A Reforma na França
A Reforma se espalhou pela França, principalmente devido a propagação dos escritos de João Calvino. Este, de Genebra, prestava grande apoio aos protestantes franceses, ou “huguenotes, como eram chamados. Eles eram perseguidos e reuniam-se de maneira clandestina. Ainda assim, a Reforma alcançou pessoas de todas as classes sociais, como Margarida de Angouleme, esposa de Henrique, rei de Navarra e o almirante Gaspard de Chantillon Coligny.
A colônia francesa no Rio de Janeiro
Villegaignon era um militar de grande reputação na França, devido a sua participação em diversas campanhas em outros territórios. Mas encontrou-se insatisfeito com seu próprio país após aborrecer-se com uma derrota numa campanha e discórdias com outros militares. Foi quando ouviu falar das recém descobertas terras brasileiras e teve a ideia de realizar uma expedição para lá, a fim de estabelecer uma colônia. Suas motivações para isso eram bastante controversas, o que pode ser visto no fato de que, sendo ele membro de uma ordem católica, buscou o apoio de um protestante, o almirante Gaspard de Coligny. Este era o único que poderia financiar a viagem.
Ao apresentar ao almirante Coligny a ideia da expedição, Villegaignon disse que seu objetivo era estabelecer um refúgio aos protestantes perseguidos na França. Assim, conseguiu por meio do almirante, o apoio do rei, que concedeu recursos e permissão para recrutar colonos. Estes incluíam tanto católicos como protestantes.
Em 1555, após uma viagem sofrida, eles chegaram à Baía de Guanabara. Villegaignon decidiu que se estabeleceriam na ilha hoje chamada de Fiscal, por sua posição estratégica. Fundar uma colônia numa ilha era uma péssima ideia e essa foi uma de suas várias ações que aborreciam os colonos.
O pedido do envio de mais huguenotes
O clima de insatisfação contra Villegaignon aumentava na colônia. Rebeliões estouraram e, a fim de salvar a colônia de se desintegrar, Villegaignon pediu à igreja Reformada em Genebra que enviasse ministros da Palavra de Deus à Guanabara. Em sua carta, dizia que precisava deles para cuidar da igreja e pregar o evangelho aos nativos ali.
Seu desejo foi atendido e, em 10 de março de 1557, um grupo de huguenotes chegou à Guanabara. No início, Villegaignon, mostrou-se simpático para com eles e recebeu-os bem, chegando até a declarar-se como protestante. Mas logo começou a divergir dos huguenotes em relação a diversas questões doutrinárias. Tornou-se um tirano cruel, passou a obrigar seus trabalhadores a efetuarem trabalhos forçados, em condições precárias. Em outubro do mesmo ano, Villegaignon expulsou os protestantes da pequena ilha para o continente devido aos constantes conflitos.
Então, no início de 1558, os missionários decidiram regressar a seu país. Todavia, diante das condições precárias da embarcação, cinco deles decidiram voltar à terra firme: Jacques Le Balleur, Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon e André la Fon. Foram até Villegaignon para pedir-lhe que os recebesse novamente, mas foram acusados pelo comandante de serem traidores e espiões, açoitados e encarcerados em péssimas condições.
Por haver declarado-se inimigo dos cristãos protestantes, e por saber que poderia agradar o rei da França com a morte deles, resolveu interrogá-los sobre sua fé, a fim de condená-los por heresia. Os missionários foram obrigados a descrever sua fé, no prazo de 12 horas, respondendo a uma série de perguntas, sabendo que estavam assinando a própria sentença de morte.
Villegaignon, ao receber o documento, que ficou conhecido como Declaração de Fé de Guanabara, indignou-se muito. Ao ler o documento mandou chamá-los para confirmar se eles concordavam com o que estava escrito ali, e, então, executá-los. Bourdel, Verneuil e Bourdon foram lançados ao mar de um despenhadeiro, o último, após ser enforcado. Os demais foram poupados.
O testemunho dos huguenotes
Essa história pouco conhecida remete à época do nascimento de nosso país. Os missionários huguenotes realizaram aqui o primeiro culto evangélico e escreveram a primeira confissão de fé das Américas. Perseguidos em sua terra natal, aceitaram fazer uma longa viagem sem saber que seriam também perseguidos na colônia. A motivação: o amor à Palavra que havia transformado suas vidas e que desejavam pregar aqui. E assim o fizeram. Entre os colonos, anunciaram o evangelho e muitos se converteram. Realizaram missões entre os índios tupinambás, escrevendo alguns dos primeiros registros sobre eles. Não recriminavam seus costumes, bastante repulsivos para os europeus, nem os condenavam por serem diferentes. Talvez, se tivessem tido mais tempo, pudessem ter realizado um trabalho permanente entre os indígenas. Aqueles missionários, pressionados e sob ameaças, não negaram a fé. Antes, conseguiram declará-la de maneira competente, sem jamais agir com violência contra o ambicioso tirano que os oprimia.
Essa história nos traz reflexões. Aqueles que conhecem verdadeiramente a Palavra de Deus experimentam grande libertação e logo ficam desejosos de anunciá-la aos que não a ouviram, até mesmo nos lugares mais distantes. A Palavra também desperta grande paixão naqueles que a conhecem, levando-os a buscar conhecê-la ainda mais e até mesmo dar a vida por ela. Porque essa é a Palavra de Cristo. A Palavra que precisamos conhecer, amar e anunciar.
Conseguiríamos, como os missionários, descrever nossa fé? Saberíamos explicar e mostrar na Bíblia os pontos mais importantes do evangelho caso fôssemos perguntados? Graças ao Senhor, hoje, Ele tem os dele nesta nação. Precisamos orar por ela e viver de acordo com as Escrituras, conhecê-las e estar claros quanto à nossa esperança (1 Pe 3:15).
Com a valiosíssima contribuição de Matheus Cândido.
Fontes:
Livro “A Tragédia da Guanabara – A História dos Primeiros Mártires do Cristianismo no Brasil” de Jean Crespin.
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