espírito das pessoas ao nosso redor; não haverá manifestação de poder espiritual, para glória de Deus e edificação da igreja. Ser um crente espiritual é operar nos outros a vontade de Deus, através de uma alma quebrantada e submissa à direção do espírito, e de um corpo submisso à disciplina da alma.

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