A questão da autoridade em nossos dias está muito desgastada. O tema sofre do uso excessivo e da sua má aplicação. O mau exemplo vem de cima e as bases se rebelam quando são obrigadas a se submeter a códigos de lei e de conduta que as próprias autoridades se incumbem de menosprezar. Este menoscabo é nocivo para todos, pois se instaura um sistema de "bang-bang" em que cada um faz a sua própria lei.
Na vida pública, a questão da autoridade é regulada pelos códigos de conduta e pelos direitos do cidadão. A cidadania está mais valorizada hoje em dia, porém, nem todos conhecem os seus direitos e deles fazem uso. Dentre os direitos do cidadão, por exemplo, está o Direito de intocabilidade do corpo. Quando qualquer autoridade usa de formas de coação, tortura ou tratamentos degradantes para com o cidadão, ela incorre em algo que é preceituado por lei, chamado de abuso de autoridade, passando a estar sujeita às penas previstas.
Na família, vivem-se os dois extremos da questão: frouxidão ou excesso de autoridade. Laissez-faire ou autoritarismo. E com isso, quem sempre sai perdendo são os filhos que se criam sem orientações balizadoras para uma boa conduta social.
A rebeldia dos tempos modernos
Escrevendo a irmãos em Cristo de seu tempo, o Apóstolo Pedro alertou quanto a existência de falsos mestres que, andando segundo a carne, "desprezam as autoridades" (2Pe 2.10). Dá para se perceber que o problema, então, é de longa data. Mas, os mais idosos costumam dizer que "as coisas estão muito mudadas", já não são "como antigamente". Então, isto pode ser um indício de que vivemos dias em que a questão da autoridade sofre do mal do "pouco-caso". Caiu-se num sistema depreciativo da autoridade, e isto tem levado a uma exacerbação deste sentimento em que sofrem as instituições, e a família não fica para trás.
As conquistas sociais forjaram várias gerações de jovens que abraçaram de certa forma um ideal de liberdade. Somem-se a isso os novos ventos de democracia soprados sobre países, que dura e cruelmente, experimentaram, em algum período ao longo do século XX, algum tipo de censura sobre sua democracia. Saiu-se do extremo da repressão para o extremo da liberação. Muitos jovens embarcaram nesta canoa furada do "sigo minha consciência, faço o que me dá prazer" e assim, perdeu-se o controle da situação.
Muitos pais reclamam da rebeldia de seus filhos: crianças que não querem estudar; adolescentes que fogem da escola; jovens e adolescentes que se envolvem com as drogas. Some-se a isso, também, as facilidades para relacionamentos sexuais ilícitos; a influência nociva dos meios de comunicação de massa; dentre outras questões graves de nossos dias. Mas, devemos também olhar o outro lado da moeda, e lembrar do afrouxamento do controle do comportamento dos filhos por parte de pais que não querem provê-los de uma educação responsável. O fato é que filhos-problemas podem revelar a existência de pais-problemas. A psicologia tem mostrado que quando um filho se envereda pelo caminho das drogas, a família já ficou doente antes. Segundo o psicólogo Vicente Parizi, especialista em psicologia transpessoal, "numa família saudável ninguém usa drogas ou abusa do álcool" (Ultimato, nº 282, pág. 14).
Tudo isso leva-nos a compreensão de que vivemos dias difíceis, à semelhança do alerta dado por Paulo à seu filho na fé Timóteo: "Sabe, porém, isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeição natural, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder" (2Tm 3.1-5).
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Como ser pai sem perder a pose
Muitos jovens casam-se hoje em dia sem estarem devidamente preparados para a vida a dois. Como faz falta a figura do conselheiro nupcial! Casam-se para ficarem livres dos pais, para alcançarem uma pretensa independência, para legalizarem uma vida sexual ativa que se vive escondidamente, para tantos fins menos nobres e, no decorrer dos dias é que vão se deparando com as questões mais pertinentes à vida de um casal. Vários destes jovens já entram para o casamento trazendo um filho na barriga ou mesmo já nascido. Como vão educar uma criança se ainda não aprenderam a cuidar de si mesmos? Por conta desta má preparação para a paternidade ou a maternidade, sofre-se uma inadequação a este novo papel social que se tem que assumir quando chega uma criança no lar.
E, como a corda sempre arrebenta do lado do mais fraco, muitas vezes são as crianças que sofrem nas mãos desses pais. Pais embrutecidos pelos problemas da vida, que descarregam sobre a inocente criança suas frustrações e seus recalques. Diante de uma situação destas, vale o conselho de Paulo: "E vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na disciplina e instrução do Senhor" (Ef 6.4 - ECA).
Nesta advertência paulina, vamos encontrar o reconhecimento de uma situação muito comum nos lares: Há pais que são mestres em provocar a ira a seus filhos. Como fazem isto? Vivendo de forma a não se dar ao respeito, a não preservar a sua condição de pai e a autoridade inerente ao seu posto. Quando se perde as rédeas da disciplina familiar, seja porque a rebeldia dos filhos extrapolou os limites do aceitável, seja porque os próprios pais não são exemplos a serem seguidos, então fica difícil de se obter qualquer resultado positivo na vida de muitos adolescentes e jovens.
