“Eu fui à Floresta porque queria viver livre. Eu queria viver profundamente, e sugar a própria essência da vida... expurgar tudo o que não fosse vida; e não, ao morrer, descobrir que não havia vivido”. (Henry David Thoreau)
A perversão é uma das patologias mais recorrentes em pessoas que estão em aluma posição de poder. A grande maioria deles busca esta posição para legitimar a perversão como algo “natural” e inerente a posição que ocupam. Fazendo isso, também formalizam a condição das vítimas. Para a psicanálise, o perverso é manipulador, impulsivo, sedutor e se sente superior. A Mentiras e transgressão das normas fazem parte da rotina e não há sentimentos de culpa. Os perversos desejam poder e podem adotar práticas sexuais entendidas como "desvios". (https://br.mundopsicologos.com/artigos/o-que-e-perversao-e-quais-os-sintomas). Para atuar a manipulação o perverso utiliza-se de vários recursos, sua posição social, sua desenvoltura e carisma nas interações sociais, que lhe proporcionam ferramentas distintas para manterem as vítimas na condição de vítimas. Neste artigo, abordo uma técnica de manipulação que é muto comum, e é usada pelo perverso em qualquer contexto, seja gestor, figura de autoridade, esposo, etc, independente do gênero. Essa técnica de manipulação é o Gaslighting, definido como: “Uma forma de abuso psicológico no qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas para favorecer o abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade. O termo vem de 1938, da peça Gas Light, em que um marido tenta deixar sua mulher louca diminuindo todas as luzes (que funcionavam a gás) da sua casa e então negando que a luz tenha mudado quando a sua esposa aponta a diferença. É uma forma muito eficaz de abuso emocional que faz com que a vítima questione seus próprios sentimentos, instintos e sanidade, o que dá ao parceiro abusivo muito poder. Uma vez que o parceiro abusivo tenha conseguido fazer a vítima perder a habilidade de confiar em suas próprias percepções, passa a ser muito mais provável que ela permaneça no relacionamento abusivo” (https://www.geledes.org.br/14-sinais-de-que-voce-e-vitima-de-abuso-psicologico-o-gaslighting/). Esta técnica de manipulação esconde-se nos relacionamentos abusivos, nas relações trabalhistas e familiares. A vítima vai perdendo a capacidade de interpretar a realidade dos fatos e de seus sentimentos em razão de acentuação feita pelo abusador de sobrepor sua perspectiva sobre a vítima. Nos relacionamentos abusivos, a vítimas se sente impotente para falar de suas queixas sobre a relação, manifesta gratidão ao abusador por ele (a) tolerar alguém tão confuso (a) e instável, tendo necessidade de que o abusador sempre lhe dê a perspectiva correta das coisas e quais decisões tomar. Demonstra apatia nos encontros familiares ou com amigos, tem receio de falar de si mesma (o) ou de emitir opiniões sobre fatos comuns. Desenvolve um comportamento bastante servil, fazendo sozinha muitas tarefas domésticas e outras atividades para membros da família, as vezes até a exaustão, entendendo que essa é a melhor maneira de não ser rejeitada (o). Nas relações trabalhistas, a vítima (colaborador/funcionário) é levado a crer que, recebe uma grande concessão feita pelo gestor, por mantê-lo (a) no emprego, uma vez que ele sempre é alvo de críticas em suas competências por parte do gestor, nunca apresentando resultados de maneira esperada ou que surpreenda, sendo apontado como estando abaixo da média. Dessa forma, este colaborador/vítima duvida da possibilidade de recolocação profissional caso saia daquele emprego, tendo crises de desespero ao pensar em ser demitido (a) e contentando-se com seu salário e falta de perspectiva de ascensão, as vezes trabalhando além de sua carga horária sem nenhuma remuneração.
Nas relações familiares há uma diversidade de ocorrências, principalmente quando se permite que um membro da família seja elevado a condição de “modelo”, ao criticar, menosprezar e expor algum membro da família. As vítimas deste tipo de manipulação podem estar num estágio tão avançado, que ao serem notificadas do abuso em que vivem acham que não é verdade, justamente pelo “sucesso” obtido pelo abusador em convencê-las de suas perspectivas erradas sobre a realidade dos fatos. Algumas tentativas da vítima em impor seu ponto de vista, acabam por desencadear (em vários casos), violência física, a demissão que era tão temida, e o isolamento familiar, dada a capacidade do abusador (perverso) em manipular os demais membros da família. A saída desse círculo doentio só acontece com muita determinação da vítima, confiando nas sugestões de quem quer realmente lhe ajudar, sendo orientada (o) a buscar ajuda profissional. A busca de ajuda profissional torna-se uma dos melhores recursos de reestruturação emocional, retomada da auto-estima e construção de empoderamento. A adesão da pessoa (que antes era vítima) a terapia proporciona-lhe coragem para testar suas perspectivas sobre a vida, devolvendo-lhe a certeza de que é competente para decidir o melhor itinerário para sua vida, manifestando sua opinião sobre fatos e principalmente aquilo que lhe desagrada. Caso você se veja na situação descrita acima, sem perspectivas de mudança que lhe favoreça, seria muito saudável para sua vida emocional e profissional que você busque ajuda profissional. Ainda há tempo para você viver o melhor que há para você.
Amauri Trezza Martins - Psicólogo Clínico - amauri3zza@yahoo.com.br
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