Como cidadãos conscientes, os discípulos de Jesus devem participar da vida política do seu município com a certeza de estarem contribuindo diante de Deus com o dever cívico, moral e espíritual.
Na medida que nos aproximamos das eleições municipais, cabe refletir sobre o estado em que se encontra nossa cidade: o que de fato foi cumprido daquilo que foi prometido e quais as propostas factíveis dos candidatos que se apresentam como oposição.
Além dos postulados políticos que norteiam a plataforma de governo dos elegíveis, é mister que se conheça um pouco da vida pessoal, da vida familiar, do caráter e da conduta de cada candidato fora do período de eleições, visto que alguns se tornam artistas do engano na campanha eleitoral.
Ficha limpa, respeito pela vida, patrimônio compatível com o exercício honesto da profissão, temor a Deus, foco no social e propostas concretas são características que podemos inteligentemente buscar naquele que deve merecer o nosso voto.
É desastroso pensar que o nosso voto estaria vinculado ao puro parentesco, lealdade familiar, conveniências pessoais ou classistas. O voto do discípulo de Cristo deve ser ético, digno e livre de manipulação, pautado em princípios que ousamos sugerir como os 10 mandamentos do voto:
I. Não transfira nem negocie o seu voto. Com ele o cristão exerce sua cidadania de forma consciente e reflete a sua compreensão dos valores éticos e morais do cristianismo, além de contribuir para que as reais necessidades da comunidade sejam supridas;
II. Não prostitua a sua consciência política. Não negue a sua maneira de ver a realidade do seu bairro e município, mesmo que um líder político ou eclesiástico tente conduzir o seu voto noutra direção;
III. Pastores, sacerdotes e líderes têm a obrigação de orientar os fiéis sobre como votar com ética e com discernimento. No entanto, a bem de sua credibilidade, a liderança religiosa deverá evitar que o processo de elucidação se transforme num projeto de manipulação e indução político-partidária;
IV. Líderes religiosos devem ser lúcidos e democráticos. Portanto, melhor do que indicar em quem a comunidade deve votar é organizar debates multipartidários, nos quais, simultânea ou alternadamente, representantes das correntes partidárias possam ser ouvidos sem preconceitos;
V. A diversidade social, econômica e ideológica que caracteriza a igreja cristã no Brasil impõe que não sejam conduzidos processos de apoio a candidatos ou partidos a partir do pulpito da igreja, sob pena de constranger os eleitores (o que é criminoso) além de dividir a comunidade;
VI. Nenhum cristão deve se sentir obrigado a votar em um candidato pelo simples fato de ele se confessar cristão evangélico. Antes disso, os evangélicos devem discernir se os candidatos ditos cristãos são pessoas lúcidas e comprometidas com as causas de justiça e da verdade. E mais: é fundamental que o candidato evangélico queira se eleger para propósitos maiores do que apenas defender os interesses imediatos de um grupo religioso ou de uma denominação evangélica. É óbvio que a igreja tem interesses que passam também pela dimensão político-institucional. Todavia, é mesquinho e pequeno demais pretender eleger alguém apenas para defender interesses restritos às causas temporais da igreja. Um político de fé evangélica tem que ser, sobretudo, um evangélico na política e não apenas um “despachante” de igrejas. Ao defender os direitos universais do homem, da democracia, do estado leigo, entre outras conquistas, o cristão estará defendendo a Igreja.
VII. Porque os fins não justificam os meios, o eleitor cristão jamais deve aceitar a desculpa de que um evangélico político votou de determinada maneira porque obteve a promessa de que, assim fazendo, conseguiria alguns benefícios para a igreja, sejam rádios, concessões de TV, terrenos para templos, linhas de crédito bancário, propriedades, tratamento especial perante a lei ou outros “trocos”, ainda que menores. Conquanto todos assumamos que nos bastidores da política haja acordos e composições de interesse, não se pode, entretanto, admitir que tais “acertos” impliquem na prostituição da consciência cristã, mesmo que a “recompensa” seja, aparentemente, muito boa para a expansão da causa evangélica. Jesus Cristo não aceitou ganhar os “reinos deste mundo” por quaisquer meios, Ele preferiu o caminho da cruz.
VIII. O voto para prefeito ou vereador deve, sobretudo, basear-se em programas de governo, e no conjunto das forças partidárias por detrás de tais candidaturas que, no Brasil, são, em extremo, determinantes; não em função de “boatos” do tipo: “O candidato tal é ateu”; ou: “O fulano vai fechar as igrejas”; ou: “O sicrano não vai dar nada para os evangélicos”; ou ainda: “O beltrano é bom porque dará muito para os evangélicos”. É bom saber que a Constituição do país não dá a quem quer que seja o poder de limitar a liberdade religiosa de qualquer grupo. Além disso, é válido observar que aqueles que espalham tais boatos, quase sempre, têm a intenção de induzir os votos dos eleitores assustados e impressionados, na direção de um candidato com o qual estejam comprometidos.
IX. Sempre que um eleitor evangélico estiver diante de um impasse do tipo: “o candidato evangélico é ótimo, mas seu partido não é o que eu gosto”, é compreensível que dê um “voto de confiança” a esse irmão na fé, desde que ele tenha as qualificações para o cargo. Entretanto, é de bom alvitre considerar que ninguém atua sozinho, por melhor que seja o irmão, em questão, ele dificilmente transcenderá a agremiação política de que é membro, ou as forças políticas que o apoiem.
X. Nenhum eleitor evangélico deve se sentir culpado por ter opinião política diferente da de seu pastor ou líder espiritual. O pastor deve ser obedecido em tudo aquilo que ensina sobre a Palavra de Deus, de acordo com ela. No entanto, no âmbito político-partidário, a opinião do pastor deve ser ouvida apenas como a palavra de um cidadão, e não como uma profecia divina
Este decálogo, adaptado das sugestões da AEVB (Associação Evangélica Brasileira), renova aesperança de uma participação cidadã responsável e livre de manipulação, para o bem da nossa cidade e para o avanço do Reino de Deus aqui e agora.
Vote consciente.
1 Coríntios 10:31 “…Tudo para a glória de Deus”