É comum vermos isso nas igrejas locais. Muitos pais cobram da Igreja um resultado para a vida dos seus filhos, quando este resultado deveria ter sido conquistado lá atrás, quando eles eram menores, e viam nos pais seus heróis, os quais imitavam e tinham orgulho de chamar de pai e de mãe. Mas depois que começaram a perceber que os pais não eram tão heróis assim, nem tão honestos e nem tão educados e nem tão crentes como a fachada que ostentavam dizia ser, então se cai à máscara e a farsa passa a não ser mais funcional.
Provocar a ira aos filhos pode ser objetiva como: responder mal; não dar a atenção requerida; não respeitar o cônjuge e assim despertar a revolta; dentre outros casos, mas, pode ser também indireta como: ser irresponsável e não contribuir para a boa formação do caráter e do futuro do filho, ou mesmo prejudicar seus sonhos por meio de comportamentos inadequados.
Ser pai não é sinônimo de sisudez, endurecimento, dura cerviz, formalidade. Pode-se ser um bom pai e ainda assim ser amigo, legal, leal, brincalhão, recreativo. Pode-se e deve-se exercer a disciplina com autoridade e nem por isso se perderá a simpatia e a amizade do filho. Toda criança sabe quando erra e quando está a merecer um castigo. Saber aplicá-lo na dose certa, na hora certa e com amor, será muito benéfico para a formação de seu caráter. Como diz o provérbio: "O que retém a vara odeia a seu filho, mas o que o ama a seu tempo o disciplina" (Pv 13.24). E o filho sabe disso.
A necessidade de harmonia entre marido e mulher
Rompe-se a teia de autoridade que deve ligar os relacionamentos familiares, principalmente entre pais e filhos, quando o casal já não mais sabe lidar com sabedoria e amor entre si. Esta é a grande questão! Como um casal vai exercer autoridade sobre os filhos e como vai cobrar deles um certo tipo de comportamento em função da obediência que lhe é devida (Ef 6.1) se os próprios pais vivem às turras, agindo de maneira inconveniente, inidônea? Fica difícil; impossível até!
Assim sendo, para que a autoridade deslize fluentemente pelo seu leito de realização é preciso que, primeiramente, o casal esteja desfrutando de um relacionamento sadio, ordeiro, dinâmico e frutífero. Esta harmonia entre marido e mulher será de grande valor para os filhos, pois estes aplicarão às suas vidas o exemplo prático dado pelos pais. Aliás, ser exemplo é questão sine qua non no lar. Sem o exemplo pessoal não formamos sadiamente o caráter de nossos filhos. Não podemos errar neste ponto sob risco de por a perder todo o futuro moral de nossos filhos. E, quando e se isto ocorrer, já não mais adianta chorar o leite derramado. Como diz o ditado: "É mais fácil construir um menino do que remendar um homem!" Então, enquanto se tem tempo, e possibilidade, saibamos investir seriamente na formação dos filhos.
O casal deve construir um relacionamento ordeiro, fundamentado no amor (Ef 5.22-25); entendendo que o casamento é um favor divino (Jr 29.6); e que deve ser digno de toda honra, bem como manter-se sem qualquer mancha que possa desmerecê-lo ou desmantelá-lo (Hb 13.4). Na construção de uma vida em paz, amor e harmonia, o casal estará criando condições para levar os filhos a investirem também na busca de uma vida sincera, honesta, respeitável, com cumprimento de seus deveres e em respeito aos pais e demais autoridades.
Aplicações para a vida
Vamos concluir nosso estudo sobre a crise de autoridade, reportando-nos ao modelo bíblico de autoridade familiar e em que bases ela deve ser estabelecida.
1ª) A Bíblia reconhece a autoridade do pai como líder da família - Não podemos fugir desta constatação bíblica. A figura do pai como peça chave no exercício da autoridade está bem clara na Bíblia e, se as famílias experimentam muitos problemas hoje em dia, isto também tem a ver com pais que não assumem o seu papel e deixam com as mães (verdadeiras heroínas) esta tarefa (Ef 5.22-6.4).
2ª) A autoridade do pai é compartilhada com a esposa - Ter a prevalência da autoridade no lar não significa despotismo por parte dos homens. O exercício da autoridade está mais para o exemplo de conduta e proceder do que para a aplicação da vara. Assim sendo que, na visão moderna de parceria que deve existir no casamento, o casal deve agir em conjunto, harmonicamente, no exercício da autoridade sobre os filhos.
3ª) A autoridade que funciona é aquela que se exerce na base do amor - O amor é a base da vida. Sem ele, nada funciona como deveria. Não seria diferente numa religião onde a maior característica de seu Deus é "ser amor" (1Jo 4.8).
4ª) Toda autoridade precisa ser legitimada pelas Escrituras - Os pais precisam aprender a aplicar e exercer uma autoridade com base nos princípios bíblicos. Quando se vive e se recorre a autoridade da Palavra para a aplicação da disciplina os resultados sempre são infalíveis. Possui um preço, o preço da fidelidade. Quem for sábio que o pague e verá os lucros futuros na vida de filhos prósperos, dedicados e fiéis servos do Senhor. A Escritura é proveitosa para muita coisa, inclusive para: ensinar, repreender, corrigir, instruir em justiça (2Tm 3.16).
Texto extraído do site: webartigos.com
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